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Apontamentos de um Velho SOLDADO para um COMANDANTE

APONTAMENTOS DE UM VELHO SOLDADO PARA UM COMANDANTE

Pinto Silva Carlos Alberto [1]

“….. como sábio capitão, tudo corria e via e a todos dava,
com presença e palavras, coração….” Os Lusíadas, Canto 4 – Luís de Camões

           (Obs: o capitão é o comandante em todos os escalões. Ousamos acrescentar a ….
 “com presença e palavras, coração…”, justiça e exemplo)

As pessoas devem ver o mundo da maneira que é, e não da maneira como gostariam que fosse ou esperam que seja. Não adianta apostar na esperança, a já que a autoilusão pode dominar a todos e levar a linhas de ação ruins.

Há necessidade de se enfrentar a realidade e ser eficaz (alcançar objetivos); planejar a longo prazo e atuar no presente, ou seja, ser concreto para ser abstrato. (CONCRETO – o que já se conhece e já se pratica no cotidiano, ABSTRATO – novo conceito que se pretende alcançar).

O aperfeiçoamento permanente na busca da operacionalidade é um procedimento essencial que permite analisar e melhorar processos, diminuir gastos e aumentar o desempenho pela contínua identificação, compreensão e adaptação das práticas e processos excelentes, encontrados dentro e fora das Forças.

Nesse sentido decorre a imposição de:

  • enfrentar a burocracia e se desvencilhar dela;
  • rapidez nas mudanças, romper com práticas que não passam de estorvo;
  • que todos na atividade tenham uma atitude positiva acreditem na necessidade de ser o melhor e fazer alguma coisa, para isso;
  • questionar o passado, não para críticas destrutivas e sim buscar oportunidades de melhoria;
  • não esperar a resposta perfeita para não ser atropelado pelo mundo;
  • esquecer o passado, o que ficou para trás, por mais que tenhamos feito; e
  • velocidade na implantação de novas mudanças, ideias e novas capacidades na busca da Transformação nas FA.

O combate do futuro exigirá cada vez mais recursos humanos capacitados, adestrados, experimentados, motivados, permanentemente disponíveis e comprometidos com os valores mais caros à instituição. Nesse viés, competências essenciais serão requeridas aos líderes nos diversos níveis, bem como aos demais elementos das frações de emprego. (Manual de Fundamentos Conceito Operacional do Exército Brasileiro – Operações de Convergência 2040 (EB20-MF-07.101), 1ª Edição,2023.)

No cerne desse ambiente faz-se necessário desenvolver uma atmosfera em que as pessoas ousem tentar novas realizações e que só sua criatividade, energia e padrões de capacidade pessoal imponham restrições às distâncias alcançáveis e à velocidade do avanço.

Há necessidade de pessoas que:

  • sejam dinâmicas e autoconfiantes; que enfrentem a realidade de todos os dias;
  • considerem o mais importante a cabeça e o coração dos auxiliares subordinados do que os planejamentos detalhados;
  • orgulhem da organização, do trabalho, das realizações e das novas ideias;
  • se empenhem em ser as melhores, porque elas são vencedoras;
  • insuflem vida às ideias, para que não sejam apenas palavras;
  • sempre preguem a ideia da operacionalidade, em todas as ações nas FA;
  • tenham a cultura orientada para o desempenho;
  • não se julguem as donas da verdade, porque sempre algo acontece para as despertar da irrealidade;
  • tenham paixão pelo trabalho; e
  • estejam ansiosas por realizações (envolvimento pessoal e dedicação, é preciso sentir o apetite pessoal dos componentes das FA).

Há necessidade de se criar à cultura da participação, que mobiliza forças e gera o compromisso de todos com os resultados, todos os dias a contribuição de cada um é importante.

Pessoas extraordinárias, e não estratégias ou ideias notáveis, são os fatores críticos de sucesso.

Deve-se confiar nas pessoas, principalmente nas que fazem acontecer.

Lembrem-se sempre e difundam aos seus subordinados, muitos deles também comandantes:

  • que reclamações não fazem um vencedor e sim a gestão correta, realizações e eficácia;
  • a constância de propósitos e o compromisso do comando com novos princípios devem ser repetidos e reforçados, e a sua prática estimulada até que a mudança desejada se torne irreversível.
  • é preciso persistência e continuidade, aproveite todas as ocasiões para difundir ideias, bem como do entendimento de que não há espaço para medíocres no mundo atual. 

Há necessidade de que os Comandantes das FA, sejam modeladores e difusores de culturas voltadas para o desempenho, que definam suas funções em termos de identificar e constantemente comunicar valores comuns aos subordinados, moldando-os de modo a melhorar o desempenho, buscando recursos sejam humanos, materiais ou financeiros, vivendo valores comuns, ouvindo na maior parte do tempo, e falando uma linguagem diferente daquela tradicional das nossas Forças.

Os Comandantes devem assegurar que suas Organizações Militares permaneçam focadas na missão, baseada nos valores e orientada para a diversidade de missões e serem cumpridas. Devem ser líderes de uma “Parceria Fora Do Comum” que produza resultados e permita medidas comuns de desempenho de todos.

