ERIC SCHMITT & MICHAEL SCHMIDT – SÃO JORNALISTAS
THE NEW YORK TIMES – O Estado de S.Paulo
O impacto da divulgação de um complô terrorista da Al-Qaeda em agosto causou mais danos aos esforços americanos de contraterrorismo do que os milhares de documentos revelados por Edward Snowden, o ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA).
Desde que foi revelada a informação de que os EUA interceptaram mensagens entre Ayman alZawahiri, sucessor de Osama bin Laden na chefia da Al-Qaeda, e Nasser al-Wuhasyshi, chefe da AlQaeda na Península Arábica, sobre um ataque iminente, analistas detectaram uma queda no uso por terroristas de um importante canal de comunicações que as autoridades monitoravam.
Desde agosto, os EUA buscam novas maneiras de monitorar as mensagens eletrônicas e conversas de líderes da Al-Qaeda. "As chaves não foram desligadas, mas houve um decréscimo na qualidade das comunicações", disse uma autoridade americana, que pediu anonimato.
A queda no tráfego de mensagens é diferente do que ocorreu após as revelações de Snowden, quando os terroristas, em vez de se afastarem das comunicações eletrônicas, começaram a falar sobre as informações que o ex-agente da CIA revelou.
Autoridades americanas dizem que as revelações de Snowden tiveram um impacto mais amplo na segurança nacional, incluindo os esforços de contraterrorismo. Isso inclui temores de que Rússia e China agora possuem detalhes sobre os programas de vigilância da NSA. Laços diplomáticos foram prejudicados, entre eles com o Brasil.
As comunicações entre Zawahiri e Wuhayshi foram consideradas os planos mais sérios contra os interesses americanos desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Elas provocaram o fechamento de 19 embaixadas e consulados dos EUA por uma semana, até que a inteligência soubesse que o plano tinha por alvo a embaixada no Iêmen.
"Em resposta aos vazamentos de Snowden, a Al-Qaeda e grupos filiados tentaram mudar de tática, buscando aprender com o que está na imprensa e mudando a maneira de se comunicar", disse Matthew Olsen, diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo.
Agentes americanos dizem que a revelação sobre o complô da Al-Qaeda teve um impacto significativo porque foi um evento específico que indicou para os terroristas que uma importante rede de comunicações vinham sendo monitorada. O declínio nas mensagens se deu entre agentes da Al-Qaeda no Iêmen. Já as revelações de Snowden não tiveram tamanha especificidade sobre redes de comunicações terroristas que o governo monitora.
"Era uma coisa imediata, direta e envolvia pessoas específicas em comunicações específicas sobre eventos específicos", disse uma autoridade americana sobre a conversa entre líderes da AlQaeda. "O material de Snowden tem muitas camadas e levará tempo para compreendê-lo. Não houve uma queda súbita de comunicações a partir dele. Muitos acham que não são impactados por ele e é uma coisa difícil de eles compreenderem."
Outros agentes de contraterrorismo discordam, dizendo que é difícil, se não impossível, separar o impacto das mensagens entre líderes da Al-Qaeda das revelações totais de Snowden. O declínio é, provavelmente, uma combinação das duas coisas. "Os bandidos não vão conversar eletronicamente sobre planos operacionais", disse um agente de contraterrorismo. Além disso, segundo ele, poderia levar meses ou anos para avaliar por completo o impacto das revelações de Snowden.
Na última década, a NSA investiu bilhões de dólares numa campanha clandestina para preservar sua capacidade de espionar conversas. A agência contornou ou decifrou boa parte da criptografia que protege sistemas comerciais e financeiros globais, segundo documentos divulgados por Snowden. O maior temor do governo é que, nos próximos meses, o nível de comunicações interceptadas continue a cair à medida que os terroristas encontrem novas maneiras de se comunicar. Certamente, levará algum tempo para descobrir os novos métodos e monitorá-los.
Uma maneira pela qual os terroristas poderão tentar se comunicar é por meio de mensageiros, que carregariam anotações em papel e pen drives. Se isso ocorrer, eles terão muita dificuldade em se comunicar, pois mensageiros demoram para transportar mensagens.
"O problema da Al-Qaeda é que ela não pode funcionar sem telefones celulares", disse um exfuncionário de alto escalão dos EUA. "Eles sabem que nós os escutamos, mas os usam mesmo assim. Não se pode tocar uma organização sofisticada sem comunicações. Eles sabem disto, mas, para operar, precisam fazê-lo." / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK