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Como ocorreu o ataque sem precedentes do Hamas a Israel

Grupo palestino lançou ofensiva surpresa no início da manhã de sábado que incluiu lançamento de foguetes e infiltração de terroristas armados, que passaram a massacrar civis. Ataque pegou forças israelenses desprevenidas

Israel foi pega de surpresa neste sábado (07/10) por um ataque sem precedentes por ar, mar e terra lançado pelo grupo palestino Hamas, que combinou infiltração de terroristas armados em território israelense, lançamento de foguetes e tomada de dezenas de reféns. No início da noite deste sábado, os israelenses contabilizavam centenas de mortos e mais de 2.000 feridos – números ainda provisórios. Terroristas massacraram civis e chegaram a tomar o controle de comunidades israelenses próximas da fronteira da Faixa de Gaza, o enclave palestino controlado pelo Hamas.

O ataque deste sábado, durante a festividade judaica de Simchat Torah, ocorreu 50 anos e um dia depois da Guerra do Yom Kippur, considerada o último grande episódio que ameaçou a existência de Israel. Na ocasião, forças egípcias e sírias lançaram uma ofensiva durante o feriado judaico do Yom Kippur, em um esforço para recuperarem território que Israel havia tomado durante a Guerra dos Seis Dias, travada em 1967.

Já o ataque deste sábado marca a mais ambiciosa ofensiva já lançada por um grupo palestino. Nem mesmo a sangrenta Segunda Intifada, no início dos anos 2000, que deixou mais de 1.000 israelenses mortos em quatro anos, foi palco desse tipo de incursão em massa no território israelense.

“Estamos em guerra e venceremos”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em pronunciamento em meio ao ataque. O ataque também gerou ampla condenação da comunidade internacional, mas foi saudado por apoiadores do Hamas, como o Irã.

O líder do braço militar do Hamas, Mohammed Deif, disse que a ofensiva, batizada de “Operação Tempestade de Al-Aqsa”, foi uma resposta ao bloqueio de 16 anos a Gaza, aos ataques israelenses nas cidades da Cisjordânia no ano passado, à violência em Al Aqsa – local sagrado de Jerusalém, também chamado de Monte do Templo – ao aumento dos ataques de colonos israelenses aos palestinos e à expansão dos assentamentos israelenses em território palestino.

O ataque ocorre em um momento de delicado da história de Israel, que sofre com pesadas divisões internas em relação à proposta de Netanyahu de enfraquecer o Judiciário. Protestos em massa contra o plano levaram centenas de milhares de manifestantes israelenses às ruas nos últimos meses e fizeram com que centenas de reservistas militares evitassem o serviço voluntário.

O início: barragem de foguetes

Lançamentos de foguetes no início da manhã de sábado camuflaram invasão de homens armados do Hamas

Por volta das 6h30 da manhã (1h30 horário de Brasília), o Hamas disparou uma enorme barragem de foguetes a partir da Faixa de Gaza, tentando atingir cidades de Israel. As sirenes foram ouvidas em locais tão distantes quanto Tel Aviv e Beersheba.

O Hamas disse que disparou 5 mil foguetes em uma primeira ofensiva. Os militares de Israel disseram que 2.500 foguetes foram disparados.

A fumaça se espalhou sobre áreas residenciais israelenses. Pelo menos uma mulher foi morta pelos foguetes.

“Anunciamos o início da Operação Tempestade Al-Aqsa”, e anunciamos que o primeiro ataque, que teve como alvo posições inimigas, aeroportos e fortificações militares, excedendo 5.000 mísseis e projéteis”, disse Mohammed Deif, chefe das Brigadas Izzedine al-Qassam, o braço militar do Hamas.

Infiltração de terroristas em território israelense

Membros do Hamas celebrando em Gaza após retornarem de incursão em território israelense – Foto: Said Khatib/AFP via Getty Images

A barragem de foguetes serviu de cobertura para uma infiltração sem precedentes de homens armados do Hamas por pelo menos 29 pontos da fronteira com a Faixa de Gaza. Às 7h40 (2h40 em Brasília), as forças de segurança de Israel afirmaram que homens armados palestinos haviam invadido Israel.

A maioria dos terroristas atravessou por brechas nas barreiras de segurança terrestre que separam a Faixa de Gaza e Israel. Pelo menos um terrorista foi filmado atravessando a fronteira com o auxílio de um parapente, enquanto um barco a motor repleto de terroristas foi filmado se dirigindo para Zikim, uma cidade costeira israelense.

Vídeos divulgados pelo Hamas mostraram terroristas rompendo as cercas de segurança. A luz fraca do início da manhã sugere que a ação ocorreu paralelamente ao lançamento da barragem de foguetes.

Um vídeo mostrou pelo menos seis motocicletas com combatentes atravessando um buraco em uma barreira de segurança de metal. Em outro episódio, uma retroescavadeira foi usada para derrubar a cerca.

