O terrorismo Global e o possível impacto nos jogos Olímpicos de Paris
DefesaNet entrevista o Analista de Assuntos Estratégicos e Especialista em Contraterrorismo, André Luís Woloszyn, no tema “Perspectiva para o terrorismo internacional face ao atual conflito no Oriente Médio” Woloszyn atuou como analista na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), é diplomado em Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra (ESG-2004) e autor dos livros Terrorismo Global e Ameaças e Desafios a Segurança Humana no Séc. XXI, ambos publicados pela Biblioteca do Exército Editora.
DefesanNet: Como você analisa a conjuntura atual em relação ao terrorismo internacional?
Se considerarmos o terrorismo uma estratégia de retaliação contra adversário com forças imensamente superiores em tecnologia, efetivos e armas, é alta a probabilidade da ocorrência de atentados terroristas em um curto espaço de tempo, face ao conflito entre Israel e os grupos terroristas Hamas e Hezbollah.
Sabemos que os atentados são instrumentos de retaliação, neste caso, pelas operações do Exército de Defesa de Israel (EDI) na Faixa de Gaza e uma vingança contra os países que apoiam política, logisticamente e operacionalmente Israel por meio de uma força de coalização como EUA e Reino Unido. Atingir alvos civis e simbólicos do adversário acarreta grandes impactos na mídia internacional além de implicações políticas para os países alvos, situação que em um confronto bélico direto não traria tais repercussões. Como o terrorismo se alimenta e se fortalece pela mídia e pela propaganda, este seria um cenário plausível.
DefesaNet: Na sua opinião, atualmente, quais os países que apresentam maior potencial para um atentado terrorista?
Uma oportunidade única para atentados terroristas é, sem dúvida, as Olimpíadas de Paris 2024, em que representações destes países estarão concentradas para os jogos e como acontece em grandes eventos, o monitoramento e a vigilância, quer eletrônica como pessoal, se torna mais difícil face ao grande número de pessoas circulantes, de diferentes países, nos centros urbanos e nos locais das competições. Judeus franceses, EUA e Reino Unido são hipóteses que não podem ser descartadas.
DefesaNet: Como a França pode se preparar para esta possibilidade?
Acredito que como ocorreu nos Jogos Olímpicos no Brasil (2016), muitas agências de inteligência internacionais e grupos de operações especiais de contraterrorismo estarão presentes e atuando em conjunto com a inteligência e polícia francesa. Um ponto positivo nisso é que os franceses adquiriram expertise em operações desta natureza face aos atentados envolvendo a Revista Satírica Charles Hebdo e a Casa de Shows Bataclan (2015), dentre outros.
DefesaNet: Diante desta conjuntura de riscos e ameaças a decisão em manter aos Jogos Olímpicos de Paris é correta?
A resposta dos franceses em manter os Jogos Olímpicos é correta. Suspendê-los seria uma demonstração de fraqueza internacional, de incapacidade de manejo de ameaças, portanto uma vitória para o terrorismo internacional. Ceder a coação, a intimidação e as ameaças, historicamente, obtiveram efeito contrário ao desejado pois além de não impedir que atentados ocorressem, acarretaram no fortalecimento ideológico dos grupos além de fomentarem o ímpeto desses grupos, de células adormecidas ou mesmo de lobos solitários para realizar ataques, estimulados pela propaganda “vitoriosa”.
Defesanet: Você acha possível um atentado terrorista em Paris durante os Jogos Olímpicos?
Atentados terroristas podem ocorrer em qualquer país do planeta, sem exceção. Neste sentido, é possível que uma ação terrorista possa acontecer na França ou em qualquer outro país europeu ou no continente americano. Claro que os mais elaborados, com planejamento antecipado e uma rede hierárquica como vimos no 11 de setembro está se tornando a cada dia mais difícil face aos instrumentos de monitoramento, vigilância e controle tecnológicos disponíveis. Todavia, ações de menor intensidade como as que ocorreram na Maratona de Boston (2013) ainda são possíveis uma vez que lobos solitários, pessoas comuns radicalizadas, a maioria das vezes buscam um alvo aleatório, decidido horas ou minutos antes da ação, com base na melhor oportunidade.
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As eleições francesas com o crescimento de partidos de extrema esquerda como a France Insoumise, simpatizantes do Hamas e da Irmandade Muçulmana e claramente antissemita, não deverá influir no cenário de futuros atentados na França.