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ANARQUISTAS – Nossa bandeira é a revolução


Humberto Trezzi


Quem são e o que pensam os militantes que vestem negro e pregam a mais radical forma de militância ideológica durante os protestos que tomaram conta das ruas de Porto Alegre e do país nas últimas semanas.

Eles não são apenas contra o governo, muito menos contra um projeto de lei. São é contra o Estado, como o conhecemos. Desdenham da luta contra a corrupção ou outras bandeiras reformistas. Não querem reestruturação da sociedade e sim revolução: pacífica, para alguns, violenta, para outros. Pregam contra o Deus religioso e o deus capitalista (o cartão de crédito). São a pura expressão daquele cartaz que pulula nas manifestações, “contra tudo que está aí”. Eles são os anarquistas, a mais radical forma de militância ideológica nas manifestações que tomaram conta do país – excetuados os saqueadores, que parecem não ter motivação política.

A Polícia Civil está convencida de que anarquistas de diversos matizes estão por trás da onda de depredações que acompanha os protestos, mas ainda busca provas. Alguns não escondem suas táticas. Na manifestação de quinta-feira, um grupo de jovens com bandeiras negras ornamentadas com um A (de anarquismo) tomou conta do miolo da Praça da Matriz, na Capital. Magro, com rosto coberto e usando óculos escuros, um jovem sentado sobre o monumento a Júlio de Castilhos despontava como organizador. Conversava com militantes, orientando como deveriam se infiltrar na multidão.

Após falharem na tentativa de tomar conta do protesto, alguns anarquistas começaram a atirar pedras em direção ao Palácio da Justiça. Logo foram imitados por gangues infiltradas no protesto, que passaram a vandalizar e saquear, dando origem ao conflito que se alastraria para várias ruas da cidade.

Por que a violência? É uma estratégia. Em especial, dos Black Blocs, que vestem negro e usam lenços sobre o rosto, como os mascarados que atuaram na Matriz. São grupos antiglobalização e anticapitalismo. Ao contrário de outros movimentos, pacifistas, os Black Blocs usam táticas de destruição pontual de símbolos capitalistas.
 

Entrevista – Nossa bandeira é a revolução”

Léo Cardoso


Vestido de preto dos pés à cabeça, óculos escuros e lenço camuflado no rosto, o rapaz berra palavras de ordem na Praça da Matriz, na Capital. Ele aceita falar. “Não esquece que a mídia também é alvo”, ressalta. Confira a conversa, no início da noite de quinta-feira:

Zero Hora – O que vocês desejam?

Militante – Nossa bandeira é a luta pela revolução, contra toda a opressão criada pelo poder de todos os tempos. O poder corrompe, nós somos contra o poder. O poder sempre vai te manipular. A mídia sempre vai te manipular. Estamos lutando contra essa m. aí. Tarso, nós vamos tocar fogo no teu palácio…

ZH – Violência para mudar?

Militante – A violência é reflexo da fome do brasileiro. Se o brasileiro não tivesse fome, se todo o brasileiro tivesse educação, ninguém roubava, ninguém assaltava nada. Se a polícia não jogasse bomba de gás em nós, não jogasse bala de borracha, ninguém quebrava nada. Se todo mundo ganhasse R$ 3 mil de salário mínimo, ninguém precisava protestar. Motivo para protestar não falta no Brasil. E a mídia sempre vai te incriminar.

ZH – Vocês querem revolução?

Militante – Somos a favor da revolução armada. Só tocando o terror no olho do burguês e do poderoso é que eles vão ficar com medo do poder da população. E a guerra de classes um dia vai vir. Um dia tu vai ser ser degolado, rapaz.

 


Ação é investigada


Existem outras linhas anarquistas em Porto Alegre. Uma delas é a dos punks (ou anarcopunks), grupos de jovens que protestam contra o capitalismo e beiram o nomadismo. Em 2005, 43 deles foram presos em um sobrado do Bom Fim, onde havia mais de 30 molotov – que não chegaram a ser usados. Todo esse pessoal foi investigado pelo delegado Paulo Cesar Jardim, da 1ª Delegacia de Polícia Civil. Foi dele a ação contra os anarcopunks em 2005.

Agora a Polícia Civil está às voltas com outra onda de radicalismo, e o encarregado de investigar o que está por trás da violência dos protestos é o delegado Marco Antônio de Souza, do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM). Ele comandou busca realizada semana passada na sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Foram encontradas em uma sala garrafas de vidro, além de uma substância suspeita, acondicionada em garrafas Pet. Este produto foi encaminhado para perícia. A operação no local foi motivada por uma denúncia anônima. O delegado diz que as garrafas poderiam servir para artefatos explosivos.

Outro foco de checagem da polícia são os adversários tradicionais dos anarquistas, os grupos de “Carecas” ou radicais de extrema direita. Eles também usam preto, cabeças raspadas e flertam com o nazifascismo. A investigação sobre extremistas de direita foi solicitada pelo próprio Bloco de Lutas, condutor dos protestos, ao governador Tarso Genro. São investigados 50 dos 106 detidos até agora. Uma tarefa difícil, desabafa o delegado Antônio Vicente Vargas Nunes, diretor do DPM:

– Quando pegos, os vândalos não confessam sequer esse crime, muito menos sua ideologia.

A FAG diz que os agentes não apresentaram mandado judicial e ressalta que funciona há 18 anos sem esconder as atividades.

– O governador Tarso Genro faz coro com a direita ao nos criminalizar. Não somos responsáveis pelos conflitos: nossas armas são as ideias e os livros. Não somos uma organização criminosa – afirma Guilherme, um representante da FAG, ao criticar a ação policial.

O fato é que, até agora, não existem provas de ligação da FAG com o vandalismo dos últimos dias nas ruas da capital gaúcha

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