ANDRÉ DE SOUZA
A revelação da médica cubana Ramona Matos Rodríguez de que só recebia US$ 1 mil para trabalhar no Mais Médicos indica que o governo de Cuba vai poder ficar com a maior fatia dos recursos destinados ao programa. A vinda de profissionais cubanos ao Brasil vai representar um reforço de pelo menos R$ 713 milhões de reais por ano ao caixa do governo da ilha. Isso representa 77,01% do repasse que o governo brasileiro faz para trazer os médicos de Cuba. O restante — cerca de R$ 212,85 milhões por ano — fica com os profissionais.
Para chegar a essa cifra, o GLOBO considerou o valor pago por profissional (R$ 10.457,49) e o número de médicos cubanos que já estão trabalhando ou vão começar a atuar no início de março. São 7.378, dos quais 5.378 mil já estão atendendo a população e o restante ainda precisa passar por um curso, ao final do qual serão avaliados para saber se estão aptos ao trabalho. Sem contar ajuda de custo, esses médicos representam um gasto de R$ 77,16 milhões por mês ou R$ 925,86 milhões por ano ao governo brasileiro.
Os médicos cubanos ficam com US$ 1.000, dos quais US$ 400 são depositados numa conta bancária no Brasil e o restante vai para uma conta em Cuba. Considerando a taxa de câmbio informada ontem no site do Banco Central (US$ 1 = R$ 2,4041), os profissionais cubanos ficam com R$ 2.404 cada. Somando todos os 7.378 médicos, isso dá R$ 17,74 milhões por mês ou R$ 212,85 milhões por ano.
CUSTO EQUIVALENTE À SAÚDE BUCAL
Os médicos cubanos vêm ao Brasil por meio de uma parceria firmada entre os governo dos dois países intermediada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Os profissionais de outros países participantes do Mais Médicos vêm ao Brasil de outra forma: eles fazem uma seleção individual e ficam com todo o valor, sem precisar repassar nenhum centavo para seus governos.
Ao todo, 6.658 profissionais já trabalham no Brasil por meio do Mais Médicos, dos quais 5.378 (80,78%) são cubanos. Outros 2.891 profissionais já foram selecionados, dos quais 2.000 (69,18%) também são cubanos. Somando os dois grupos, são 9.549 médicos. A meta do governo é preencher 13 mil postos até o fim de março.
O dinheiro embolsado pelo governo cubano se aproxima ao que é gasto pelo Ministério da Saúde com saúde bucal. Em novembro de 2013, a pasta anunciou que já tinha investido no ano passado R$ 803 milhões, por meio do programa Brasil Sorridente, em recursos destinados às equipes de saúde bucal (ESBs) e aos centros de especialidades odontológicas (CEOs).
Incomodado com a atitude da médica Ramona, que abandonou o programa federal, o deputado Zé Geraldo (PTPA) reagiu atacando a vida pessoal da cubana. Em discurso no plenário, o parlamentar citou uma nota assinada pelo presidente do Conselho Municipal de Saúde de Pacajá, Valdir Pereira da Silva, na qual Ramona é apontada como uma pessoa que ingere bebida alcoólica e que tentava levar um homem para seu quarto na casa onde morava na cidade paraense. O texto diz também que Ramona se indispôs com enfermeiros e funcionários do hospital onde trabalhava.
— Quero dizer que essa médica foi é tarde — disse Zé Geraldo em seu discurso.