Tiago Alcantara
As informações do Governo, das empresas e da sua própria vida pessoal só podem ser protegidas se o Brasil desenvolver uma tecnologia independente e 100% nacional. Essa é a opinião compartilhada tanto por desenvolvedores e acadêmicos quanto pelo Exército Brasileiro. Ou seja: se usarmos a tecnologia de estrangeiros, estamos vulneráveis a ataques e espionagem internacional.
Após as denúncias do ex-técnico da CIA Edward Snowden a respeito da espionagem de empresas como a Petrobras e até mesmo de conversas da presidente Dilma com seus assessores diretos pela NSA (agência de inteligência norte-americana), o Brasil vive um momento de rompimento de confiança com soluções providas por empresas estrangeiras.
De acordo com o gerente de produtos da Critical Links, Duda Nogueira lembra que um software feito por uma empresa dos Estados Unidos deve responder às leis do país norte-americano, enquanto os programas desenvolvidos no Brasil não tem essa obrigação.
O software livre é muito importante para garantir a segurança dos sistemas de tecnologia da informação, autonomia e soberania do Brasil. É um momento histórico porque essa situação [espionagem] poderia muito bem ter sido evitada se a gente utilizasse mais software livre.
Estrutura nacional contra espionagem
Para o professor do departamento de Teoria da Computação da Unicamp, Julio Cesar Hernández, é possível usar a crise como incentivo para que o Brasil equipare os padrões de tecnologia internacionais.
As soluções que precisam ser tomadas e para que sejam eficazes, vai demorar de três a quatro anos, pois uma solução grande vai precisar de tempo. Falta uma estrutura para que melhore a segurança e isso pode ser construído em longo prazo.
A opinião de que o Brasil precisa ser soberano e independente de soluções internacionais nas diversas esferas é compartilhada pelo Centro de Defesa Cibernética (CDCiber), divisão do Exército brasileiro responsável por garantir a segurança cibernética do País.
Consultado pela reportagem do R7, o Exército usou seu departamento de comunicação para esclarecer que o CDCiber desenvolve projetos para criar soluções nacionais.
O desenvolvimento de tecnologia nacional de hardware e software é certamente uma das soluções para manter a tecnologia e as informações nacionais livres da interferência internacional. É por este motivo que um dos critérios usados pelo CDCiber para o desenvolvimento dos projetos que estruturam o setor cibernético é a opção por soluções que apresentem o emprego dual, ou seja, busca-se o desenvolvimento de produtos, em parceria com empresas brasileiras, que possam ser utilizados tanto pelo segmento militar, quanto civil da sociedade abrangendo, assim, os setores acadêmico, privado, público e a base industrial.
O Centro de Defesa Cibernética também informa que trabalha para a implantação do Projeto Estratégico de Defesa Cibernética, orientado pelo Ministério da Defesa. Até 2016, O Exército deverá contar com a criação de um centro de defesa cibernética e também a implantação de uma rede nacional de segurança de informações e criptografia para proteção das informações nacionais.
Política e uma nova abordagem tecnológica
Hernández também defende a criação de um grupo como a NSA e a inserção de matérias de segurança digital no currículo das disciplinas de TI para que isso se torne algo cultural.
Apesar da necessidade da tomada de medidas, o especialista em computação não acredita na criação de uma estrutura de tecnologia e defesa nacional em curto prazo.
O Brasil precisa repensar suas estratégias, o País não possui muitos profissionais qualificados, mas está no caminho. Não sabemos até onde a NSA conseguiu ir e pegar informações e há muitas suspeitas. Existem vários métodos para que seja evitado esse tipo de invasões, mas são métodos que apenas para dificultar que eles entrem no sistema.
Nogueira, que também é coordenador de programação do Latinoware (evento anual que promove o software livre no País), aponta que o Brasil deve intensificar os esforços para privilegiar as soluções nacionais. A existência de uma auditoria em programas e serviços oferecidos por países como os Estados Unidos também é essencial.
Quando a gente usa um equipamento que não é produzido no Brasil ou que é um software proprietário, infelizmente, não se tem a exata noção do que é executado naquele software. Isso leva a sistemas que não são totalmente seguros.
* Colaborou Yanes Sarah