O militante conhecido como Ikrima, alvo de um frustrado ataque das forças especiais dos EUA no fim de semana, atua na Somália tramando ataques no vizinho Quênia, suspeitam serviços de inteligência e analistas.
Agências de segurança quenianas e ocidentais identificam Ikrima, nome de guerra de Abdikadar Mohamed Abdikadar, como o elo entre comandantes do grupo islâmico Al Shabaab na Somália e militantes da Al Qaeda e do Quênia.
Não está provado que Ikrima, um queniano de origem somali que passou vários anos na Noruega, tenha se envolvido no atentado de setembro em um shopping center de Nairóbi, que matou 67 pessoas, e pelo qual a Al Shabaab assumiu a autoria.
Mas sabe-se que ele tramou para atacar o Parlamento queniano, matar vários políticos do país e atingir instalações da ONU em Nairóbi, segundo um relatório de inteligência queniano obtido pela Reuters e por outros veículos de imprensa.
Esses planos fracassaram, assim como fracassou também a missão dos Seals (força especial da Marinha dos EUA) em Brawe, reduto militante na costa sul da Somália. Os militares dos EUA bateram em retirada depois de um tiroteio, sem conseguir capturar Ikrima — nome que homenageia um personagem da história islâmica que inicialmente combateu Maomé, mas depois se converteu e se tornou um dos mais valiosos comandantes do profeta.
"Ele é um planejador que é implacável em criar operações no Quênia", disse Matt Bryden, ex-coordenador do Grupo de Monitoramento da ONU na Somália e Eritreia. "Ele é um dos pensadores, planeadores e operadores."
Um desertor da Al Shabaab, que atualmente colabora com a inteligência somali, descreveu Ikrima como um homem bem conectado, na faixa dos 30 a 40 anos, com capacidade para conceber operações transnacionais.
Em 2004, ele viajou para a Noruega, onde solicitou asilo, mas foi embora em 2008, antes que houvesse uma resposta a seu pedido, segundo uma TV norueguesa. As autoridades norueguesas não comentaram o assunto.
Especialistas dizem que ele foi orientado por dois agentes da Al Qaeda já mortos, Fazul Mohammed e Saleh Nabhan, que se envolveram no atentado de 1998 à embaixada dos EUA no Quênia e em ataques de 2002 a um hotel israelense e a um avião comercial na cidade queniana de Mombaça.
As agências de inteligência não revelaram quando Ikrima se transferiu do Quênia para a Somália. Ele apareceu no radar dos investigadores da ONU por volta de 2009, como parte de um pequeno círculo de combatentes que conquistaram influência dentro da Al Shabaab.
Desde então, acredita-se que ele continue nutrindo vínculos com o grupo queniano Al Hijra, aliado da Al Shabaab.
(Reportagem de Edmund Blair, em Nairóbi; Abdi Sheikh, em Mogadíscio; Mark Hosenball, em Washington; e Balazs Koranyi, em Oslo)