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TFBR – Victoria Nuland – “Esperamos que o Brasil influencie Maduro para permitir eleições livres”

Em entrevista exclusiva ao GLOBO, Victoria Nuland,  subsecretária de Estado dos EUA, elogia atuação de Lula na crise na Nicarágua e vê potencial de mediação na guerra da Ucrânia. Na foto Victoria Nuland e a embaixadora Americana Elizabeth Frawley Bagley, em reunião, com o Assessor da Presidência Celso Amorim .

Daniel Gullino e Eliane Oliveira — Brasília
O Globo
21 Julho 2023

Os Estados Unidos acreditam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter um papel fundamental para convencer o venezuelano Nicolás Maduro a realizar eleições livres e transparentes em seu país. Lula também é visto como uma saída para que o ditador Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, adote uma política de respeito aos direitos humanos e liberte os padres que estão nas prisões nicaraguenses, por não concordarem com seu governo.

Essa é a avaliação da subsecretária para Assuntos Políticos do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland, que falou com o GLOBO após passar a quinta-feira em reuniões com autoridades em Brasília, como o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, e a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura Rocha.

Nota da Embaixada Americana
Visita da subsecretária de Estado Victoria Nuland ao Brasil
Brasília, 19 de julho de 2023: A subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Victoria Nuland, viaja para Brasília de 19 a 21 de julho. A subsecretária Nuland se reúne com o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, e a secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, além de outros oficiais do governo brasileiro para discutir prioridades globais e regionais comuns, incluindo a promoção dos valores democráticos e a cooperação no Conselho de Segurança da ONU, G20 e outros fóruns multilaterais.

Na entrevista, Nuland, uma das principais autoridades da diplomacia americana, também afirma que o Brasil pode ajudar na mediação de um acordo para o fim da guerra na Ucrânia e reforça o apoio do governo americano à democracia brasileira.

Como foi a sua reunião com Celso Amorim?

Eu diria que tivemos um dia muito bom. Nós realmente já fazemos tanto juntos, mas queremos fazer ainda mais. E, particularmente, trabalhamos juntos de perto em nível regional, mas queremos fazer mais no cenário global. E acho que o presidente Lula quer fazer o mesmo. Eu trato de Assuntos Políticos, então posso cobrir o que estamos a fazer sobre o Haiti e Venezuela, mas também falar sobre esforços para parar a guerra da Rússia contra a Ucrânia, China, todos esses assuntos. Queria ouvir um pouco sobre o que o Brasil está pensando. Vamos ter a primeira cúpula do Brics em algum tempo. Além do que fazemos em relação ao clima, G20.

Sobre a Venezuela, o presidente Lula participou, junto com líderes de outros países, de uma reunião com membros do governo e da oposição da Venezuela. A senhora considera que há possibilidade de avanço?

Esperamos que sim. Foi muito bom ver, na Europa, não apenas o regime de Maduro, mas políticos da oposição trabalhando juntos, vê-los apoiados por líderes europeus, por líderes do Hemisfério (Ocidental), com todos pressionando na mesma direção, que é chegar a uma eleição livre e justa. Espero que isso dê algum impulso e alguma energia. E, obviamente, a liderança do Brasil em tudo isso, e particularmente sua habilidade (diplomática), esperamos que influencie Maduro para realmente permitir um campo livre e justo para essas eleições, para garantir que todos os candidatos possam concorrer, que haja livre acesso à mídia, que as primárias estão abertas, todos esses tipos de coisas.

Lula foi criticado por declarações sobre a Venezuela, como chamar as críticas de “narrativa” e por dizer que o conceito de democracia é relativo. O que a senhora pensa sobre isso?

Obviamente não vou falar pelo presidente Lula ou entrar na cabeça dele. Acho que o importante é que os EUA e o Brasil estejam alinhados na pressão por uma eleição livre e justa. E é isso que queremos ver daqui para frente e que permitirá, esperamos, relações muito mais normais. E, obviamente, se os Estados Unidos tiverem relações mais normais com a Venezuela, isso melhora a capacidade de todos trabalharem juntos no hemisfério.

E em relação à Nicarágua, o Brasil também pode ajudar?

Espero que sim. Ortega não está ouvindo ninguém. Ele está conduzindo seu país contra a parede e é muito, muito triste ver isso. Acho que foi uma iniciativa importante do presidente Lula tentar tirar os padres da cadeia, e muito cínico da parte de Ortega dizer sim e depois dizer não. Espero que o presidente Lula possa ter uma influência melhor em Ortega do que nós tivemos.

