(Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta sexta-feira de “intromissão” o pedido de informações feito pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos à fabricante sueca de aeronaves Saab sobre a venda de caças Gripen ao Brasil, assinada em 2014.
“Eu acho que um pedido de informações dos Estados Unidos é intromissão dos Estados Unidos numa coisa de outro país. É descabida essa informação”, disse Lula em entrevista à rádio CBN/O Povo, de Fortaleza.
“Não sei a informação que ele está pedindo, também não quero fazer julgamento precipitado. Mas não tem sentido pedir informação de um avião que um país comprou, de um carro que um país comprou”, afirmou.
Em comunicado divulgado na quinta-feira, a sueca Saab informou sobre o pedido feito pelo Departamento de Justiça norte-americano, e ressaltou que tanto as autoridades brasileiras quanto as suecas investigaram a compra e concluíram as investigações sem encontrar indícios de irregularidades.
O Departamento de Justiça não divulgou o porquê de ter pedido informações agora sobre a licitação da Força Aérea Brasileira (FAB) de 10 anos atrás.
Em 2016, procuradores brasileiros acusaram formalmente Lula, então ex-presidente, de usar sua influência para ajudar a Saab a vencer a licitação para 36 caças no valor de 5,4 bilhões de dólares.
O ação penal foi suspensa pelo então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski — hoje ministro da Justiça — por considerar que não havia indícios de qualquer ilegalidade na licitação e que a compra “ocorreu, rigorosamente, dentro dos parâmetros constitucionais de legalidade, legitimidade e economicidade.”
Os advogados de Lula disseram à época que o caso era uma “perseguição política”.
“Eu, na verdade, não tenho conhecimento de como foi comprado o avião. O que eu sei é que a companheira Dilma comprou o avião que era o mais econômico, me parece que era o mais barato e custava menos. É uma avião de um conjunto de país, é um sueco que tem participação da Inglaterra, de vários outros países”, disse Lula.
O processo de compra dos caças foi iniciado no governo Lula, mas foi finalizado por sua sucessora, Dilma Rousseff. Lula lembrou que ele queria comprar os caças franceses Rafale, por considerar que tinham mais tradição, mas deixou a decisão para Dilma que, em acordo com os militares, decidiu pela Saab, que faria transferência de tecnologia para o Brasil.
“Os americanos não gostaram quando eu disse que ia comprar o Rafale, queriam que eu comprasse os aviões deles. E certamente não gostaram quando a Dilma comprou o sueco”, afirmou.
O terceiro participante da licitação internacional era o F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, que inicialmente era o preferido das Forças Armadas. Os Estados Unidos, no entanto, não aceitaram compartilhar tecnologia com o governo brasileiro.