O presidente eleito Hassan Rohani demonstrou sua postura mais moderada em sua primeira coletiva de imprensa ao afirmar que pretende manter a postura do regime islâmico quanto a questão nuclear, mas que promete mais transparência sobre essas atividades.
Sobre a guerra civil síria, outra questão sensível em relação ao Ocidente, ele reiterou a posição de seu país e afirmou que o caso deve ser resolvido pelos próprios sírios, considerando que o governo de Bachar al-Assad deve continuar no poder até as eleições presidenciais de 2014.
Rohani, um religioso moderado de 64 anos e apoiado pelos reformistas, fez estas declarações durante seu primeiro encontro com imprensa desde sua eleição na sexta-feira no primeiro turno, após oito anos de poder conservador sob o comando de Mahmoud Ahmadinejad marcado pela crise nuclear.
"O tempo das exigências ocidentais (para interromper o enriquecimento de urânio) é passado", declarou o presidente eleito, garantindo que há "muitas maneiras de construir a confiança", porque o Irã "fará (o exercício) de mais transparência para mostrar que suas atividades estão em conformidade com as regras internacionais".
O Irã, apesar de suas negativas, é acusado pelo Ocidente e Israel de querer desenvolver armas nucleares sob o disfarce de um programa nuclear civil.
A comunidade internacional impôs sanções contra o Irã para forçá-lo a suspender suas atividades nucleares. Paralelamente, as negociações entre o Irã e as grandes potências (grupo 5+1) para resolver a crise não registraram progressos.
"O princípio é tornar mais ativas as negociações com o grupo 5+1 (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia, China e Alemanha). A questão nuclear só pode ser resolvida por meio de negociações. As ameaças e sanções não são eficazes", ressaltou.
"As sanções são injustas, o povo iraniano não fez nada para sofrer com elas. Nossas atividades (nucleares) são legais. Essas sanções só beneficiam Israel", acrescentou Rohani.
As sanções internacionais provocaram uma grave crise econômica no Irã.
Sobre o diálogo com os Estados Unidos, inimigo aberto do Irã, o presidente eleito ressaltou que "o diálogo com os Estados Unidos deve ser feito dentro da legalidade e do respeito mútuo. Os Estados Unidos não podem intervir nos assuntos internos do país e reconhecer os direitos nucleares do Irã e cessar sua política unilateral e de pressão".
Rohani, que toma posse em 3 de agosto, prometeu durante a sua campanha eleitoral mais flexibilidade no diálogo com o Ocidente, mas a sua vitória não significa uma ruptura na política da República islâmica. Os assuntos estratégicos, como a questão nuclear e as relações internacionais, são geridos diretamente pelo Guia Supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
Segundo a Constituição, o presidente é a segunda força do Estado.
Na questão nuclear, "Rohani irá se valer de sua experiência na diplomacia para reduzir a pressão das sanções por meio da negociação" com as grandes potências, declarou Mohammad-Bagher Nobakht, seu conselheiro para assuntos econômicos, citado nesta segunda-feira pela imprensa.
Rohani ressaltou ainda que seu governo irá desenvolver as relações com a Arábia Saudita, que se deterioraram nos últimos anos, principalmente devido à crise síria.
"A prioridade do meu governo é fortalecer as relações com os países vizinhos (…) Os países do Golfo Pérsico e árabes têm uma importância estratégica e são nossos irmãos", disse, no momento em que as monarquias sunitas do Golfo mantém relações extremamente cautelosas com o Irã xiita, acusando-o de interferir em seus assuntos internos.
Sobre a Síria, onde o Irã apoia o regime de Assad, Rohani indicou que "a crise síria deve ser resolvida pelo povo sírio. Somos contra o terrorismo, a guerra civil e a intervenção estrangeira (…) O governo deve ser respeitado por outros países, até as próximas eleições (presidenciais de 2014) e, em seguida, é o povo quem decidirá".
Os países ocidentais e a Rússia receberam de forma positiva a eleição de Rohani e Washington se disse pronto "a cooperar sobre a questão nuclear". Israel, contudo, fez um apelo para que a pressão sobre o Irã continue para obrigá-lo a suspender suas atividades nucleares.
Rohani, o "sheik diplomata", esteve à frente das negociações nucleares entre 2003 e 2005, sob a presidência do reformista Mohammad Khatami. Na época, o Irã aceitou a suspensão do enriquecimento de urânio após negociações com a troika europeia (França, Grã-Bretanha e Alemanha).
De acordo com resultados definitivos, Rohani obteve 18,6 milhões de votos (50,68%), e ficou à frente do prefeito conservador de Teerã, Mohammad Bagher Ghalibaf, que recebeu 6,07 milhões de votos, e do chefe dos negociadores na questão nuclear, Said Jalili, com 3,17 milhões, que era apoiado pela ala dura do regime.