Em nível global, o Brasil também tem tentado atuar como um mediador na Guerra da Ucrânia.

Vamos ser claros. Essa guerra é da Rússia, contra a Ucrânia. Este era um país soberano, cuidando da própria vida, até que Putin decidiu que era dele. E não é, é uma nação independente e você pode imaginar como se sentiria se o mesmo acontecesse aqui. Saudamos o fato de que o Brasil e vários países africanos, (além de) Turquia, Arábia Saudita, estão todos interessados em tentar promover um verdadeiro diálogo diplomático entre a Ucrânia e a Rússia. Obviamente, eles têm que estar prontos para isso, em ambos os lados (da guerra), e a Rússia vai ter que respeitar os princípios da Carta da ONU. E essas são as bases sobre as quais qualquer paz justa deve existir. Mas conversamos hoje que, se e quando as partes chegarem a uma mesa diplomática, será importante para os Estados Unidos apoiar esse processo, será importante para o Brasil apoiar esse processo, como será para qualquer outro país que pode ter influência sobre uma ou ambas as partes.

E a senhora vê alguma chance de acordo?

Eu sou uma diplomata. Isso me torna uma otimista. Também me faz acreditar na diplomacia. No momento, vemos ambas as partes acreditando que podem vencer no campo de batalha. Esses esforços seguirão seu curso e então veremos.

Recentemente, o Financial Times publicou que o governo americano teria enviado recados a militares brasileiros de que não aceitaria uma contestação do resultado eleitoral do ano passado.

Acho que fomos muito claros, durante toda a eleição do ano passado, que queríamos uma eleição livre e justa aqui, que acreditávamos que seus sistemas eleitorais eram sólidos e poderiam realizar essa eleição se não fossem adulterados. Quando estive aqui em abril de 2022, fui questionada 400 vezes naquela entrevista coletiva. Deixamos muito claro que não só queríamos que o povo brasileiro pudesse ter seu voto, como acreditávamos no sistema. E nós acreditávamos na época, acreditávamos no 8 de janeiro e deixamos isso claro, e acreditamos agora. (Ver a íntegra da matéria do Financial Times )

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi declarado inelegível até 2030. Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump é investigado, mas provavelmente vai concorrer. Como a senhora avalia essas duas situações?

Vocês tiveram um processo judicial aqui, que nós obviamente respeitamos, que chegou a uma conclusão. Não vou falar sobre o que vai acontecer nos EUA, de uma forma ou de outra, mas temos um processo político em andamento e, paralelamente, vários processos judiciais em andamento, então veremos o que a democracia americana vai entregar. Mas, obviamente, a democracia brasileira foi muito resiliente, vamos ver como nós iremos nos sair.

O que mais foi conversado hoje?

Conversamos sobre a China, como sempre fazemos com o Brasil. Falei sobre a recente visita de meu secretário (de Estado, Antony Blinken) e acho que seu assessor especial (Celso Amorim) provavelmente verá Wang (Yi, chefe da diplomacia chinesa) em breve. Sobre a importância de cooperar onde pudermos, mas também de ser muito firme com a China sobre quaisquer esforços para coagir outros, usar armadilhas de dívidas, pressionar Taiwan ou outros. Esse é outro lugar onde podemos ter uma cooperação positiva.

A senhora vê o Brasil entre os Estados Unidos e a China?

O Brasil tem um tipo de influência diferente do que temos, tanto com a Rússia quanto com a China. E quando unimos forças, temos chances de ter um resultado melhor em nossas relações com os dois países.

A senhora reuniu-se com indígenas hoje. Os Estados Unidos podem aumentar a contribuição para o Fundo Amazônia?

O presidente (Biden) prometeu US$ 500 milhões para o fundo quando o presidente Lula esteve em Washington. Estamos trabalhando com o Congresso para convencê-los que é um investimento realmente importante, não apenas para o Brasil, mas para os Estados Unidos, para a região e para o clima. Mas, como em todas as democracias, temos que apresentar o caso ao Congresso.


Nota DefesaNet
Acompanhe a Cobertura Espcial Task Force Brazil


A nova Chanceler, não nomeada, do governo Lula. será uma Marco Aurélio Garcia redivivo(?).

Seja quela for o motivo da reunião é insólita e merece uma análise.

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