O tribunal sérvio para os crimes de guerra em Belgrado decidiu nesta sexta-feira que Ratko Mladic é "extraditável" para o Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia, que o acusa de genocídio e crimes de guerra, declarou uma juíza.
"Ficou estabelecido que o general Ratko Mladic está fisicamente apto para participar da audiência, recusou-se a receber a ata de acusação do TPI e decidimos em seguida que as condições para seu traslado estão cumpridas", disse a juíza Maja Kovacevic à imprensa.
"O prazo para apelar vai até segunda-feira", acrescentou a magistrada, indicando que o tribunal havia recebido um relatório de uma comissão de médicos que examinou Mladic.
Este documento "declara que ele está fisicamente apto para acompanhar as audiências, apesar de sofrer de várias doenças crônicas".
"Apelaremos na segunda-feira (…). O juiz de instrução acredita que (Ratko Mladic) está apto para acompanhar as audiências. Pessoalmente, creio que ele não está", declarou por sua vez o advogado de Mladic, Milos Saljic.
O defensor disse que Mladic havia "se recusado a falar para se defender das acusações" do TPI.
Um cansado e envelhecido Mladic presta depoimento à Justiça
Ratko Mladic, ex-chefe militar dos sérvios da Bósnia, prestará novos depoimentos nesta sexta-feira a um tribunal sérvio para crimes de guerra, informou um porta-voz. O acusado tentou se esconder da imprensa na chegada à corte, mas jornalistas conseguiram ver de relance um Mladic, 69 anos, enfermo e bastante envelhecido.
A audiência foi retomada ao meio-dia (hora local) após ter sido suspensa na véspera para que o ex-militar – conforme disse o porta-voz Bruno Vekaric à rede de televisão RTS – fosse medicado.
"Existe uma clara vontade do juiz em respeitar os direitos de Ratko Mladic", afirmou Vekaric.
O advogado do acusado, Milos Saljic, havia dito na quinta-feira que os médicos deveriam antes examinar seu cliente para verificar se ele poderia continuar comparecendo ao tribunal.
Vekaric confirmou que os procedimentos para transferir Ratko Mladic ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para a antiga Iugoslávia deve levar sete dias.
O TPI indiciou Ratko Mladic por crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio, devido a seu papel na guerra da Bósnia (1992-95) e especialmente na matança de Srebrenica, em 1995, quando cerca de oito mil muçulmanos foram executados.
O ex-militar foi preso na madrugada de quinta-feira em Lazarevo, um povoado no noroeste da Sérvia.
Ele foi encontrado na casa de um primo. A operação foi resultado de um trabalho conjunto dos serviços de segurança sérvios (BIA) e de uma equipe encarregada especialmente de localizá-lo, informou o jornal local Blic.
"Ele se identificou imediatamente e não ofereceu resistência à prisão", contou uma fonte citada pelo periódico.
"Ele estava ao lado de seus primos no momento em que chegamos à casa. Nenhum de seus homens estava com ele", explicou o militar, que participou da operação.
Dois diários sérvios divulgaram em sua primeira página na quinta-feira uma foto do rosto de Ratko Mladic.
A imagem mostra um homem envelhecido e fraco, com os cabelos grisalhos aparecendo sob um boné de beisebol, olhando para cima.
A foto publicada pelos jornais Blic e Politika é a primeira divulgada desde o final da guerra, em 1995, quando ele fugiu e se escondeu da Justiça.
De acordo com um vizinho, Mladic estava de pijama no momento da voz de prisão. A testemunha contou ao jornal ter ajudado o ex-militar a se vestir.
O ministro do Interior, Ivica Dacic, afirmou na noite de quinta-feira à RTS que Ratko Mladic não apresentou identidade falsa e que trazia documentos com seu nome.
A imprensa sérvia, no entanto, divulgou que o acusado se utilizara do pseudônimo Milorad Komadic. Os jornalistas não souberam dizer quanto tempo Mladic passou escondido no povoado de Lazarevo. O ex-militar estava foragido da Justiça internacional há 16 anos.
A prisão de Mladic gerou protestos de centenas de ultranacionalistas nas cidades de Belgrado e Novi Sad, deixando feridos em confrontos com a polícia. De maneira geral, entretanto, as manifestações foram inexpressivas.
A captura do ex-chefe político dos sérvios da Bósnia, Radovan Karadzic, em julho de 2008 em Belgrado, causou importantes distúrbios na capital sérvia.