Membros do Hamas usaram até tratores para destruir cerca na fronteira com IsraelFoto: Mohammed Fayq Abu Mostafa/REUTERS

Ataques a bases militares

Militares israelenses informaram às 10h (horário local) que terroristas palestinos haviam penetrado em pelo menos três instalações militares ao redor da fronteira – o posto de fronteira de Erez, a base de Zikim e o quartel-general da divisão de Gaza em Reim. Vídeos e fotografias também mostraram um tanque israelense destruído e cercado por palestinos.

Vídeos divulgados pelo Hamas mostraram terroristas correndo em direção a um prédio em chamas perto de um muro alto de concreto com uma torre de vigia e combatentes aparentemente invadindo parte de uma instalação militar israelense e atirando por trás de um muro.

Mais tarde, vários veículos militares israelenses capturados foram fotografados sendo levados para Faixa de Gaza, onde foram exibidos para a população local.

Tomada de comunidades israelenses

Terroristas também invadiram a cidade fronteiriça israelense de Sderot. Invasões também foram relatadas na comunidade fronteiriça, Be’eri, e na cidade de Ofakim, a 30 quilômetros a leste de Gaza.

Um vídeo mostrou vários homens armados na traseira de uma caminhonete branca passando por Sderot.

A presença dos terroristas levou muitos moradores de cidades do sul de Israel a se barricarem dentro de suas casas.

No meio da manhã, o chefe de polícia de Israel, Yaacov Shabtai, disse que as forças estavam enfrentando homens armados em 21 locais. Às 13h30, os militares disseram que as tropas ainda estavam agindo para expulsar os terroristas das comunidades invadidas.

Massacres de civis

Civis foram massacrados na cidade israelense de Sderot – Foto: Tsafrir Abayov/AP/picture alliance

Centenas de israelenses foram massacrados pelos homens do Hamas, que atiraram indiscriminadamente contra civis.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel disse que os atiradores do Hamas foram de casa em casa matando civis. Em outro episódio, terroristas que circulavam em motocicletas atacaram a tiros uma rave repleta de jovens que ocorria no deserto. Em outro, mataram ocupantes de veículos em uma autoestrada. Pelo menos nove pessoas foram mortas a tiros em um ponto de ônibus na cidade de Sderot. Outro vídeo mostra terroristas desfilando com o cadáver de uma mulher nua no compartimento de carga de um veículo.

Centenas de israelenses procuraram atendimento médico em hospitais de todo o país, muitos em estado crítico.

Falando ao Israel N12 News por telefone de Nir Oz, um kibutz perto de Gaza, uma mulher identificada como Dorin disse que terroristas invadiram sua casa e tentaram abrir a porta do abrigo antiaéreo onde ela estava escondida. “Eles acabaram de entrar novamente, por favor, mandem ajuda”, disse ela. “Há muitas casas danificadas… Meu marido está segurando a porta fechada… Eles estão atirando”, disse ela.

“Saí e vi muitos corpos de terroristas, civis, carros alvejados. Um mar de corpos, dentro de Sderot, ao longo da estrada, em outros lugares, montes de corpos”, disse um morador de Sderot.

Esther Borochov, que fugiu de uma festa atacada pelos atiradores, disse que sobreviveu fingindo-se de morta em um carro depois que o motorista que tentava ajudá-la a escapar foi baleado à queima-roupa. “Eu não conseguia mexer minhas pernas”, disse ela. “Os soldados vieram e nos levaram para os arbustos.”

Tomada de reféns

Refém israelense coberta com um pano sendo levada por homens do Hamas – Foto: AFP/Getty Images

Paralelamente aos ataques a tiros contra civis, os homens do Hamas também fizeram dezenas de reféns. Vídeos mostraram homens armados capturando civis e militares israelenses, incluindo mulheres, que foram levados para a Faixa de Gaza.

Um vídeo mostrou terroristas arrastando pelo menos dois soldados israelenses de um veículo militar. Fotos da Associated Press mostraram uma idosa israelense sequestrada sendo levada à Gaza em um carrinho de golfe por homens armados do Hamas e outra mulher espremida entre dois combatentes em uma motocicleta.

Jornalistas viram quatro pessoas levadas do kibutz de Kfar Azza, incluindo duas mulheres. Em Gaza, um jipe preto parou e, quando a porta traseira se abriu, uma jovem israelense saiu cambaleando, sangrando da cabeça e com as mãos amarradas nas costas. Um homem agitando uma arma no ar a agarrou pelos cabelos e a empurrou para o banco traseiro do veículo. A TV israelense informou que trabalhadores originários da Tailândia e das Filipinas também foram capturados.

Israel confirmou a tomada de reféns. “Há reféns e prisioneiros de guerra que o Hamas fez. Também há mortes entre soldados das Forças de Defesa de Israel. Ainda não temos um número exato – estamos em guerra”, disse o porta-voz das Forças Armadas de Israel, contra-almirante Daniel Hagari.

O número total de capturados é desconhecido.

O chefe da diplomacia da União Europeia condenou a tomada de reféns, “As notícias de civis feitos reféns nas suas casas ou em Gaza são terríveis. Isto é contra o direito internacional. Os reféns devem ser libertados imediatamente”, disse Josep Borrell.

