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As conexões entre Ciência Política, Relações Internacionais e Estudos Estratégicos

As conexões entre Ciência Política, Relações Internacionais e Estudos Estratégicos

Eduardo Freitas Gorga
Doutorando em Estudos Estratégicos da Defesa
e da Segurança pelo PPGEST/ INEST/ UFF

Em tempos de potencialização da globalização, uma grande interconexão entre as nações é incrementada pela ampla disseminação das informações e pelo capitalismo. Nesse espaço, o campo dos Estudos Estratégicos observa a dinâmica internacional e os contextos nacionais dos setores da Segurança e da Defesa.

Tal campo foi consolidado, internacionalmente, após a Segunda Guerra Mundial, a partir da área dos “Strategic Studies”, nos Estados Unidos da América e nos Estados europeus ocidentais. Dessa maneira, o progresso das questões dos Estudos Estratégicos e das Relações Internacionais conservam significativa relação entre si e analisam, atualmente, o envolvimento de variados atores em cenários de ameaças difusas, como atinentes ao crime organizado transnacional.

É plausível considerar, em alguma medida, que a Ciência Política é uma grande área enquadrante das Relações Internacionais que, em sentido mais estrito, contém os Estudos Estratégicos. A Ciência Política é consagrada como a Ciência do Estado e, ainda, do Poder, que debate, dentre outros aspectos, a soberania, a estrutura, a evolução e as noções sociológicas do Estado (Duverger, 2010).

Em consequência, a política abrange tudo que está relacionado com a arte de governar um Estado, como os estudos das suas interações estratégicas no sistema internacional.

Segundo Kaplan (1974, p. 39), “as Relações Internacionais devem assim ser concebidas por um lado como expressão e projeção das relações sociais e da estrutura global do Estado em questão”, que podem sofrer alterações por influências econômicas, políticas, culturais e militares. Vale salientar que a expressão militar está entre os objetos dos Estudos Estratégicos, que possuem como focos principais a Defesa e a Segurança dos sistemas estatais, tanto no âmbito nacional quanto internacional (Figueiredo, 2009).

Desse modo, os mencionados Estudos integram os Estudos de Segurança, que fazem parte das Relações Internacionais, sendo abrigada pelas análises da Ciência Política (Baylis; Wirtz, 2018).

Na verdade, os chamados Estudos Estratégicos supõem várias subáreas com especificidades próprias. Na pauta da área constam análises das relações entre forças armadas e sociedade; investigações sobre as organizações e instituições militares; estudos de História Militar; exames das conexões entre o poder político e a indústria de defesa; pesquisas relativas à ciência, à tecnologia e à eficiência militar; inquéritos teóricos a respeito das interações entre “Estudos Estratégicos” e “Relações Internacionais”, etc. (Figueiredo, 2010).

Ademais, no século XXI, os Estudos Estratégicos  permeiam um mundo em acelerada complexificação, cuja proximidade com a Ciência Política advém da existência de uma problematização que confronta os Estudos de Segurança Internacional e de Defesa, fundamentalmente pertinente aos temas militares, como da Indústria de Defesa, Logística de Defesa, Ciência e Tecnologia para Defesa, dentre outros. Ainda, referente às Relações Internacionais, há incorporação das análises sobre as correlações de força entre os Estados no sistema internacional, que impactam para as formulações da Política Externa, das Políticas Nacionais no contexto da Segurança Internacional, bem como para as Economias Políticas de Defesa dos Estados.

Tal qual Duverger (2010), que considera imprecisa, conceitualmente, a definição de Ciência Política, em razão dos domínios dessa área não terem sido integralmente estudados, as Relações Internacionais e os Estudos Estratégicos podem contar similarmente com essa situação no meio acadêmico. Os últimos, que são um campo de estudo mais recente, alavancado na segunda metade do século XX, possuem relação estreita com os outros dois supracitados, otimizando as análises da arte do uso da força ou ameaça, violenta, por grupos humanos, em contextos dialéticos do sistema Internacional, para o alcance de fins políticos.

