(Reuters) -O Ministério da Defesa decidiu reforçar a presença militar brasileira na região de fronteira com a Venezuela e a Guiana e vai enviar blindados para um grupamento militar localizado em Boa Vista, capital de Roraima, em meio ao aumento da tensão entre os dois vizinhos após o plebiscito em que os venezuelanos aprovaram a anexação da região guianense de Essequibo.
“O Ministério da Defesa informa que ocorre movimentação de blindados do Exército para completar a dotação de material do 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado, localizado em Boa Vista (RR), e recém-criado em substituição ao 12º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado. Essa movimentação já estava planejada e consta do Plano Estratégico do Exército”, disse a pasta em comunicado nesta terça-feira.
O Centro de Comunicação Social do Exército confirmou a antecipação do “reforço de tropas e meios de emprego militar nas cidades de Pacaraima e Boa Vista”, embora tenha ressaltado que, no lado brasileiro, o movimento na fronteira tem sido normal.
O comunicado destacou que a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Roraima, que tem um “efetivo de quase dois mil militares, intensificou sua ação de presença naquela faixa de fronteira visando atender, em melhores condições, à missão de vigilância e proteção do território nacional”.
“Ressalta-se que a evolução do atual Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, orgânico daquela Brigada, para um Regimento de Cavalaria Mecanizado, é uma ação estratégica pré-planejada que já constava no Planejamento Estratégico do Exército (PEEx)”, acrescentou.
Segundo o Exército, o processo resultará em um aumento do número de militares na área, além de viaturas blindadas, que serão deslocadas do Sul e do Centro-Oeste do país para Roraima.
“Tais meios, como as 16 Viaturas Blindadas Multitarefa 4×4 — Guaicurus, serão deslocados para comporem a recém criada Unidade Militar, ao longo do mês de dezembro, com uma previsão de cerca de 20 dias para chegarem à Boa Vista”, afirmou.
Uma fonte ligada ao Comando do Exército havia afirmado mais cedo à Reuters que os blindados de modelo Guaicuru e militares das Regiões Sul e Centro-Oeste do país estavam seguindo para Roraima a fim de reforçar a segurança naquela região.
Houve também, conforme a fonte, a elevação de status do grupamento militar, deixando de ser um esquadrão de cavalaria para um regimento de cavalaria. Embora ainda não haja os números oficiais do reforço, disse a fonte, um regimento pode alcançar até 600 militares.
Desde a semana passada, o Ministério da Defesa resolveu intensificar as ações de defesa na região.
O Centro de Comunicação Social do Exército já havia confirmado um aumento do efetivo no pelotão de fronteira de 70 para 130 militares. Segundo o órgão, as movimentações de tropas fazem parte do adestramento avançado da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, visando manter a prontidão e eficiência operacional da Força Terrestre.
A fonte ligada ao Comando do Exército disse na segunda-feira que, do lado brasileiro, o movimento na fronteira tem sido normal. A fonte destacou que a vigilância permanente na região foi reforçada para evitar que o Brasil venha a ser surpreendido com qualquer tipo de ação militar tentando usar parte do território brasileiro.
“Nenhuma ação de qualquer dos dois lados poderá se valer do nosso território”, ressaltou a fonte.
DESINFLAR
Em entrevista à Reuters na segunda-feira, a secretária para América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan, disse que a América do Sul tem condições para “desinflar” as tensões entre Venezuela e Guiana de forma a evitar um confronto depois do plebiscito no fim de semana aprovou a anexação de boa parte do território da vizinha Guiana.
Segundo ela, o governo brasileiro acompanha com preocupação a situação entre os dois vizinhos, mas não acredita que a situação irá avançar para um confronto armado, uma vez que diversas negociações estão sendo feitas por líderes da região — incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — com os presidentes de Venezuela e Guiana.
“Acompanhamos a situação com preocupação, mas eu não creio que vamos chegar a isso (conflito armado). Acho que a gente tem capacidade na região para desinflar esse processo”, disse a embaixadora à Reuters ao ser questionada se o clima entre os dois países poderia culminar em um confronto militar.
“A gente defende uma solução pacífica para essa questão, e o que a gente não quer é o que o presidente Lula chamou de confusão, e eu chamo de conflito. Acho que seria totalmente indesejável um conflito em um momento que a gente está retomando a integração da América do Sul, retomando reunião dos 12 países sobre diversos temas, inclusive defesa”, acrescentou.