André Luis Woloszyn
Analista de Inteligência Estratégica
É consenso entre os órgãos de inteligência em todo o mundo que o principal problema destes recai no vazamento ou comprometimento de suas informações sigilosas, algumas, potencialmente formadoras de crises diplomáticas e institucionais. E, nos últimos anos, este entendimento vem se confirmando com os constantes vazamentos para órgãos de imprensa, de assuntos altamente sigilosos, os quais vem sendo encarados pela comunidade internacional, de maneira geral, com perplexidade.
O termo comprometimento é definido pela comunidade de inteligência como sendo o acesso a dados e informações de natureza sigilosa em seus diferentes níveis, (confidencial, secreto e ultra-secreto) por pessoas ou entidades não credenciadas para tal. Agrava a situação o fato de que, em todos os episódios, as informações são comprometidas não por ações da espionagem adversa, mas por funcionários dos próprios órgãos, responsáveis pela salvaguarda destes conhecimentos.
Nos últimos três anos, o problema vem recrudescendo sem que as agências, especialmente a dos EUA, consigam estanca-los, inobstante o aumento nas regras de segurança para acesso a documentos por parte de seus integrantes e investimentos na área de contra- inteligência, responsável direta pela segurança de todas os dados, informações e do conhecimento produzido em um órgão desta natureza.
Os constantes vazamentos
No ano de 2010, o militar norte americano, Bradley Manning, da inteligência do Exército dos EUA foi o responsável por compartilhar milhares de documentos secretos de natureza militar e diplomática com o site Wikileaks, causando constrangimentos internacionais e expondo o pensamento da inteligência norte americana e sua política.
Em 2012, outro vazamento, de dezenas de documentos, por um dos assessores pessoais do Papa Bento XVI, que apontavam corrupção e conflitos internos no Vaticano, aspectos de sua política externa e cartas pessoais do Pontífice acarretou uma crise interna sem precedentes na cúpula da Igreja Católica, fatores que especula-se ser um dos responsáveis pela renúncia de seu líder máximo.
Ainda neste ano, informações secretas de uma série de ataques cibernéticos com o vírus Stuxnet realizados pelos EUA, por determinação do Presidente Barack Obama, às instalações nucleares do Irã com o objetivo de retardar seu programa nuclear vazaram para a imprensa que usou-as em matérias sensacionalistas. As investigações da operação “Jogos Olímpicos” realizadas pelo FBI apontaram para o General James Cartwrigt, como principal suspeito
Em 2013, Edward Snowden, um técnico da Agência Central de Inteligência (CIA), que havia trabalhado também para a Agência de Segurança Nacional (NSA), portanto, uma fonte confiável, assombrou o mundo com a revelação de documentos que apontavam a existência de um novo sistema até então desconhecido, denominado PRISM, destinado a ações de vigilância e monitoramento realizado pelos órgãos de inteligência dos EUA a seus cidadãos, estrangeiros e residentes nas redes sociais, além do recebimento de informações privadas sobre outros cidadãos em diversas partes do mundo, pelas grandes empresas provedoras da internet.
Nesta esteira, novos episódios de espionagem governamental apareceram na mídia como o caso da agência de espionagem britânica (GCHQ) que, em conjunto com a NSA, grampeou as comunicações realizadas por cabos de fibra ótica, que inclui ligações telefônicas e mensagens via e-mails em todo o Reino Unido.
As repercussões internacionais
Estes episódios causaram perplexidade a opinião pública internacional, notadamente os programas que envolvem a espionagem governamental em redes sociais e a comunicações privadas que, de forma ampla, atingem diversos países, inclusive o Brasil. E, levanta antigas polêmicas sobre direitos e garantias individuais sobre a privacidade das pessoas e a validade ou não da perda parcial destas garantias para se obter um grau de segurança que também não pode ser garantido.
A priori, a maioria dos órgãos envolvidos tem seus motivos, focados na segurança nacional, direcionadas a identificar e neutralizar ameaças internas e externas, ou retomar antigos preceitos éticos e morais, como no caso do Vaticano. Mas será apenas isso?