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Pobre FAB – ADEUS MIRAGE!

Nota DefesaNet

Matéria publicada na AEROVISÃO 238, (OUT/NOV/DEZ 2013), uma das publicações da FAB.

É mais uma das matérias editoriais da FAB/CECOMSAER, coordenado pelo Brig Damasceno e seus Nerds, enviando mensagens aos governo sobre a necessidade do F-X2. Porém, podemos acompanhar nas fotos históricas, que a FAB aceitou a solução "Gap Fill" Mirage 2000C/B, com evidentes objetivos políticos do Governo Luis Inácio.

O Editor

“Chaque fois qu’un avion est beau, il vole bien”
Marcel Dassault
“Se um avião é bonito, ele voa bem”.

HUMBERTO LEITE

 

A frase do criador do caça conhecido por sua asa em delta já anunciava: por décadas, o nome "Mirage" estaria associado a uma aeronave linda, e eficiente. Para os rivais, mortal. O lema dos proje­tistas: "O inimigo poderá vê-lo, mas jamais alcançá-lo". O Mirage III, uma lenda da aviação, e posteriormente seu "irmão mais novo", o Mirage 2000, fize­ram a pacata cidade de Anápolis, a 130 km de Brasília, ser desde 1973 a casa de uma elite de aviadores brasileiros, os únicos a superarem a barreira de duas vezes a velocidade do som, uma característica necessária à missão de defesa aérea. Mas essa história acaba no dia 31 de dezembro deste ano. Adquiridos da França já usados como uma solução temporária para a avia­ção de caça de alta performance no Brasil após a desativação dos Mirage III, os Mirage 2000, batizados por aqui como F-2000, serão desativados.
 
O "Covil dos Jaguares", como é cha­mada a Base Aérea de Anápolis, pas­sará a ser guarnecida por caças F-5EM de outros esquadrões da Força Aérea Brasileira, que vão cumprir o alerta de defesa aérea mantido nas 24 horas de cada um dos 365 dias do ano. Enquanto isso, o 1º Grupo de Defesa Aérea ficará sem aviões. Com um efetivo menor, serão mantidos apenas seis aviadores, que terão a missão de se manterem pre­parados para futuramente estarem no grupo que irá receber a nova aeronave de combate. Para "manter a mão", eles também vão cumprir horas de voo em caças F-5EM, que passarão a ser os úni­cos supersônicos em operação no Brasil.
 
Em questão de idade, os Mirage 2000, fabricados no início da década de 80, são um pouco mais modernos que os F-5, recebidos pela FAB a partir de 1975. Mas após a modernização realizada na Embraer, os F-5E foram elevados ao padrão F-5EM (M de Modernizado) e se tornaram tecnolo­gicamente superiores. Eles têm agora sistemas que permitem combate além do alcance visual, comunicação de dados (datalink) e até um sistema de mira montado no capacete.

Por outro lado, os F-2000 têm características superiores em áreas essenciais para a defesa aérea: têm um alcance maior, voam mais alto e são mais rápidos. Enquanto um F-5EM não passa de 1.700 km/h, ou aproxi­madamente 1,64 vezes a velocidade do som, um Mirage pode acelerar até 2.300 km/h, o chamado Mach 2,2. Quando se analisa só o critério velo­cidade, a partir do dia 31 de dezembro o Brasil perderá uma capacidade que, no cenário da América do Sul, está presente nas Forças Aéreas da Argen­tina, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Todos estes países pos­suem aviões que alcançam Mach 2.
 
A FAB reconheceu essa capacidade com a prorrogação da vida útil dos Mirage. O contrato com os franceses previa mil horas de voo para cada um dos 12 F-2000 recebidos a partir de 2006, sendo 10 monoplaces, para um piloto, e dois biplaces, para dois pilo­tos, utilizados em missões de treina­mento. Pelo plano inicial, os jatos iriam parar no final de 2011. Com alguns ajustes, seis Mirage foram poupados para conseguirem permanecer em voo e com os seus equipamentos – radar, armamentos, sistemas eletrônicos – em pleno funcionamento até o final deste ano. Mas agora o tempo chegou ao seu limite e os caças vão sair de operação ainda sem um substituto com as características necessárias.


“Não é o ideal. Vamos fazer o me­lhor possível”
 

O assunto acabou chegando ao Congresso Nacional. Em agosto, as Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado e da Câmara convocaram o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Juniti Saito, para uma audiência pública. Apesar de mostrar tranquilidade no cumprimento da missão, o Coman­dante – que nas décadas de 70 e 80 foi piloto de F-5 – não escondeu a neces­sidade de o Brasil adquirir um novo caça. O Brigadeiro foi enfático ao ser questionado como ficará a defesa dos céus do Brasil."Não é o ideal. Vamos fazer o melhor possível", declarou.

A FAB possui 46 F-5 modernizados que operam a partir do Rio de Janei­ro, Manaus e Canoas (RS). A frota da aviação de caça é completada por três esquadrões de turbohélices A-29 Super Tucano e mais três esquadrões com jatos subsônicos A-1, também em processo de modernização e voltados para missões de ataque ao solo. O projeto F-X2 prevê que a futura aero­nave substitua inicialmente os F-2000 e posteriormente novas encomendas sejam feitas para aposentar os F-5 e A-1, jatos que já voam na Força Aérea Brasileira desde as décadas de 70 e 80, respectivamente.