Constata-se que os Estudos Estratégicos estão intimamente atrelados às Relações Internacionais, pois podem ser vistos como a área da ciência que analisa o papel das forças militares no sistema internacional. Para Figueiredo (2009), a essência epistemológica dos Estudos Estratégicos é de substância política, fato que também aloca tais Estudos no escopo da Ciência Política. Assim sendo, observa-se que as relações entre a Ciência Política, as Relações Internacionais e os Estudos Estratégicos podem ser representadas, graficamente, segundo a seguinte figura:

Figura 1 – Relação entre a Ciência Política, as Relações Internacionais e os Estudos Estratégicos

Fonte: elaborado pelo autor com dados de Baylis; Wirtz (2018)

Em relação aos supramencionados Estudos de Segurança, que na Figura 1 abrangem os Estudos Estratégicos, percebe-se que ainda carecem da definição de um melhor espaço na literatura acadêmica, especialmente em termos metodológicos. Isso, em razoável medida, poderá dar sentido à construção de uma ciência mais autônoma, visto que as distinções entre os estudos de Defesa e de Segurança precisam ser estabelecidos com maior precisão (Silva; Gorga, 2023). No mesmo sentido, a Segurança por vezes é definida de modo mais amplo, a fim de que sejam enquadrados os problemas multidimensionais e os complexos riscos atuais (Baylis; Wirtz, 2018).

Observa-se, igualmente, na ampla dinâmica das Relações Internacionais, que as reflexões relativas aos entornos estratégicos nacionais, no âmbito das relações Norte-Sul e Sul-Sul, avultam de importância diante dos temas “clássicos” de segurança e das denominadas “novas ameaças”, como o terrorismo. Paralelamente, como o contínuo desafio à permeabilidade das fronteiras e às soberanias dos Estados, por meio do aprofundamento das análises de Ciência Política, percebe-se em economia política a possibilidade de interações mais amplas entre os mercados nacionais de Defesa e o mercado global de sistemas e equipamentos de Defesa.

Finalmente, conclui-se que as conexões entre os campos dos estudos políticos são multifacetadas, tendo os Estudos Estratégicos também revelado diálogos entre os temas de diplomacia e de formulações de estratégias militares. Desse modo, sobretudo nos domínios concomitantes entre as Políticas Externas e as Políticas de Defesa, a Ciência Política, as Relações Internacionais e os Estudos Estratégicos estão ligados às questões relevantes que envolvam, além das principais potências regionais do globo, no século XXI, variados atores presentes no sistema internacional.

REFERÊNCIAS

BAYLIS, J.; WIRTZ, J. J. Introduction. In: Baylis, J.; Wirtz, J. J. e Johnson, J. (org.). Strategy in the Contemporary World. New York: Oxford, 2018.

DUVERGER, M. Ciência Política: Teoria e Método. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.FIGUEIREDO, E. de L. Os Estudos Estratégicos, a Defesa Nacional e a Segurança Internacional. In: Lessa, R. (org.). Horizontes das Ciências Sociais – Ciência Política. Petrópolis: Vozes, 2010.

FIGUEIREDO, E. de L. Os Estudos Estratégicos como Área de Conhecimento Científico. Tese apresentada para concurso público para Professor Titular em Relações Internacionais e Estudos Estratégicos do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense. Dezembro de 2009.

KAPLAN, M. Formação do Estado Nacional. São Paulo: Editora Nacional, 1974.

SILVA, B. T. P.; GORGA, E. F. The construction of defense studies as a science in Brazil. In: II INTERNATIONAL SEVEN MULTIDISCIPLINARY CONGRESS, 1., São José dos Pinhais, 2023. Anais […]. São José dos Pinhais: Seven Congress, 2023. Disponível em: 10.56238/homeinternationalanais-057. Acesso em: 14 jul. 2023.

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