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PERIGO NOS CÉUS – Um acidente a cada 2 dias

Germano Oliveira
 
SÃO PAULO – O desrespeito às normas técnicas da aviação tem levado a um grande aumento no número de acidentes aéreos no Brasil. Nos últimos oito anos, foram registrados 952 acidentes, com 846 mortos. De 2006, quando ocorreram 70 acidentes, para o ano passado, com o registro de 181 acidentes, o aumento foi de 158%. Somente nos sete primeiros meses deste ano, já aconteceram 103 acidentes com 42 mortos. O registro oficial é de um acidente aéreo a cada dois dias no país. O número de aviões, incluindo helicópteros e jatinhos particulares, aumentou no período 31,17% (de 10.646 aeronaves em 2006 para 13.965 em 2012), tomando o Brasil detentor da segunda maior frota mundial, somente atrás dos Estados Unidos, o que torna o setor também mais exposto a desastres.
 
Segundo o comandante do Centro de investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), Brigadeiro Luis Roberto do Carmo Lourenço, o grande aumento no número de acidentes acontece no segmento de aviões particulares e jatinhos das empresas de táxis aéreos, pois, no setor da aviação comercial com as empresas de grande porte, o Brasil registra número de acidentes abaixo do que ocorre no primeiro mundo. Para cada milhão de decolagens, o Brasil sofre 1,9 acidente, enquanto nos países desenvolvidos a média é de 3,2 acidentes por um milhão de decolagens.
 
As grandes empresas brasileiras, como Gol e TAM, não sofrem acidentes há seis anos. O último grande acidente da Gol foi em 2006, quando uma aeronave chocou-se com o jatinho Legacy no Mato Grosso, matando 154 pessoas. Com a TAM, o último acidente aconteceu em 2007, quando um avião saiu da pista em Congonhas, matando 199 pessoas. De lá para cá, são os jatinhos e helicópteros que engrossam as estatísticas de acidentes e mortes.
 
O aumento no número de acidentes na aviação brasileira foi divulgado em seminário promovido pelo Cenipa este ano em São Paulo. Segundo o brigadeiro Lourenço, do Cenipa — o órgão do Ministério da Aeronáutica que investiga causas de acidentes aéreos e emite as normas de prevenção aos acidentes — em tomo de 35% dos desastres dos últimos anos foram provocados pela "violação das leis e normas da aviação".
 
— Não somente o Cenipa, mas todos que estão ligados à aviação têm que trabalhar ainda mais para que os acidentes diminuam — disse Lourenço no congresso; nele, os técnicos concluíram que o "fator humano" (erro de pilotos, das companhias aéreas ou dos órgãos oficiais que controlam a aviação) está presente em 90% dos acidentes.
 
Mas a Associação Brasileira de Táxis Aéreos (Abtaer) se defende e diz que já havia alertado o governo de que o número de acidentes aumentaria, em função da ineficiência de vários órgãos e da falta de fiscalização no setor num período em que o número de passageiros transportados subiu vertiginosamente. O comandante Milton Arantes Costa, presidente da Abtaer, diz que já havia identificado a tendência de aumento no número de acidentes em função do grande aumento na frota de aeronaves, em contraponto à queda na infraestrutura do setor e à insegurança nos aeroportos:
 
— Há três anos, procuramos o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, para relatar que o aumento nos acidentes poderia ocorrer pela ineficiência de alguns órgãos públicos, como a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), além da flagrante falta de fiscalização. Até porque, falta cultura de treinamento para as grandes empresas de linhas comerciais.
 
De acordo com o presidente da Abtaer, o aumento no número de acidentes com jatinhos de empresários tem engrossado as estatísticas:
 
— O empresário usa o avião particular mas para reduzir os custos de manutenção, acaba alugando o jatinho como táxi aéreo, muitas vezes sem seguir as normas da aviação comercial, o que provoca acidentes e mortes.
 
O comandante do Cenipa entende que os usuários da aviação de pequeno porte não devem se alarmar:
 
— Essa elevação no número de acidentes aconteceu em 2011 e 2012, muito por conta do aumento das horas voadas no Brasil, que cresceu em 15%. Como 90% dos desastres foram por falha humana, se pilotos e empresas cumprissem as normas da avião e as regras da Aeronáutica, poderíamos diminuir muito esse índice.
 
Segundo Roberto Peterka, perito em aviação civil, o número de acidentes com jatinhos tem aumentando por conta da falta de fiscalização dos voos:
 
— Desde a criação da Anac, houve um vácuo na prevenção e fiscalização às empresas de táxi aéreo, que sempre foram da alçada do Cenipa, A presidente da Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de Acidentes Aéreos, Sandra Assali, aponta a falta de estrutura nos aeroportos:
 
— Apesar do aumento expressivo de voos nos últimos anos, os aeroportos não aumentaram a estrutura para receber as aeronaves. É comum um avião ficar sobrevoando em círculos por dez a 15 minutos antes de aterrizar e isso aumenta o risco de acidentes. Outro fator é a falta de gente na Anac para fiscalizar tantos voos. Antes, a Anac ainda tinha o pessoal da FAB para lhe auxiliar, o que não existe mais atualmente — disse Sandra, que perdeu o marido no acidente com o Fokker 100 da IAM em 1996.
 
Em nota, a Anac diz que a aviação brasileira hoje é uma das mais seguras do mundo: "Pode-se afirmar que voar no Brasil é cada dia mais seguro. Nossas empresas aéreas são exemplos de operação de acordo com as melhores práticas internacionais, sendo assim reconhecidas pela Associação Internacional de Transporte Aéreo".
 
A Anac destaca que "os números divulgados pelo Cenipa incluem acidentes com aviação geral e regular. Ao analisarmos os acidentes, em comparação ao crescimento expressivo do setor (número de movimentos, decolagens, frota, licenças emitidas etc.), depreende-se que a segurança do transporte aéreo, especialmente na aviação regular, vem atingindo índices melhores ao longo dos últimos anos". A agência defende a qualidade dos pilotos brasileiros: "Os requisitos exigidos dos pilotos no país estão em absoluta consonância com os padrões internacionais preconizados pela Organização de Aviação Civil Internacional". A Anac garante fazer "vigilância continuada" no setor.

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