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Intifada, islamismo, judaísmo: um glossário dos principais termos para entender a guerra entre Israel e o Hamas

Especialistas explicam fatos históricos e a origem de organizações essenciais para a compreensão do conflito no Oriente Médio

Humberto Trezzi
Zero Hora
19 Outubro 2023

Qual a diferença entre judaísmo e sionismo? Quais são os territórios ocupados e quando isso aconteceu? Questões como essas afloram, no momento em que mais um conflito opõem judeus e árabes no Oriente Médio. Atrás de respostas, GZH consultou especialistas para fazer um miniglossário sobre aquela conturbada região, seus fatos históricos e organizações. Para elaborar as explicações, foram ouvidos Iair Grinschpun, historiador, professor de curso pré-vestibular e Enem e na rede pública estadual, Ilton Gitz, historiador, professor de cultura judaica, e Eduardo Svartman, professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

GLOSSÁRIO

Autodeterminação – direito que cada povo tem de se organizar de forma livre e independente.

Autoridade Nacional Palestina – formada em 1994, como consequência do Acordo de Oslo entre Israel e OLP (Organização pela Libertação da Palestina). É controlada pelo partido Fatah e seu líder atual é Mahmoud Abbas. Tem o controle parcial e civil de determinadas áreas da Cisjordânia. Seu poder está bastante reduzido e vem perdendo espaço para o Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

Direito de defesa – direito que qualquer Estado-nação tem de reagir a um ataque de inimigos externos.

Fatah ou Al Fatah – partido político de centro-esquerda, laico, criado em 1959, que controla a Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Guerra de Independência (1948): tão logo Israel declarou sua independência, a Liga Árabe (formada por Egito, Síria, Líbano, Iraque, Transjordânia — atual Jordânia — e Árabia Saudita) não aceitou a partilha da Palestina acertada pela ONU e tampouco a presença de um Estado judeu na região. Os árabes partiram para a guerra contra o recém-criado país. Israel conseguiu vencer os adversários e, como consequência, ampliou parte do seu território originalmente concebido pelas Nações Unidas. Parte da população palestina migrou para países vizinhos. A Cisjordânia ficou sob controle da Transjordânia e a Faixa de Gaza, sob controle do Egito. O Estado árabe-palestino acaba não se concretizando.

Guerra dos Seis Dias (1967): guerra ocorrida em junho daquele ano, iniciada com um ataque preventivo de Israel ao Egito (após relatos de espiões de que os israelenses seriam atacados). Forças sírias e jordanianas apoiaram o Egito, entretanto Israel impôs severa derrota aos exércitos árabes. Em apenas seis dias, os três Estados árabes admitiram a derrota. O resultado é que os israelenses ocuparam a Península do Sinai (egípcia), a Faixa de Gaza (até então ocupada pelo Egito), a Cisjordânia e Jerusalém oriental (então ocupadas pela Jordânia) e as Colinas de Golan (que eram da Síria). Desde então, os palestinos estão sob bloqueio e até cerco israelense, embora administrem os dois territórios autônomos.

Guerra do Yom Kippur (1973): conflito ocorrido em outubro daquele ano, que teve início com um ataque surpresa do Egito e da Síria sobre Israel, no feriado judaico mais importante (Yom Kippur ou Dia do Perdão). A intenção era recuperar os territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias (Sinai e Golan). Outros países enviaram tropas em apoio aos egípcios e sírios e os EUA forneceram suprimentos a Israel. Foi o primeiro conflito em que se empregou massivamente mísseis terra-ar e antitanques, impondo severas baixas aos israelenses. É a guerra em que Israel sofreu mais perdas entre todas que já participou. O conflito não alterou a situação das colinas de Golan, mas implicou a gradual devolução da península do Sinai ao Egito e  a assinatura de acordo de paz e o mútuo reconhecimento entre Egito e Israel. Após essa guerra, os países árabes quadruplicaram o preço do barril de petróleo, levando o mundo à primeira grande crise mundial de combustível. Foi a primeira vez que o petróleo foi usado como instrumento político.