Na mente e coração dos nossos Comandantes deve estar a redescoberta da necessidade de definir, moldar e usar valores essenciais, comuns à nossa Instituição e a cultura de mudanças.

Os Comandantes em todos os níveis da Instituição devem estar focados no “como ser”, como desenvolver qualidade, caráter, mentalidade, valores, princípios e coragem. Devem saber que as pessoas são o principal ativo de nossas organizações e buscar através de palavras, condutas e relacionamentos um sistema de gerenciar mais circular, flexível, que, permitindo a liberação do espírito e do esforço humanos, leva as ações até as bordas mais extremas do círculo a fim de desencadear a energia da responsabilidade compartilhada.

Nossas Organizações Militares devem ser vistas como comunidade de pessoas e não unicamente como frações preparadas e prontas para cumprir missão ou conquistar objetivos designados.

Os Comandantes nos níveis superiores não devem assumir responsabilidades que podem e devem ser exercidas por militares subordinados. Devem primeiro confiar nos subordinados até prova em contrário e assegurar que os subordinados, que são competentes para exercer as responsabilidades a eles atribuídas, compreendam os objetivos a serem atingidos e se comprometam com eles.

Não podemos ter um grupo propondo a visão, os valores e a direção e um outro realizando sua implementação. Embora a visão tenha que partir do topo da organização, todos devem estar aptos e motivados a contribuir com ideias e, pelo menos, acreditar na visão e na direção. E, uma vez que os subordinados saibam para onde estão indo, os comandantes não podem divorciá-los do processo de implementação.

É essencial que a pirâmide esteja de cabeça para cima quando se começa a definir a visão, os valores, a missão e os principais objetivos. Ninguém faz objeções a uma visão, direção e valores provenientes da cúpula. Mas se a pirâmide permanecer de cabeça para cima quando a visão, metas e objetivos estão sendo implementados ou conquistados, encontraremos subordinados não comprometidos e não alcançaremos a Excelência Militar

.O Comandante para ser eficaz deve fazer constantemente indagações. A inquirição sincera demonstra vontade de conhecer e aprender, desejo de servir e humildade que pode ser a inspiração para toda OM.

Os chefes devem ser pessoas voltadas para o aprendizado, isto é, devem ser capazes de ouvir atentamente, refletir após indagar e receber informações e apoiar aqueles que têm coragem de dizer duras verdades antes que os problemas se transformem em desastres.

Os Comandantes precisarão direcionar o foco para áreas vitais de mudanças, identificadas em cada fonte de informação importante, obter maior realização dos trabalhos, com mais rapidez e com menos apoio financeiro e administrativo.

Desenvolvendo processos que garantam a indagação, o aprendizado e o acompanhamento contínuos, os Comandantes crescerão na função, de forma a produzir um impacto positivo e mensurável na Força.

Somos nas FA uma organização virtual, no sentido de que comandamos pessoas que não podemos ver nem controlar em todos os aspectos. Esse tipo de chefia por controle remoto só pode funcionar bem quando a confiança existe em ambas as direções. A confiança, assim com a autoridade, precisa ser conquistada, testada e, caso necessário, perseguida. Na função de chefia não devemos usar apenas o estilo “sigam-me” e sim uma “liderança distribuída”.

Precisamos viver de acordo com que falamos que somos. Se não fizermos o que pregamos não podemos esperar que os subordinados o façam.

Há necessidade de exercer o mando hierárquico, mas também, uma autoridade conquistada, que exige uma combinação incomum de atributos:

  • somente a crença em si mesmo proporcionaria ao indivíduo a autoconfiança para caminhar em direção ao desconhecido e persuadir outros a irem aonde ninguém esteve antes[2]. Todavia, a crença precisa ser combinada com uma dúvida razoável, a humildade de aceitar que às vezes podemos estar errados, que outros também têm ideias e que ouvir é tão importante quanto falar;
  • a paixão pelo trabalho proporcionaria a energia e o foco que orientam a organização e atuam como exemplo para os demais, mas também precisa estar combinada com seu oposto, uma consciência de outras realidades, pois o foco pode ofuscar, ou seja, gerar uma incompatibilidade de pensar além do próprio espaço;
  • consideração, camaradagem, e deferência pelos subordinados, para ser respeitado e seguido de bom grado; e
  • capacidade para a solidão, pois, nem sempre é possível compartilhar suas preocupações com mais alguém. “Poucos agradecerão ao Comandante pelo que der certo, mas muitos o condenarão quando os resultados forem negativos” [3].

Finalizando essas reflexões, lembro que os Comandantes precisam caminhar sozinhos de tempos em tempos, mas, também, precisam colher sua satisfação através do sucesso dos outros, dando-lhes reconhecimento que muitas vezes lhes é negado.


[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] https://economia.uol.com.br/empreendedorismo/colunistas/2012/12/26/organize-sua-empresa-como-uma-pelada-de-varzea-e-corra-rumo-aos-lucros.htm

[3] https://www.linkedin.com/pulse/papel-do-coaching-como-ferramenta-para-o-da-lideran%C3%A7a-amaral/

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