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Guerra de informação

 

Vivian Oswald


A guerra de informações nunca foi tão ostensiva no planeta. Enquanto os Estados Unidos explicam o que os serviços secretos faziam com dados de e-mails de milhões de cidadãos; os governos americano e britânico, em meio a denúncias, mantêm a campanha para justificar a seus respectivos eleitores suas ações no Oriente Médio. A primeira década do século XXI marca o uso sem precedentes da propaganda por governos e grupos de protestos. A tecnologia digital – como comprovou o WikiLeaks – criou novos caminhos para que as pessoas desafiem e critiquem as mensagens do Estado. Esse é um dos recados da exposição "Propaganda: poder e persuasão", que acaba de ser inaugurada pela British Library, na capital britânica.

A mostra reúne uma série de propagandas de Estado divulgadas do início do século XX até hoje. Boa parte vem do acervo da própria biblioteca. Segundo o curador da exposição, Ian Crooke, a exposição debate as formas como uma informação pode ser usada.

– A propaganda, como vemos na exposição, mudou ao longo dos anos. Ela foi se adaptando para atingir os diversos públicos – afirmou.

Crooke também ressaltou que, com o avanço de sites como o Twitter e o Facebook, a autoria dessas peças de publicidade, antes restrita a um pequeno setor, tornou-se muito mais aberta:

– As mídias sociais transformaram todos em potenciais propagandistas.

Este fenômeno aumentou o desafio do Estado. Antes detentor do monopólio da informação, ele, agora, precisa lidar com diversas fontes. Divulgar sua mensagem torna-se cada vez mais difícil.

Dependência dos governos

Segundo um cartaz da exibição, "a guerra de longa data contra o terror e os combates no Iraque e Afeganistão apresentaram um novo desafio para governos, organizações militares e cidadãos em busca de informações. O governo confia à mídia a função de disseminar muitas das suas mensagens, mas a credibilidade (dos meios de comunicação) se sustenta na percepção de (sua) independência".

A tentativa de afirmação desta independência pode ser refletida, por exemplo, nas edições dos jornais britânicos "Daily Mail" e "Daily Mirror", quando questionaram o fato de que jamais foram encontradas armas de destruição no Iraque. O governo britânico usou a suposta existência do arsenal como desculpa para invadir aquele país.

As salas interativas da exposição mostram as diferentes finalidades da propaganda, da incitação à guerra ao combate de doenças. Seja qual for a razão, os governos são os que mais tentam validar e justificar suas ações pela publicidade. Dependem dela para obter a aprovação do povo e influenciar o seu comportamento.

Logo na entrada, há cartazes gigantes de algumas personalidades que melhor souberam usar a propaganda para conquistar as massas – uma lista que abrange nomes como Mao Tsé-tung, Joseph Stalin, Evita Perón, Winston Churchill e Adolph Hitler.

Estes personagens são recentes, mas a propaganda é uma prática muito antiga – anterior, inclusive, a seu próprio nome. Ela estava na Antiguidade, em moedas cunhadas com o busto dos governantes que deveriam ser amados; em grandes monumentos e esculturas romanos; em retratos a óleo feito por artistas para eternizar a face da realeza. Mas foi apenas no século XVII que surgiu a palavra em latim "propagare", adotada pela Igreja Católica para referir-se à disseminação de crenças e doutrinas.

Os impérios mudam de tamanho

A autoafirmação obtida pela propaganda entorta até a geografia. No livro "No rumo do Império", escrito por Henrique Galvão em 1934, o mapa "Portugal não é um país pequeno" mostra uma imensa mancha alaranjada avançando sobre o Leste Europeu, chegando a países como Hungria e Bulgária. O motivo: a nação lusitana teria este tamanho se também fossem consideradas suas colônias africanas: Angola e Moçambique.

O livro foi produzido para apoiar a Primeira Exposição Colonial Portuguesa, comemorar o expansionismo do país e estimular o orgulho nacional. Depois do evento, o mapa passou a ser usado nas escolas pelo país, mostrando que Portugal era tão grande ou mesmo maior que outros países europeus.

Poucos anos antes, o Reino Unido havia adotado uma tática semelhante. Em 1927, um cartaz destacou o volume recorde de exportações do país para a Índia: "Apoie seu melhor consumidor pedindo sempre produtos do Império."

As grandes exposições e feiras mundiais são exemplos recorrentes de como os governos podem se promover tanto nos seus mercados internos quanto no cenário global. Mas a reafirmação dos Estados também pode ser feita de maneiras menos comuns, como a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria.

Imagem manipulada de líderes

A mostra destaca materiais que exaltam líderes como Hitler, normalmente presente sozinho nas peças publicitárias – uma demonstração de que ele é o chefe absoluto. Outro devoto da propaganda era Joseph Stalin. Em uma ilustração, o ríspido ditador soviético aparece em uma montanha da Geórgia, sua terra natal, lendo um livro de poesias. Desta forma, tentava-se convencer a população de que, à sua frente, estava um comandante esclarecido e preparado.

 Stalin, aliás, era tão ciente da importância de sua imagem que, para sustentar o seu mito, apagou as peças publicitárias que exaltavam seu rival e contemporâneo, Leon Trotski. O ditador soviético se considerava o herdeiro natural de Vladimir Lênin, líder da Revolução Russa. Lênin e Stalin aparecem juntos, em uma ilustração da revista "A União Soviética", publicada em meados dos anos 1950. Era mais uma forma de exaltá-los como arquitetos do comunismo e a continuidade do regime.

Também foi pela propaganda que os americanos venderam títulos da guerra para levantar fundos com as mensagens "Garanta liberdade de expressão, compre bônus da guerra". Durante a Primeira Guerra Mundial, um cartaz e seu slogan ficaram famosos mundialmente. Nele, o "Tio Sam" aponta para frente, mirando os jovens do país, e intimando: "Eu quero você no Exército dos Estados Unidos".

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