Iniciativa é um marco na inclusão das mulheres no setor operativo das Forças Armadas
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Vanessa Mendonça – Rio de Janeiro, RJ
Nesta segunda-feira (19), começou a ser escrita uma nova página na história da Marinha do Brasil (MB) e nas Forças Armadas. Dos 720 jovens que iniciam o período de adaptação no Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN) neste ano, 120 são do sexo feminino. Esse fato inédito representa a inclusão das mulheres em todos os corpos, quadros, escolas e centros de instrução da MB, permitindo que, de agora em diante, elas passem a ocupar cargos e funções que antes eram destinados apenas a homens.
Já nas primeiras horas do dia, as jovens chegaram ao Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA), na Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), onde o curso é realizado. “Aqui, nós entramos como civis e vamos sair Soldados Fuzileiros Navais. Tenho certeza de que, ao final da nossa formação, estaremos mais maduras. É muita honra saber que, depois de tantos anos, a gente está participando desta nova era. Agradeço imensamente por essa oportunidade”, revelou a Aprendiz-Fuzileiro Naval Lohana Cristina dos Santos de Almeida.
Muitas até perderam o sono de tanta ansiedade. “Só me vem à cabeça o quanto tudo isso é inovador. Nem dormi na noite passada pensando nisso. E agora, finalmente, coloquei meus pés aqui. Vai ser um marco para o Brasil e uma carreira incrível para todas as mulheres aqui presentes”, refletiu a Aprendiz-Fuzileiro Naval Isabela Vernin.
Para garantir uma recepção adequada e inclusiva às mulheres, o CIAMPA passou por diversas mudanças nos últimos meses. Entre elas, estão a criação de um alojamento feminino, com um sistema de reconhecimento facial para a entrada e câmeras de segurança em seu entorno; a adaptação da enfermaria; a reformulação de normas internas de comportamento social; e a atualização do material de combate, para que seja mais anatômico às mulheres.
“A integração das mulheres no Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais é uma demonstração clara do compromisso contínuo da Marinha do Brasil em se adaptar e evoluir conforme as exigências da sociedade contemporânea, sem comprometer o poder de combate da Força. Ao longo dos anos, temos visto as mulheres demonstrarem capacidade, determinação e habilidades excepcionais e, agora, teremos a honra de vê-las brilhar como Fuzileiros Navais”, ressaltou o Capitão de Mar e Guerra (FN) Vanderli Nogueira, Comandante do CIAMPA.
Como parte da preparação do CIAMPA, também foram realizadas visitas e consultas a diversas instituições militares, nacionais e internacionais, que já passaram pelo processo de integração da mulher em suas fileiras. Além disso, faz parte da equipe do CIAMPA, a Capitão-Tenente (Auxiliar Fuzileiro Naval) Gizelle Rebouças, que integrou a primeira turma com a presença de Oficiais femininas no Curso de Formação de Oficiais Auxiliares do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).
“O ingresso das Aprendizes no C-FSD-FN reforça o crescente reconhecimento do CFN acerca do importante papel que as mulheres desempenham na segurança nacional e na defesa da Pátria. Este significativo avanço muito contribuirá com a eficácia operacional da Instituição, ao trazer novas perspectivas e habilidades valiosas. Cabe ressaltar a importância de aproveitar ao máximo essas capacidades, respeitando as diferenças”, reforçou ela, que é encarregada do núcleo de acompanhamento do segmento feminino.
Saiba mais sobre o curso
O Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN) capacita os Aprendizes para desempenharem as responsabilidades inerentes à posição de Soldado Fuzileiro Naval (SD-FN) nas unidades do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). O curso tem uma duração total de 19 semanas, das quais 10 são realizadas em regime de internato.
Durante esse período, os Aprendizes participam de três exercícios de campo, sendo os dois primeiros realizados no Complexo Naval do Guandu do Sapê (CNGS), no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro (RJ), onde colocam em prática os conhecimentos adquiridos nas sete disciplinas ministradas ao longo de 112 dias letivos. O terceiro exercício de campo ocorre na Ilha da Marambaia, também no Rio de Janeiro, sendo considerado um marco na transformação completa em um combatente anfíbio do cidadão que ingressou no curso.
As atividades principais do curso incluem Instrução Militar Naval, Ordem Unida, Treinamento Físico Militar, Instrução Básica de Combate, Operações de Fuzileiros Navais, Armamento e Tiro, além de Ética Profissional Militar.
Histórico de pioneirismo
A trajetória de pioneirismo das mulheres na Marinha foi um processo gradual, iniciado em 1980, com a criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha. Na década de 1990, houve uma reestruturação de Corpos e Quadros, que ampliou a participação delas em cargos de Direção, Comando e Comissões.
Em 2012, a Contra-Almirante (Médica) Dalva Maria Carvalho Mendes foi a primeira militar brasileira promovida ao posto de Oficial-General das Forças Armadas, sendo seguida, em 2018, pela Contra-Almirante (Engenheira Naval) Luciana Mascarenhas da Costa Marroni e pela Contra-Almirante (Médica) Maria Cecília Barbosa da Silva Conceição, promovida em março de 2023.
Em 2014, 12 jovens integraram a primeira turma de Aspirantes femininas na Escola Naval, a mais antiga instituição de ensino superior do País. Já em 2017, uma lei concedeu a oportunidade de as mulheres ingressarem em todos os Corpos, na Escola Naval (Corpo da Armada, Corpo de Fuzileiros Navais, além do Corpo de Intendentes da Marinha, opção que já estava disponível anteriormente). E em 2023, ingressaram as primeiras mulheres na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina e no Colégio Naval.
Fonte: Agência Marinha de Notícias