Uma série de assuntos não mencionados na imprensa são alvos indiretos, a maioria para as Forças Armadas: Programa Nuclear, submarinos, obuseiros
Relatório Reservado
26 Novembro 2026
O boicote do Carrefour à carne brasileira não mobilizou, no dia de ontem, apenas o Ministério da Agricultura, a Fazenda e o Itamaraty, diretamente envolvidos com a questão. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que, a princípio, nada tem a ver com o assunto, acompanhou com apreensão os desdobramentos do caso. Tem seus motivos.
Seu receio é que, por vias oblíquas, o incidente diplomático respingue em uma importante negociação com a França conduzida no âmbito da sua Pasta. Há informações em Brasília de que Silveira está em tratativas com o governo francês para a compra de pequenos reatores nucleares. As conversas ganharam voltagem durante a recente estada do presidente Emmanoel Macron no Brasil para participar do G20.
A ameaça agora é que o projeto perca energia com a escalada do episódio Carrefour. A decisão do CEO global do grupo, Alexandre Bompard, de suspender a aquisição de carne do Mercosul desencadeou um contra-embargo, com o boicote de frigoríficos brasileiros aos supermercados da rede no país.
Cada ministro dá atenção ao calo que lhe aperta. Se Carlos Fávaro, da Agricultura, passou o dia de ontem em contatos com os grandes frigoríficos nacionais, a quem apoiou publicamente, Alexandre Silveira dedicou-se a monitorar o estrago que o imbróglio pode gerar para a sua Pasta.
O que está em jogo é uma alternativa de retomada do programa nuclear brasileiro. Os SMR (Small Modular Reactor) têm aproximadamente 10% do tamanho de um reator convencional de uma usina atômica. Como o nome sugere, trata-se de equipamentos modulares, de fácil transporte, instalados diretamente no local onde a energia será gerada e consumida.
Até prova em contrário, a França desponta como o parceiro certo para a finalidade certa. O país é um dos mais avançados do mundo na produção de SMRs. A estatal EDF criou uma subsidiária, a Nuward, exclusivamente focada no desenvolvimento de pequenos reatores. Em abril deste ano, o governo francês injetou cerca de 300 milhões de euros no projeto. Cabe lembrar também que há outros átomos a unir os dois países. A França já é parceria do Brasil no PROSUB, o Programa de Submarinos da Marinha, que prevê a construção da primeira embarcação com propulsão nuclear do país.
Dentro do governo, Alexandre Silveira é o principal entusiasta da compra de pequenos reatores. Ele enxerga a oportunidade de ressuscitar o programa nuclear a um custo menor. O equipamento é uma opção mais barata do que a construção de usinas atômicas. Em seu primeiro mandato, não custa lembrar, o governo Dilma chegou a anunciar estudos para a implantação de cinco novas plantas. E disso não passou. E nem passará.
Silveira prega o factível, como a conclusão de Angra 3, orçada em R$ 30 bilhões. No último dia 19, em entrevista ao programa “Em Ponto”, da GloboNews, defendeu enfaticamente o uso de energia nuclear – “Nós temos que desenvolver essa cadeia e estamos levantando essa discussão”.
Se o ministro de Minas e Energia quer a retomada do programa nuclear, são grandes as chances de o projeto avançar. Alexandre Silveira é hoje um dos nomes mais importantes e prestigiados do governo Lula. O ministro tem se revelado uma eminência “às claras”, exercendo sua influência a olhos vistos.
Trata-se de um personagem de peso no PSD, partido da base aliada do presidente Lula. Seu poder sobre a Petrobras é notório – foi o principal responsável pela demissão de Jean Paul Prates da presidência da estatal. Bate de frente com a Aneel e com o presidente da agência, Sandoval Feitosa, dia sim e o outro também.
Costurou toda a complexa negociação com a Argentina para a importação de gás natural das reservas de Vaca Muerta. Sob sua gestão, o Brasil realizou os maiores leilões de transmissão da história, com investimentos somados da ordem de R$ 40 bilhões. Lançou também o Plano Decenal de Expansão de Energia, uma espécie de PAC do setor, que reúne projetos estimados em R$ 3,2 trilhões. A ver apenas se a carne não contamina suas pretensões para a área nuclear.
Nota DefesaNet
A viagem do presidente francês Macron ao G20 e à Argentina foi cuidadosamente negociada pela chancelaria francesa do Palácio de Orsay. O foco era reforçar o vínculo em certos campos como a Defesa.
Assim com a ajuda efetiva do embaixador francês em Brasília DF, Sr. Emmanuel Lenain, está sendo negociada a extensão de um contrato para mais dois submarinos Classe Scorpene / Riachuelo.
Para a Argentina a continuidade do pré-contrato de 3 submarinos assinado durante a Euronaval com o Naval Group.
E com a o Chile o primeiro país a adquirir submarino classe Scorpnene nos anos 90, duas unidades para substituir agora os obsoletos IKL alemães.