Hamas – grupo islâmico palestino sunita fundado em 1987 durante a primeira intifada. Atualmente controla a Faixa de Gaza. Adversário político do Fatah, que controla a Cisjordânia. O Hamas não reconhece a legitimidade de Israel e tem por objetivo a formação de uma Palestina exclusivamente muçulmana. Usa como uma de suas estratégias os ataques terroristas e, por esse motivo, é considerado por muitos países e analistas como uma organização terrorista, embora entre os palestinos tenha status de partido político.

Hezbollah – originalmente era uma milícia muçulmana xiita, que posteriormente virou um partido político muito importante no Líbano. Foi fundado em 1982 durante a guerra civil daquele país. É um grupo fundamentalista religioso. Tem amplo apoio do Irã, não reconhece Israel e prega sua destruição. Para muitos países ocidentais, trata-se de um grupo terrorista.

Intifada – rebelião popular de palestinos (“sobressalto” em árabe), iniciada em Gaza e Cisjordânia contra a ocupação israelense. Quando começou, na década de 1980, era chamada também de revolução das pedras, porque jovens palestinos revoltaram-se contra soldados israelenses utilizando objetos improvisados como paus, pedras e coquetéis molotov. As maiores intifadas ocorreram nos anos de 1987 e 2000.

Islamismo – terceira religião monoteísta, surgida no século VII na Península Arábica. Tem como premissa básica que só há um Deus, que é Alá. E Maomé, o seu profeta. Seu livro sagrado é o Corão. Atualmente conta com aproximadamente 1,9 bilhão de praticantes no mundo.

Judaísmo – primeira religião monoteísta, surgida por volta de 2 mil a.C.. Acredita num Deus onipotente, onipresente e onisciente e consiste na base da formação do povo judeu. Seu texto sagrado é o Tanach (similar ao Velho Testamento dos cristãos), cujo trecho mais conhecido é o Torá (cinco primeiros livros ou Pentateuco). Atualmente, conta com aproximadamente 15 milhões de praticantes no mundo, sendo dessa forma a menor das religiões monoteístas.

Sionismo – movimento político nacionalista judaico que defende o direito a autodeterminação do povo judeu e a existência de um Estado Nacional independente para o povo judeu. Seria localizado na região onde historicamente existiu na Antiguidade o Reino de Israel, que o povo judeu considera seu lar ancestral.

Tratado de Oslo (1993): primeiro acordo de paz efetivo entre israelenses e palestinos. Foi celebrado entre o então primeiro ministro israelense Ytzhak Rabin (Partido Trabalhista) e o líder palestino Yasser Arafat (Fatah/Organização para Libertação da Palestina, OLP). Foi também o momento mais próximo do entendimento definitivo entre os dois povos. O acordo tinha como principais tópicos: o reconhecimento de Israel e sua legitimidade por parte dos palestinos, o fim do terrorismo por parte dos palestinos e a criação da ANP (Autoridade Nacional Palestina), que teria autonomia relativa para administrar o futuro Estado Palestino (composto pela Cisjordânia e Faixa de Gaza). A ANP controlou durante mais de uma década os dois territórios, até que outro grupo, o Hamas (muçulmano), tomou o poder na Faixa de Gaza. Israel ainda não reconhece os dois territórios como um país e implementa bloqueios aos moradores, sob o argumento de impedir ataques terroristas.

Territórios ocupados: são áreas capturadas por Israel após guerras com países árabes vizinhos. Os principais são os dois territórios palestinos (Faixa de Gaza, anteriormente administrada pelo Egito, e a Cisjordânia, antes ligada à Jordânia). Esses dois são administrados por palestinos, mas sob cerco militar israelense. A ocupação israelense também acontece ao norte, nas Fazendas de Shebaa (que foram do Líbano) e nas Colinas de Golã (tomadas da Síria).

Terrorismo: uso de violência sistemática e indiscriminada para promover o pânico e atingir certos fins políticos e/ou tomar o poder. O recurso é utilizado tanto para atingir tropas militares, líderes políticos ou população civil em geral (alguns autores não consideram terrorismo quando os alvos são militares).

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