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Submarino brasileiro volta dos EUA após disparar torpedos pela primeira vez

Hanrrikson de Andrade

O S Tapajó, um dos cinco submarinos que pertencem à Marinha brasileira, chegou ao Rio de Janeiro nesta quarta-feira (18) após sete meses de treinamento com militares do Navy Seals, a força de elite da Marinha dos Estados Unidos. Pela primeira vez, segundo o capitão de fragata Horácio Cartier, que comandou a missão, um submarino brasileiro disparou torpedos em águas internacionais.

Foram lançados dois torpedos de exercício, que são reutilizáveis, na raia das Bahamas, localizada na ilha de Andros, nas Bahamas, em uma área conhecida como "Língua do Oceano". De acordo com o capitão Cartier, o S Tapajó é uma máquina de combate mais moderna e poderosa em comparação aos outros equipamentos da Marinha.

O teste serviu para que os submarinistas observassem, na prática, o funcionamento do sistema e o desempenho do torpedo MK-48. O alvo foi o navio americano Range Rover.

O armamento pode ser controlado remotamente pelos oficiais da divisão de torpedos, tem capacidade para viajar a cerca de 80 km/h e é capaz de destruir um navio de grande porte. Para o capitão de corveta do S Tapajó, Luiz Eduardo Cetrim, o MK-48 –fabricado nos Estados Unidos e vendido às Forças Armadas do Brasil pelos Navy Seals– é um dos modelos mais poderosos do mercado.

"Ele sai com um fio bem fininho que nos permite controlar a sua direção. Ele pode até acertar um alvo que esteja protegido por um objeto à frente", explicou Cetrim. Ainda segundo ele, toda a ação do torpedo é monitorada em um visor de LED instalado na sala de combate do submarino. Apenas seis militares –que possuem treinamento específico– podem operar o equipamento.

"O Tapajó tem capacidade para armazenar 14 torpedos e fazer até dois lançamentos simultâneos. (…) Ele vai longe [seria, por exemplo, capaz de se deslocar de Niterói, na região metropolitana do Estado do Rio, até a praia de Copacabana, na zona sul da capital fluminense]. Ele é uma arma tática de emprego em um cenário de situações limitadas", afirmou Cartier.

Os MK-48 são armazenados em tubos localizados na proa do submarino e têm oito portas que abrem para o lado externo, possibilitando o lançamento. Desses, oito torpedos ficam engatilhados e seis são deixados em um compartimento de reserva. O S Tapajó carrega ainda oito artefatos explosivos em quatro tubos auxiliares, que também podem ser disparados em ocasiões de conflito.
 

SEMPRE ALERTA

O treinamento com os militares americanos foi a missão mais longa já feita pela Marinha brasileira, segundo Cartier, e envolveu 42 homens divididos em duas forças: as divisões de máquinas e de operações. Durante os sete meses de confinamento, os praças e oficiais foram submetidos a diversos procedimentos de emergência, tais como avarias, explicou o comandante do S Tapajó.

"Quando a gente tem uma falha elétrica, por exemplo, a gente perde a nossa capacidade de monitoragem e sensoriamento. É como se a gente ficasse de olhos vendados. Isso aconteceu uma vez durante os sete meses", disse o capitão.

Cartier explicou ainda que os equipamentos que mantêm a operação de um submarino são "redundantes" e que o período de maior tensão entre os membros da equipe é o "delay time" –intervalo entre o desligamento de um equipamento e o acionamento de outro. "Quando há algum problema, sempre tem um outro equipamento cuja finalidade é substituir aquele que apresentou uma falha. Se desligamos uma válvula, imediatamente abrimos outra", argumentou.

"Nem tudo está previsto no manual e na apostila. Existem situações inusitadas. Graças ao nosso treinamento, conseguimos superá-las. Há um trabalho em equipe, que é fundamental. Desde o cozinheiro que faz a nossa comida até o comandante", completou.

'Não tem janelinha', diz comandante

Com 25 anos de carreira militar, o capitão de fragata responsável por comandar a missão nos Estados Unidos afirmou que, diferentemente de uma eventual ilustração criada no imaginário coletivo a partir dos filmes, o submarino não tem "janelinha":

"Não é igual ao filme 'Vinte Mil Léguas Submarinas'. Aqui é um casco, fechado e de ferro", explicou Cartier.

Segundo o capitão, o periscópio é o "coração" de um submarino, pois somente através dele é possível "olhar o mundo externo". Trata-se de um equipamento constituído por um jogo de prismas cuja função é refletir luzes. "É como se a gente olhasse em um binóculo", disse o comandante.

"A gente observa o meio externo fazendo a chamada a varredura de horizonte. Para navegar, fazemos uso da navegação inercial ou da navegação estimada. Esses são os procedimentos mais indicados quando a gente está muito afastado e no meio do mar", afirmou.

As informações sobre o posicionamento são captadas pelos sensores de localização e projetadas na mesa de plotagem do comandante. A partir dessas coordenadas, o oficial pode executar deslocamentos com o submarino.

Experiência internacional

O comandante do S Tapajó afirmou que esta foi a sexta vez em que um submarino brasileiro foi enviado aos Estados Unidos para participar do intercâmbio com os Navy Seals. A missão é conhecida como "deployment".

Para Cartier, o desempenho do submarino brasileiro foi satisfatório: "Já esperávamos um resultado satisfatório de um submarino submetido a um treinamento com a Marinha americana. Em todas as seis vezes que lá estivemos, o submarino mostrou a bandeira brasileira com galhardia e profissionalismo".

S Tapajó seguirá para manutenção antes de ser deslocado, ainda sem data definida, para ajudar no patrulhamento da costa brasileira. Segundo as Forças Armadas, essa é a principal finalidade dos cinco submarinos que integram o arsenal bélico brasileiro, dos quais dois se encontram em manutenção.

"Vamos continuar nos preparando e treinando. Dentro das nossas atribuições está a proteção à Amazônia Azul, que é a nossa última fronteira. O mar não tem limite. Os limites do mar da costa atlântica do Brasil são os navios da Marinha. A Amazônia Azul é hoje a nossa principal preocupação. Temos que tomar conta da nossa soberania nas nossas águas", disse Cartier.

PALAVRA DO COMANDANTE

" A tropa se comportou muito bem durante esses sete meses. Nós estamos acostumados ao confinamento. A ficar longe de casa e da família. (…) O período mais longo de confimento foram 26 dias de imersão, sem sair do submarino. (…) Lógico que, no momento em que a gente atraca em um porto, temos momentos de relaxamento. Mas a gente está sempre treinando nas horas vagas"

Capitão de fragata Horácio Cortier, que comandou o S Tapajó durante os sete meses de treinamento nos Estados Unidos.

Leia também:Submarino “Tapajó” é recepcionado com honras de passagem ao regresso de comissão nos EUA

 

 

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