O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta segunda-feira que vai declarar "emergência" nacional e pedir poderes especiais ao Parlamento para reformular as leis visando combater a corrupção, em um movimento qualificado de "caça às bruxas" pela oposição.
"Como presidente e chefe de Estado, vou decretar emergência nacional na luta contra a corrupção e pedir poderes especiais para reformular as leis e enfrentar o problema a fundo", anunciou Maduro durante um ato com jovens em Caracas.
"Se é necessário fortalecer a legislação anticorrupção na nossa Constituição, vamos fazer isto. Se é necessário mudar todas as leis para enfrentar a corrupção, vamos fazer isto", afirmou Maduro ao pedir apoio aos jovens nesta luta.
O presidente solicitou aos jovens que "façam ações de rua" e que fiquem "atentos" às denuncias que surgirão nos próximos dias: "uma putrefação total do ponto de vista humano, espiritual, ético, dos que dirigem a direita venezuelana".
"Há uma onda podre no financiamento da direita fascista venezuelana", afirmou Maduro, sem dar detalhes sobre as mudanças que pretende fazer na legislação.
A oposição reagiu ao anúncio questionando a intenção de Maduro de combater a corrupção e prender os "peixes grandes", e afirmou que o presidente está preparando, na verdade, uma "caça às bruxas" contra os opositores.
A corrupção se tornou o novo campo de batalha entre o governo e a oposição, liderada pelo governador de Miranda, Henrique Capriles, que ignora a vitória de Maduro por apenas 1,49 ponto percentual nas eleições de 14 de abril.
Maduro, que assumiu o poder em abril passado, recorre a uma prática comum de seu sucessor, Hugo Chávez, que utilizou os "poderes especiais" para aprofundar a chamada revolução socialista.
Em julho passado, a Assembleia Nacional suspendeu a imunidade do deputado opositor Richard Mardo, acusado pelo governo de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
Mardo é o segundo deputado do partido de Capriles a ser investigado por corrupção, após Oscar López, diretor do gabinete do governo de Miranda, procurado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
Outros dois governadores da oposição são investigados, assim como o dirigente Leopoldo López e sua mãe, suspeitos de irregularidades, há quinze anos, envolvendo a estatal Petróleos de Venezuela.
Os poderes especiais, que devem ser aprovados pela Assembleia Nacional, permitem ao presidente firmar decretos-lei, sem o aval do Parlamento.
Chávez, falecido em março passado após governar desde 1999, utilizou os poderes especiais para legislar em 2000, 2001, 2008 e 2010, períodos nos quais aprovou por decreto cerca de 200 leis, entre elas a nacionalização da indústria do ouro, a criação de um banco agrícola estatal, o tabelamento de preços e a reformulação das Forças Armadas.