O governo da Coreia do Sul expressou nesta sexta-feira sua "grande preocupação" após a confirmação da execução de Jang Song-thaek, o até então influente tio do líder Kim Jong-un e ex-número 2 da Coreia do Norte. "Estamos acompanhando com atenção e com grande preocupação" o que ocorre na Coreia do Norte após a execução de Jang, disse em entrevista coletiva uma porta-voz do Ministério da Unificação de Seul.
A porta-voz garantiu que o governo sul-coreano está "preparado para todas as possibilidades", em uma aparente referência à possível instabilidade que poderia gerar no regime a pena de morte daquele que era um de seus maiores bastiões e o expurgo de seus seguidores.
Após o ocorrido, Seul vai fazer consultas com seus aliados, principalmente os EUA, e também -comentou a porta-voz- com os países que têm relação com os assuntos da Coreia do Norte, no que parece ser uma referência à China.
Tais decisões foram tomadas durante a reunião de políticas de segurança convocada pelo governo sul-coreano pouco depois que a imprensa estatal da Coreia do Norte divulgou a execução de Jang.
A agência estatal do regime comunista, KCNA, revelou nesta manhã que Jang Song-thaek foi condenado à morte por um tribunal militar e posteriormente executado sob diversas acusações, sendo a maior delas a de tramar um golpe de estado no país.
A agência também garantiu que o regime eliminou os seguidores políticos do tio de Kim Jong-un, que foram classificados como "traidores".
Jang era casado com Kim Kyong-hui, a irmã do ex-líder Kim Jong-il e pai do atual líder. Os especialistas consideravam Jang como um dos mentores de Kim Jong-un, a quem ajudou a se consolidar no poder, além de um promotor das tímidas reformas econômicas que a Coreia do Norte mostrou recentemente.
Executado por traição, tio de Kim Jong-un foi de homem forte a "pior que cão"
Jang Song-thaek, tio do líder norte-coreano Kim Jong-un, era visto como um das principais lideranças do país antes do rápido processo que fez com que, em questão de dias, fosse demitido, julgado e executado.
Como vice-líder da poderosa Comissão Nacional de Defesa, ele estava no centro do núcleo de decisão do governo comunista. Por conta de seu parentesco e intimidade com o falecido líder Kim Jong-il, pai de Kim Jong-un, muitos acreditavam que ele exercia grande influência sobre o jovem. Alguns analistas acreditavam que ele era o verdadeiro homem forte por trás do "trono", que aconselhava seu inexperiente sobrinho.
A execução de Jang sinaliza mudanças grandes na liderança norte-coreana.
Ascensão difícil
Jang Song-thaek, um veterano do partido, superou diversas dificuldades para se consolidar com líder. Quando jovem, ainda nos tempos de faculdade, conheceu a irmã de Kim Jong-il, Kyung-hee, com quem começou um namoro.
O pai da jovem, o líder Kim Il-sung, não gostava do relacionamento, já que ambos vinham de classes sociais muito diferentes. Jang foi obrigado a trocar de universidade. Mas o líder acabou mudando de opinião, após apelos feitos pela filha. Jang e Kyung-hee conseguiram se casar e tiveram uma filha – que teria morrido.
Jang entrou na estrutura burocrática do Partido Coreano dos Trabalhadores no começo dos anos 1970, e teve ascendeu constantemente ao longo das próximas décadas. Em 1992, foi eleito para o Comitê Central do partido.
Na década seguinte, já integrava o primeiro escalão do poder, como diretor de um departamento que supervisionava todos os ministérios e órgãos militares do partido. Nessa época, era visto como uma das pessoas mais poderosas da Coreia do Norte.
Sumiço e retorno
Mas tudo isso mudou em 2004, quando ele parou de aparecer nos eventos públicos do país. Uma fonte da inteligência sul-coreana disse que ele foi colocado em prisão domiciliar. Nunca ficou claro o que aconteceu exatamente. Analistas especularam que ele teria acumulado poder demais, o que poderia ter desagradado a outros líderes.
Em janeiro de 2006, ele reapareceu na cena pública e rapidamente se reabilitou na estrutura de primeiro escalão. No final do ano seguinte, já chefiava o departamento do partido responsável por supervisionar a polícia e o judiciário.
A imprensa estatal noticiava com frequência suas aparições públicas ao lado do líder Kim Jong-il. Analistas acreditam que ele ganhou influência ainda maior após um derrame do então líder norte-coreano.
Com sua indicação para o Comitê de Defesa em 2009, Jang estabeleceu sua posição como homem forte do país. Em 2010, ganhou outra promoção, sendo alçado à vice-liderança do comitê.
As reformas ministeriais teriam sido feitas para facilitar a transição de poder de pai para filho na Coreia do Norte. Com a morte do líder, Jang recebeu grande destaque nos funerais, e também se encontrou com o presidente chinês, Hu Jintao, em agosto de 2012. O principal assunto de sua viagem a Pequim foi economia. Muitos viram isso como um sinal de que ele poderia promover uma reforma para aliviar os graves problemas econômicos do país.
No início desse mês, de forma repentina e surpreendente, a imprensa estatal norte-coreana declarou que Jang fora removido do poder por "atos criminosos". Um encontro de líderes do Comitê Central do partido determinou que ele havia "cometido atos antipartido e contrarrevolucionários, como corroer a unidade e coesão do partido".
"Jang fingia defender o partido e o líder, mas estava envolvido em atos como sonhar sonhos diferentes e se envolver em jogos duplos nos bastidores", afirma uma das notícias da agência estatal KCNA.
Poucos dias depois, Jang foi julgado em um tribunal militar, que o considerou culpado por traição. O tribunal norte-coreano disse que ele era "pior do que um cão" e que havia formado uma facção com objetivo de derrubar o governo. Ele foi imediatamente executado.
Além de alterar a liderança norte-coreana, a queda repentina de Jang levanta outras dúvidas sobre a Coreia do Norte. Entre elas está: quem agora é a principal influência junto a Kim Jong-un.