REYNALDO TUROLLO JR.
DE SÃO PAULO
Criada em 2004 pelo Planalto para apoiar Estados em crise na segurança pública, a Força Nacional de Segurança (FNS) vem sendo usada cada vez mais para suprir deficiências da Polícia Federal.
Ações da alçada da PF, como patrulha de fronteiras, combate a crimes ambientais e proteção a testemunhas, estiveram entre as operações mais recorrentes da FNS nos últimos cinco anos.
Os dados constam de relatório das operações da FNS obtido pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
Das 123 operações realizadas pela FNS de novembro de 2004 a abril deste ano, 33 (27% do total) foram em apoio à PF, a maioria delas no Norte do país.
No início, como forma de assegurar a autonomia dos Estados, apenas governadores podiam acionar a FNS. Em 2008, contudo, o Ministério da Justiça também autorizou órgãos federais a solicitá-la.
Para Jones Leal, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, a FNS está sendo usada para tapar buracos da atuação da PF, sobretudo nas fronteiras.
"Nossas atribuições legais estão sendo usurpadas e as polícias dos Estados de origem ficam desfalcadas", afirma o sindicalista, que defende mais contratações na PF.
O governo federal, que coordena as operações da FNS, paga diárias de R$ 200 em média aos policiais da Força, que continuam a receber salário nos Estados.
A secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, diz que a FNS não substitui a PF, mas apenas dá apoio no policiamento.
Questionado sobre falta de efetivo e o papel das parcerias com a Força Nacional, o comando da PF não respondeu.
Segundo a Federação dos Policiais Federais, a PF tem cerca de 12 mil servidores em todo o país –em São Paulo, só a PM tem 88,7 mil homens.
A Força Nacional dispõe de um efetivo flutuante de cerca de 1.300 policiais civis e militares, bombeiros e peritos.
Em março deste ano, um decreto presidencial ampliou novamente a possibilidade de acionamento da FNS –ministros agora podem pedir apoio.
O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) já usou o mecanismo, por exemplo, para conter protestos de trabalhadores e ativistas nas obras da usina de Belo Monte (PA).
A secretária Regina Miki afirma que a ampliação dos "chefes" da FNS não afetará a soberania dos Estados.