O governo da Espanha declarou ontem que pretende formar com a Argentina uma frente comum nas Nações Unidas para se opor aos interesses da Grã-Bretanha sobre Gibraltar e as Malvinas, territórios onde os britânicos mantêm soberania – e há muito tempo disputados por Madri e Buenos Aires.
A ameaça da formação da aliança internacional ocorre em meio a uma disputa diplomática iniciada em julho, quando Londres instalou um recife artificial no entorno da península localizada no sul da Espanha – que, segundo pescadores espanhóis, prejudica sua atividade. Sob a alegação de que os britânicos não são signatários do Acordo de Schengen – firmado em 1995, que permitiu a livre circulação entre os países da União Europeia, mas não teve adesão de Grã-Bretanha e Irlanda o governo espanhol passou a controlar a fronteira com Gibraltar rigidamente.
A consequência, no território britânico, foram longas filas de veículos de até sete horas de duração, à espera da liberação das autoridades espanholas para sua passagem pela fronteira. Após conversas diplomáticas, ocorridas na semana passada, Londres esperava que as restrições fossem levantadas até o domingo, o que não ocorreu.
O gabinete do premiê David Cameron se disse "desapontado" ontem, afirmar do que as fiscalizações espanholas na fronteira são "totalmente desproporcionais" e têm motivação política". O governo de Mariano Rajoy, que alega estar combatendo o tráfico de drogas e o contrabando, diz que os controles são "legais, proporcionais e aleatórios" negando que a manobra seja motivada pelo recife artificial Madri declara não ter obrigação legal de facilitar a passagem, citando a ausência de Londres do Espaço Schengen.
A tensão sobre a soberania de Gibraltar aumentou. "Estamos avaliando a possibilidade de apelar a órgãos como a ONU, o Conselho de Segurança (que será presidido pela Argentina até agosto de 2014), a Assembleia-Geral das Nações Unidas ou ao Tribunal de Haia", declarou ontem a chancelaria espanhola, afirmando que também considera se unir diretamente a Buenos Aires contra os britânicos. "Isso também é avaliado. Nas Malvinas e em Gibraltar, há elementos comuns e elementos que são mais distantes".
Para acabar com as filas na fronteira, Londres disse estudar "passos (legais) sem precedentes" entre países europeus. Enquanto isso, navios de guerra britânicos estão a caminho do Estreito de Gibraltar para exercícios militares, manobra cuja importância tem sido minimizada por autoridades espanholas e britânicas.
Apesar de ambos os governos terem entrado de acordo há muito tempo sobre o deslocamento, a passagem das embarcações pela região – uma delas prevista para atracar no território em disputa – deverá ser vista como uma declaração simbólica da soberania britânica. / AFP e EFE