Para o governo federal, será inevitável a deflagração de uma nova onda de manifestações pelo Brasil durante o Mundial. A fim de evitar que atos de violência manchem a imagem do país e garantir a segurança da multidão de estrangeiros prevista para desembarcar nos aeroportos das 12 cidades-sede em junho, o Planalto monta estratégias para amortecer o impacto das mobilizações populares, ao mesmo tempo em que tenta abrir o diálogo com os grupos descontentes com os gastos previstos para a Copa. Até mesmo um gabinete de crise informal já foi criado para monitorar as movimentações.
Enquanto se empenha em realizar a "copa das copas", como a presidente Dilma Rousseff prometeu em sua conta no Twitter, o governo federal é assombrado pelo slogan "não vai ter copa", espalhado por militantes nas redes sociais. A possibilidade de que o Mundial seja manchado pela eclosão de protestos generalizados e violentos virou o grande temor do Planalto, que se mobiliza para fazer frente à ameaça.
Sinais do que pode vir pela frente não faltam. No sábado, a área central de São Paulo foi convulsionada por um protesto que tinha como alvo específico a realização do Mundial promovido pela Fifa. O saldo foi de quebra-quebra, 135 detidos e um jovem baleado pela polícia.
Informada sobre o protesto durante uma escala em Lisboa, Dilma convocou uma reunião para hoje, logo depois de sua chegada de Cuba, para tratar da estratégia do governo. Foram chamados os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Celso Amorim (Defesa) e Aldo Rebelo (Esportes). Amorim declarou que a presidente já havia encomendado um programa de coordenação das entidades de segurança:
– Não só os ministérios da Justiça e da Defesa, mas também as autoridades estaduais, as polícias civil e militar, que farão o policiamento direto nas ruas. Não são absolutamente os militares (das Forças Armadas) que farão isso. Eles estarão ali para uma emergência, para proteger estruturas críticas, como as usinas hidrelétricas, como uma central nuclear.
A perspectiva é de que as manifestações só aumentem, à medida que se aproxima o 12 junho, data de início do Mundial. Para o Planalto, movimentos com reivindicações pendentes ou que tentam dar continuidade às manifestações populares do ano passado não vão desperdiçar a chance de ganhar visibilidade em um momento no qual os olhos do mundo – na forma de milhares de jornalistas estrangeiros – estarão pousados sobre o Brasil.
Um ministro de Dilma ouvido pela Agência Estado revelou que foi montado um gabinete de crise informal e permanente no governo federal. A presidente recebe informes reservados diários sobre as movimentações. Uma das estratégias do Planalto é desamarrar nós sociais, passíveis de gerar descontentamento.
Na semana passada, em visita a Porto Alegre, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, reconheceu que o tema virou prioridade no Planalto. Ele afirmou que o governo aposta no diálogo:
– Entendemos que em um país democrático é impossível haver um evento dessa magnitude sem que setores que tenham discordância ou que se contraponham ao evento não se manifestem. Vamos procurar abrir ao máximo o diálogo. Estamos já fazendo um processo de diagnóstico nas 12 cidades da Copa, no sentido de ver quais são as razões de descontentamento. Por exemplo, há problemas com remoções que não foram consideradas adequadas, há problemas de restrições excessiva em relação ao ir e vir das pessoas, à questão dos vendedores ambulantes.
Para o caso de o diálogo não ser suficiente e as forças policiais não conseguirem controlar a situação, o governo espera ter à mão uma estrutura à altura do desafio. A Força Nacional de Segurança Pública deverá ter de prontidão uma tropa formada por 10 mil homens. Há ainda possibilidade de utilização das Forças Armadas nas 12 cidades-sede. O plano é manter efetivos de reserva nos quartéis.
– As Forças Armadas têm seu papel no eixo defesa, e uma das atuações nesse eixo é a de ser uma força de contingência. O plano da segurança é fazer frente a qualquer ocorrência, e essa força de reserva é posta como possível – admitiu o coordenador da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, Humberto Freire.
Freire confirmou que, como parte da preparação para o Mundial, a secretaria gastou R$ 40 milhões na compra de armas de baixa letalidade, como balas de borracha e sprays de pimenta. Equipamentos de proteção individual para os policiais, como escudos, também estão sendo adquiridos.
Pontapé inicial e confronto em Natal
Na semana passada, Dilma Rousseff esteve em Natal (RN) para inaugurar a Arena das Dunas, um dos novos e contestados estádios construídos para a Copa do Mundo, e foi recebida com um protesto que degringolou em confronto com a polícia. Sem intimidade com a bola, a presidente deu o pontapé inicial simbólico no palco de quatro partidas da Copa.
Até ontem se especulava que Dilma pudesse estar em Porto Alegre na sexta-feira para solenidade de reinauguração do Beira-Rio, mas o ato está previsto para a próxima semana.