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Cuteleiro de Sorocaba cria faca para a elite do Exército

Elisângela Marques

Um cuteleiro de Sorocaba (SP) é o responsável por produzir uma arma de uso exclusivo da elite do Exército brasileiro. Ricardo Vilar, que trabalha no ramo há 20 anos, criou a faca "onça negra", restrita aos militares especializados do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS).

A peça exclusiva é uma faca artesanal com madeira de extrema resistência, aço fundido a 1.200ºC e, no cabo, a cabeça de uma onça com detalhes minuciosos. A lâmina traz as inscrições CIGS, que indica o destino da peça. “O Exército fez o primeiro contato no segundo semestre de 2005. Seis meses depois apresentei para eles a faca 'cabeça de onça' que é produzida até hoje. Eu mesmo esculpi e personalizei o que hoje é o símbolo de oficiais de elite”, comenta Ricardo Vilar.

A partir daí, milhares de facas foram produzidas para um grupo restrito do Exército. Para fabricar a faca, explica o cuteleiro, foi preciso seguir uma série de requisitos, como saber exatamente o que era necessário, do que os militares precisavam e qual seria a utilização da peça. “Antes de criar a 'onça negra', eu e o Exército conversamos muito. Precisava entender qual era o uso, se era um enfeite ou uma faca para uso em operações. A partir daí, criei a peça, que pode cortar qualquer coisa. Ao mesmo tempo, ela é flexível e rígida com uma lâmina de 12 polegadas”, explica Vilar.

A faca é produzida em uma pequena sala dentro de uma empresa na Zona Oeste de Sorocaba. Ricardo conta apenas com a ajuda de dois aprendizes. São três dias entre forjar o aço e finalizar a madeira. “Antes disso, é impossível fazer uma faca que será usada por guerreiros de selva. Essa faca nunca quebrou e é impossível conseguir separar cabo e lâmina de uma 'cabeça de onça'”, garante ele.

Como a faca é destinada apenas para os militares que concluíram o curso de especialização de operações na selva, cada peça produzida depende de um ofício encaminhado do Exército para Sorocaba. “Eles me mandam um documento oficial pedindo o número de facas. Eu envio a encomenda para Manaus, na base do CIGS. A entrega é feita com uma bela cerimônia. Mas a faca não é um presente, o militar tem que pagar por ela", comenta Vilar, explicando que a faca só chega ao dono depois de um ritual obrigatório de entrega, ou seja, nenhum militar tem autorização para retirar a faca na oficina.

Os militares que querem ter uma faca designada à elite do Exército devem desembolsar R$ 490. "Apenas aqueles que concluíram o curso na selva e têm o brevê podem receber a faca. Já recebi visita de coronéis e generais, que não passaram pelo curso, querendo comprar a 'cabeça de onça', mas expliquei que isso é impossível, independente da patente", lembra Vilar. O número de peças encomendadas varia bastante. "Já fiz 150 em um mês e, no outro, 15", afirma.
 

Civis

O cuteleiro também produz facas a que os civis podem ter acesso. “Uma faca da Brigada Paraquedista é liberada, pelo Exército, para que pessoas comuns possam comprar. O preço é de R$ 450”, esclarece Ricardo, que produz 90% das peças para quem gosta de acampar e pescar.

Ele também fabrica peças personalizadas, como espadas com desenhos e detalhes em ouro, que têm uma fila de até dois anos para os compradores. “São peças únicas, que jamais se repetem. É um resgate de técnicas que fazem a diferença na hora de forjar o aço, esculpir um desenho e fazer todo o acabamento da peça".

Além do tempo de espera, o comprador precisa desembolsar cerca de R$ 9 mil. "Algumas pessoas se assustam e falam que não tem R$ 9 mil de material em uma faca. Mas eu sempre respondo que o material de um quadro também não custa muito. O que está em discussão é o trabalho de um artista, não o preço do material", explica.

Todas as facas e facões criados por Vilar são batizados com um nome de animal brasileiro. “Temos o lobo-guará, quati e esquilo. São facas de material, tempo e tamanhos diferentes. É um orgulho colocar nomes de animais da nossa fauna em produtos que são criados com cuidado e carinho, apesar da rusticidade”, diz Vilar.

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