Grupos palestinos já usaram reféns como moeda de troca para exigir a libertação de militantes detidos por Israel. Em 2011, Israel concordou em soltar mais de mil prisioneiros palestinos em troca do soldado israelense Gilad Shalit, que ficou cinco anos em poder de diferentes grupos militantes na Faixa de Gaza.

Retaliação israelense

Edifício atingido por forças israelenses em Gaza em reação à ofensiva do Hamas Foto: MAHMUD HAMS/AFP

Às 9h45 (horário local), Israel começou a bombardear alvos na Faixa de Gaza. Foram ouvidas explosões no centro de Gaza. Às 10h, o porta-voz militar de Israel confirmou que a força aérea do país estava realizando ataques. Serviços de saúde de Gaza afirmaram que os contra-ataques israelenses deixaram mais de 200 palestinos mortos.

Em reação, dezenas de milhares de reservistas israelenses foram convocados emergencialmente. Várias divisões começaram a preparar-se para uma possível invasão terrestre em Gaza. No final da tarde, Israel cortou o fornecimento de eletricidade para Gaza e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, advertiu a população palestina do enclave a deixar áreas de atuação do Hamas, prometendo “vingar” o ataque contra seu país.

“O Hamas iniciou uma guerra cruel e maligna. Nós os atingiremos até o final e vingaremos com determinação este dia negro para Israel e seu povo”, disse Netanyahu em um discurso televisionado. “Israel chegará a todos os lugares onde o Hamas está se escondendo”, disse Netanyahu. “Digo aos moradores de Gaza: saiam daí agora, porque agiremos em todos os lugares e com todas as forças”.

Combates prosseguiam durante a noite

Após mais de 15 horas de combates e incursões do Hamas, as Forças de Defesa de Israel anunciaram que haviam retomado a maioria das comunidades israelenses próximas da fronteira com Gaza, mas combates ainda prosseguiam durante a noite em algumas áreas de Israel. Em Sderot, forças de segurança ainda caçavam um terrorista que havia se refugiado no interior de uma delegacia.

Na cidade de Ofakim, no sul, estavam em curso negociações com homens do Hamas que mantinham reféns, enquanto ocorriam trocas de tiros nas comunidades de Be’eri e Re’im. Em Kfar Aza, militares israelenses faziam buscas casa por casa procurando terroristas escondidos. O exército de Israel indicou na noite de sábado que ainda estava em combate em “22 lugares”. Durante a noite, o Hamas também voltou a disparar foguetes contra o território israelense. Edifícios foram atingidos em Tel Aviv.

Edifício danificado em Tel Aviv após o Hamas voltar a lançar foguetes na noite de sábado

Irã nega envolvimento no ataque do Hamas a Israel

A missão do Irã na ONU negou neste domingo (08/10) envolvimento do país no ataque terrorista do grupo Hamas a Israel. O regime em Teerã declarou apoiar “de forma enfática e inequívoca a causa palestina”, mas rejeitou envolvimento no ataque.

Horas antes, o americano The Wall Street Journal afirmara que Teerã ajudou a planejar o ataque desde agosto e deu luz verde para o seu início numa reunião realizada em Beirute na segunda-feira, 2 de outubro, citando como fontes membros de alto escalão do Hamas e da milícia xiita libanesa Hisbolá, que também é apoiada pelo Irã.

No domingo, o presidente iraniano, Ebrahim Raïssi, apelou aos “governos muçulmanos” para também declararem apoio ao Hamas. O líder iraniano fez a declaração depois de falar separadamente ao telefone com os líderes dos movimentos armados palestinos Hamas, Ismail Haniyeh, e Jihad Islâmica, Ziad al-Nakhala, que recebera, separadamente, em junho, em Teerã.

O Irã mantém relações estreitas com os dois movimentos palestinos e foi um dos primeiros países a saudarem a ofensiva do Hamas, lançada no sábado.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, declarou à emissora NBC News que os Estados Unidos não têm qualquer prova de que o Irã esteja diretamente envolvido no ataque, seja no planejamento, seja na execução. Mas acrescentou que o Hamas “não seria o Hamas sem o apoio que recebeu por muitos anos do Irã”.

Israel em estado de guerra declarada

Classificado pelos EUA e a União Europeia como terrorista, o grupo islâmico Hamas iniciou no sábado um ataque surpresa ao território israelense, com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de terroristas armados.

No domingo, o Hisbolá, que é apoiado pelo Irã, disparou foguetes e artilharia contra três posições nas Fazendas de Shebaa, no norte de Israel, “em solidariedade” ao povo palestino.

As Fazendas de Shebaa, um pedaço de terra de 39 quilômetros quadrados, estão sob controle de Israel desde 1967. Tanto Síria quanto Líbano afirmam que as fazendas são libanesas.

Em resposta ao ataque surpresa, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que Israel está em guerra com o Hamas. O total de mortos nos dois lados do confronto já passa de 1.100 nesta segunda-feira.

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