A chegada de novos caças depende agora da Presidência da República. Como assessoramento, em 2011 a Co­missão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), órgão do Comando da Aeronáutica, concluiu um relatório que aponta três aerona­ves como satisfatórias para requisitos estabelecidos pela FAB: o Boeing F/A-18 Super Hornet, o Dassault Rafale e o SAAB Gripen NG (por ordem alfabé­tica dos seus fabricantes).

Com mais de 28 mil páginas distri­buídas em 121 volumes, o relatório é a finalização de um processo iniciado há 18 anos, quando foram elaborados os primeiros requisitos para a com­pra de novas aeronaves de combate. Além de desempenho, também há considerações de aspectos como com­pensações comerciais, transferência de tecnologia, logística e participação do parque industrial brasileiro. "O foco principal desse projeto não é só comprar um avião de prateleira, e sim desenvolver junto com o parceiro escolhido uma tecnologia nacional", explicou o Brigadeiro Saito.

A expectativa é que o contrato proporcione um salto tecnológico à indústria nacional. Foi o caso do pró­prio jato de ataque A-1, desenvolvido no início da década de 80 com uma participação minoritária da Embraer em um projeto de empresas italianas. Os conhecimentos adquiridos permi­tiram que a Embraer desenvolvesse a família de jatos de transporte regional que são atualmente exportados para todo o mundo. Para o F-X2, o plano é absorver tecnologias ainda inéditas por aqui, tanto em termos de estru­turas quanto de tecnologia de bordo.
 
Mas o tempo não corre de maneira favorável aos planos de pilotos, enge­nheiros e economistas. O processo de aquisição de um novo caça é lento. A Tailândia, por exemplo, só recebeu em 2011 os seus primeiros caças Gripens de um contrato assinado em 2008. O mesmo ano da chegada dos F-18 Super Hornet australianos, encomendados em 2007. Antes do primeiro caça tocar o solo do país comprador, há ainda o envio de militares para treinamento no exterior, pois é necessária a formação nas novas tecnologias que uma aero­nave mais moderna irá trazer.


Os Northrop F5EM substituirão os Mirage 2000 C/D em Anápolis.
De dois Esquadrões,  por mágica criam-se 4. (Foto – DefesaNet)


Três esquadrões para quatro bases
 

“Nós vamos ter um hiato. Espero que não seja tão profundo”. A frase é do Brigadeiro Luiz Fernando de Aguiar, responsável pelo comando de toda a aviação de caça no Brasil. Ele engrossa o coro dos que acreditam que a modernização do F-5 o tornou apto para a missão neste momento. “Hoje em dia, o avião de combate é muito mais sistema, ele é muito mais armamento inteligente do que propria­mente dito a plataforma”, diz.
 
Por outro lado, o Brigadeiro não esconde que o pior aspecto da aposen­tadoria dos Mirage é a realocação de forças. Os três esquadrões com F-5, do Rio de Janeiro, Manaus e Canoas (RS) vão assumir o alerta de defesa aérea a partir de Anápolis (GO) com suas próprias aeronaves. Vão ser três esqua­drões para cobrir o espaço de quatro. (Nota DefesaNet – Lembrar que Manaus foi criado canibalizando o 1º/14º Esquadrão – Canoas)
 
Todos os dias, pelo menos dois des­ses caças deverão estar em Anápolis, de qualquer uma das três unidades. “Pode acontecer de um dia estarmos com um F-5 de Canoas e outro de Manaus em alerta em Anápolis. Não importa”. A preocupação maior, no en­tanto, é com o futuro. “Tem muita gen­te que pensa que se modernizou o F-5 e por isso não mais necessitamos de outro caça. Não! O F-5 chegou ao Brasil na década de 70. Continua sendo uma célula antiga, com restrições”, garante o Brigadeiro. Para ele, o importante agora é estar em condições de receber a nova aeronave. “Qualquer um dos três concorrentes a ‘F-X2’ supera em muito os Mirage e os F-5”.

 
Com a aposentadoria dos Mirage, o 1° Grupo de Defesa Aérea ficará sem aeronaves. “O F-5 não vai substituir o Mirage. O GDA não terá avião até a chegada do F-X2. É uma Unidade Aérea sem aeronave até a chegada do F-X2”. Boa parte do efetivo foi transferida para outras unidades. Permanecerá um grupo de seis pilotos, um Major e cinco Capitães, que vão manter a vida administrativa da uni­dade, cumprir horas de voos em jatos F-5 e participar de treinamentos e, no futuro, irão compor o primeiro grupo de militares a voar o novo caça a ser adquirido para a FAB. “Nós não pode­mos desperdiçar essa experiência que eles já têm como pilotos de Mirage”, finaliza o Brigadeiro Aguiar.

 
 
 
  Uma imagem de Setembro de 2006 com figuras ainda participando do Governo. O Embaixador Amorim, Ministro das Relações Exteriores, em 2006, e agora Ministro da Defesa. (Foto Agência Brasil)

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