Publicado Wall Street Journal 21 Abril 2013
ANDY PASZTOR
A decisão dos reguladores americanos de autorizar que os 787 Dreamliners voltem a voar encerra três meses de uma estratégia por vezes dramática que a Boeing adotou para demonstrar a segurança da aeronave e para salvar seu principal produto.
O trabalho da Boeing para melhorar o sistema de baterias de íon de lítio desde que duas delas pegaram fogo, em janeiro, marcou um dos esforços mais notórios e arriscados da história da indústria aeronáutica para adaptar um avião já em produção.
Na sexta-feira, a Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), autoridade dos Estados Unidos que regula o setor aéreo, anunciou a aprovação do novo redesenho do sistema de baterias do 787. O chefe da FAA, Michael Huerta, disse que os especialistas da agência supervisionaram "testes rigorosos" e se "dedicaram por semanas à revisão da análise detalhada" para garantir a segurança do novo sistema. A decisão abre caminho para a FAA divulgar ordens detalhadas nesta semana para as companhias aéreas concluírem alterações nos cerca de 50 Dreamliners já entregues. As mudanças incluem melhorias internas para a bateria e uma nova caixa de contenção.
As aeronaves, que estão impedidas de voar desde a metade de janeiro, serão autorizadas a retomar os voos com passageiros depois que a FAA e órgãos reguladores de outros países aprovarem os ajustes. Espera-se que os reguladores estrangeiros sigam o exemplo da agência americana. Mas o restabelecimento dos voos depende, no final, de cada uma das oito companhias aéreas que operam com o jato atualmente. Por exemplo, a LAN Airlines, do Chile, espera ter de volta no ar pelo menos um de seus três Dreamliners no fim de maio. Já as duas aéreas japonesas que receberam quase metade dos 787 em serviço, Japan Airlines Co. e All Nippon Airways Co., não retomarão seus voos antes de junho, de acordo com executivos do setor.
Imagens de baterias queimadas — uma das quais provocou um pouso de emergência e a evacuação dos passageiros de um 787 no Japão — mancharam a reputação de um avião que os executivos da Boeing tinham dito ser crucial para o futuro da empresa.
A Boeing não revelou o custo de ter em terra os 787 já entregues, mas analistas dizem que a fabricante pode ter de pagar indenizações a clientes. A suspensão dos voos também impediu a entrega de novos Dreamliners, atrasando centenas de milhões de dólares em receita para Boeing.
A Boeing agora precisa focar em convencer seus clientes e passageiros de que a aeronave é segura e confiável.
"A aprovação da FAA abre caminho para nós e as companhias aéreas darmos início ao processo de retomar os voos do 787 com confiança na segurança desse incomparável avião", disse o diretor-presidente da Boeing, Jim McNerney.
Alguns executivos de companhias aéreas temem que, pelo menos no início, "os passageiros possam ter uma reação exagerada", disse o diretor-presidente da Polish Airlines AS, Sebastian Mikosz, que opera dois Dreamliners. "Vamos insistir na mensagem de segurança."
A expectativa é de que a Boeing tenha um papel secundário no marketing do 787 para os passageiros, segundo oficiais do setor a par do problema. A principal tarefa da Boeing será ajudar as companhias aéreas a elaborar suas próprias táticas de relações públicas para reintroduzir o jato ao público.
Executivos da empresa e veteranos do setor estão convencidos de que o melhor antídoto para as questões de segurança do Dreamliner pode ser simples: vários meses consecutivos de serviços rotineiros sem um único caso de emergência com as baterias.
"Ser muito agressivo" no início, quando muitos passageiros podem ter esquecido os incidentes de janeiro, "pode ir contra a meta final deles, que é tranquilizar o público", disse Sally Ray, especialista em comunicação de crise e reitora regional da universidade Western Kentucky.
Logo após a suspensão dos voos, os executivos da Boeing disseram às autoridades da FAA que algumas mudanças simples poderiam ser suficientes para resolver o problema.
Mas, segundo pessoas a par das deliberações do governo, a FAA e o secretário de Transportes dos EUA, Ray LaHood, pediram salvaguardas adicionais. Foi então que os engenheiros da Boeing ajustaram o conceito de uma caixa de contenção, o que consideraram uma solução praticamente infalível.
A caixa suporta temperaturas mais elevadas do que a do modelo anterior e impede o vazamento de químicos perigosos. Ela também ventila fumaça para o exterior da aeronave e, em caso de sobreaquecimento, suga automaticamente o oxigênio da bateria para eliminar qualquer incêndio em uma fração de segundo.