Há algo estranho acontecendo na Forjas Taurus, maior fabricante de armas do país.
(Destaque dado pela Revista Amanhã)
Laura D’Angelo
Revista Amanhã
Publicado 22 Novembro 2013
Um parecer adverso no balanço do terceiro trimestre expôs, novamente, a relação conflitante entre a auditoria Ernst & Young (EY) e a companhia gaúcha. Pela segunda vez consecutiva, os resultados publicados não foram aprovados pelos auditores. O motivo é o mesmo do segundo trimestre: a venda da Taurus Máquinas-Ferramenta (TMF). Depois de adquirir a fábrica em junho de 2012 por R$ 115 milhões, a Süd Metal pediu a renegociação do valor, ajustado para R$ 57,2 milhões em agosto deste ano. (Leia aqui matéria publicada no portal sobre o balanço do segundo trimestre da Taurus)
Segundo o parecer da EY no Relatório de Revisão Especial publicado juntamente com o Informativo Trimestral da Taurus na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), “os eventos que levaram a redução do valor original da venda se encontravam substancialmente presentes em 30 de junho de 2012 e a referida perda deveria ter sido reconhecida naquela data". Assim, a receita da empresa no ano passado teria sido distorcida e elevada em R$ 57,8 milhões. A EY não só se recusou a aprovar as contas da companhia como também reemitiu os relatórios de revisão do terceiro e último trimestres de 2012.
Para aumentar a suspeita de que o impasse está longe de ser resolvido, na segunda-feira a Taurus anunciou a saída do então presidente Denni Braz Gonçalves. No cargo há dois anos, Gonçalves foi substituído imediatamente por André Ricardo Balbi Cerviño. Em setembro, Edair Deconto, do comitê de auditoria, já havia renunciado.
Na avaliação de Valter Bianchi Filho, sócio da Fundamenta Investimentos, as mudanças no corpo diretor só acentuam os indícios de que algo grave se passa nos bastidores da empresa. Ainda que não acompanhe mais os papéis da Taurus, Bianchi Filho levanta a hipótese de que o lançamento do valor de R$ 115 milhões nos balanços do ano passado tenha sido necessário para minimizar um possível endividamento – potencializado pela incorporação, em 2011, da dívida financeira de R$ 165 milhões da holding Polimetal. Na época da incorporação, a gestora de Bianchi deixou de investir nas ações da Taurus por acreditar que “a companhia poderia se colocar numa situação de risco financeiro”.
Sem ser possível confirmar por qual motivo auditores e empresa não entram em um acordo para acertar os números publicados nos balanços trimestrais, só resta a incerteza para os investidores. De acordo com Bianchi Filho, os casos de parecer adverso são raros e comprometem a relação da empresa com os acionistas. “É muito negativo ter um briga pública com seu auditor”, comenta. O mais preocupante é a desconfiança causada pelo desacordo entre a Taurus e a Ernest Young. “Pior do que passar por adversidades é acobertá-las”, alerta Bianchi Filho.
No terceiro trimestre, a Taurus reverteu o prejuízo de R$ 101,3 milhões do período anterior para um lucro líquido de R$ 5,1 milhões. Graças ao crescimento da exportação e do câmbio favorável, a receita líquida consolidada aumentou 45% em comparação com a do segundo trimestre, alcançando o valor de R$ 218,7 milhões. Desde o anúncio dos resultados, na última segunda-feira (18), as ações preferenciais desvalorizaram 6,5%, e fecharam esta quinta (21) a R$ 2,28.
A venda da Taurus Máquinas-Ferramenta
Os auditores ainda registraram no Relatório de Revisão Especial que não receberam documentação que permitisse concluir que a Taurus vá receber a quantia acordada de mais de R$ 55 milhões restantes da venda da Taurus Máquinas-Ferramenta – R$ 1,9 milhão já foi pago com peças pela Süd Metal.
Informações do jornal Valor Econômico dão conta de que em maio, antes do pedido de revisão do valor de venda, a Taurus já reconhecia o risco de calote. No Formulário de Referência, um dos documentos obrigatórios enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pelas companhias abertas, consta o seguinte texto: "A companhia incorre no risco de não recebimento das parcelas previamente acordadas, sendo suscetível [à] situação financeira do grupo SüdMetal”.
Ainda de acordo com o Valor, a SüdMetal enfrenta diversos processos trabalhistas, tem atrasado o pagamento de fornecedores e é processada pela União por evasão fiscal. Ações de bloqueio de bens tramitam em primeira instância, pois o dono do grupo, Renato Conill, foi indiciado pelo Ministério Público Federal (MPF), acusado de ter montado uma cadeia de empresas para desviar ativos executáveis de suas fábricas e driblar o Fisco. Os tributos devidos chegam perto dos R$ 210 milhões.