Ricardo Fan
Em um discurso inflamado durante o encerramento do “Festival Internacional Antifascista”, realizado em Caracas, o presidente venezuelano Nicolás Maduro ameaçou invadir Porto Rico com o apoio de “forças do Brasil”, a fim de libertar o território caribenho da “colonização” dos Estados Unidos.
Maduro fez referência ao “Batalhão Abreu de Lima”, uma alusão ao general brasileiro José Inácio Abreu e Lima, que lutou ao lado de Simón Bolívar nas guerras de independência da América do Sul no século XIX. O uso do nome do batalhão visa destacar um simbolismo histórico de união entre os povos latino-americanos contra potências estrangeiras, embora a menção tenha sido recebida com ceticismo por analistas e autoridades. O Batalhão Abreu de Lima é frequentemente utilizado como retórica por Maduro para exaltar a ideia de solidariedade regional em prol de causas revolucionárias.
A declaração ocorreu em meio às recentes tensões diplomáticas provocadas pelas intenções do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de anexar e controlar o Canal do Panamá, a Groenlândia e o Canadá. Segundo Maduro, tais intenções são um reflexo de um programa de colonização por parte dos Estados Unidos, ao qual a Venezuela pretende responder com um “programa de libertação”.
“Assim como o Norte tem um programa de colonização, nós temos um programa de libertação. A liberdade está em suspenso em Porto Rico e a alcançaremos com as tropas do Brasil”, declarou Maduro.
A fala do líder chavista provocou uma rápida reação de Jennifer González, governadora dos Estados Unidos em Porto Rico, que enviou uma carta ao presidente eleito Trump, solicitando uma resposta firme ao regime venezuelano.
“Confio que a sua [Trump] administração responderá rapidamente e deixará claro para o narco-regime de Maduro que os Estados Unidos protegerão vidas e soberania americanas e não se curvarão a criminosos mesquinhos e assassinos”, afirmou González.
O governo brasileiro, por sua vez, ainda não se manifestou oficialmente sobre a declaração de Maduro. A relação entre Brasil e Venezuela é marcada por tensões. O governo brasileiro não reconheceu a vitória de Maduro nas eleições de 28 de julho de 2024, cuja legitimidade não foi comprovada. No entanto, os dois países mantêm relações diplomáticas.
Especialistas veem a declaração como parte de uma estratégia de Maduro para reforçar o discurso antiamericano e desviar atenção das crises internas que assolam a Venezuela. Além disso, analistas consideram improvável que o Brasil apoie qualquer iniciativa militar dessa natureza, especialmente considerando o contexto político e diplomático atual.
Cenário Geopolítico Tenso
As declarações de Maduro acrescentam um novo elemento de tensão às relações entre os Estados Unidos e a Venezuela. O presidente eleito Donald Trump ainda não comentou diretamente sobre o discurso, mas é esperado que sua administração adote uma postura dura contra o governo chavista, que tem sido alvo de sanções internacionais.
Porto Rico, um território não incorporado dos Estados Unidos, possui status de estado livre associado, com seus cidadãos gozando de nacionalidade americana. Qualquer ameaça de invasão ao território seria vista como um ataque direto à soberania dos Estados Unidos, ampliando o potencial de escalada militar e diplomática na região.
A situação também destaca a posição incômoda do Brasil, que, apesar de manter relações diplomáticas com a Venezuela, tem evitado se envolver diretamente nos conflitos geopolíticos da região. Resta saber como o governo brasileiro irá reagir a mais essa polêmica envolvendo seu vizinho do norte.
A hipocrisia da situação não passa despercebida, especialmente considerando que a Venezuela já opera como um estado ditatorial mascarado de democracia. Além disso, o próprio festival antifascista, promovido por um regime que restringe liberdades civis e reprime opositores, ilustra um paradoxo evidente. O Brasil, por sua vez, também enfrenta alertas crescentes sobre o risco de seguir um caminho similar, com avanços autoritários ameaçando a democracia no país.