Guilherme Serodio e Renata Batista
Com os canais de diálogo entre governos estadual e municipal, sindicatos de professores e oposição no Rio aparentemente fechados, analistas alertam para o risco de que a escalada de protestos em solidariedade aos professores fluminenses possa inflamar outras capitais, como já ocorreu em São Paulo, na segunda-feira. No Rio, a greve dos professores do Estado e do município já dura mais de dois meses.
"Os protestos no Rio têm potencial para explodir para toda a federação. Por sorte, na segunda-feira, estava muito frio em São Paulo. Mesmo assim, a manifestação organizada em solidariedade aos professores na capital paulista também teve violência", resume o pesquisador da FGV-SP Rafael Alcadipani, que desde junho acompanha os protestos paulistanos para avaliar a reação da polícia e dos manifestantes, principalmente dos Black Bloc.
Ignácio Cano, do Laboratório de Análise de Violência da UERJ, afirmam que o impasse cria o ambiente favorável à atuação de ativistas como os Black Blocs. "As pessoas perceberam que esse tipo de mobilização dá resultado. Teremos cada vez mais manifestações, mesmo que com menos manifestantes", resume Cano.
Assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, Maurício Santoro diz que o risco de a situação no Rio contaminar outras capitais é real.
"O Rio é uma caixa de ressonância para temas de amplitude nacional", diz. Para ele, a escalada da violência nos protestos é fruto da falta de capacidade do governo em negociar.
Embora a pressão das ruas continue crescendo, com novos episódios de violência na segunda-feira, promessa de nova manifestação em 15 de outubro – Dia dos Professores -, e manifestantes acampados em frente à Assembleia Legislativa (Alerj) e à Câmara de Vereadores, as tentativas de diálogo não avançam. Membro da Comissão de Educação da Alerj, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) reclama da falta de disposição do poder executivo em negociar.
"As negociações estão travadas. A base do governo tem maioria e rejeita as nossas iniciativas de convocação. A pedido de professores da Faetec [Fundação de Apoio à Escola Técnica], tentei uma audiência com o [vice-governador Luiz Fernando] Pezão, mas ele respondeu que estaria em viagem pelo interior e prometeu uma resposta na sexta-feira", contou Freixo. A informação foi confirmada pela assessoria do vice-governador.
Ontem, o prefeito Eduardo Paes, se reuniu com professores, pais e alunos da rede municipal para discutir o plano de cargos e salários do magistério. Excluído da reunião, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) questiona o plano aprovado a portas fechadas na Alerj e mantém a greve.