Jailton de Carvalho
BRASÍLIA
Estudos de cenário da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) indicam que as manifestações iniciadas há quase um mês vão continuar nas próximas semanas. A ABIN aponta ainda como um detalhe preocupante o surgimento de protestos de rua em cidades pequenas. São áreas urbanas sem a presença de movimentos sociais, onde autoridades locais não estão acostumadas a lidar com situações de tensão coletiva.
Segundo análise da agência encarregada de assessorar a Presidência da República em questões relevantes para o país, as medidas anunciadas pelo governo demoram algum tempo até surtirem efeito e a falta de resultados imediatos serve de mais combustível para os protestos.
– A tendência das manifestações é continuar, talvez não na proporção que tiveram até o momento – disse o diretor da Abin, Wilson Trezza.
Segundo ele, as manifestações ganharam uma dimensão mítica. Muitos manifestantes estariam indo às ruas para reivindicar melhorias no serviço público e protestar contra a corrupção, entre outros temas visíveis em cartazes erguidos pelas multidões. Mas muitos estariam participando dos protestos apenas pelo orgulho pessoal de estar no centro dos acontecimentos.
– As pessoas que vão para as ruas estão sendo vistas com admiração. Isso começa a estimular outras (que estão em casa) a fazerem o mesmo. Assim, quanto mais as manifestações crescem, mais elas crescem – diz Trezza.
A agência, segundo ele, já havia detectado riscos de protesto de membros do "Copa para quem ?", movimento que lidera as manifestações contra os gastos públicos na Copa das Confederações. Mas, claro, não passou pelos radares da agência que os protestos arrastariam multidões.
Ele lembra que o primeiro protesto do Movimento Passe Livre, o grupo que puxou as primeiras grandes manifestações, reuniu pouco mais de 100 pessoas em São Paulo no início do mês. Duas semanas depois, milhares de pessoas estavam saindo às ruas em São Paulo, no Rio, Porto Alegre, Brasília e muitas outras cidades, numa proporção nunca vista na história do país.
Com o fim da Copa das Confederações neste domingo, as atenções do serviço de inteligência se voltam para a Jornada Mundial da Juventude. A agência entende que o encontro internacional de jovens católicos no Rio de Janeiro tornam os protestos de rua ainda mais preocupantes. O encontro, que deve reunir milhão de fiés na presença do Papa Francisco, ocorrerá em campo aberto. Diferentemente do que acontece nos estádios, a polícia não terá condições de isolar totalmente as áreas. Sem isso, as multidões no encontro religioso estariam mais expostas que as massas de torcedores em jogos da Copa.