Aeroestruturas produzidas pela sueca em São Bernardo do Campo serão usadas no primeiro caça fabricado pela EMBRAER em Gavião Peixoto
Stella Fontes
Valor
São Paulo
A produção dos caças Gripen no Brasil atinge mais um marco relevante nesta terça-feira (4JUN2023). A primeira fuselagem traseira feita pela SAAB na fábrica de São Bernardo (SP), ficou pronta e seguirá no primeiro lote nacional de partes da aeronave militar para a unidade da Embraer em Gavião Peixoto (SP), consolidando o início da produção em série dos F-39 Gripen no país.
Essa é a primeira vez que o Brasil produz aeroestruturas de um jato supersônico, montado localmente, e o êxito do projeto posicionou a fábrica de São José dos Campos na cadeia global de peças para o caça sueco.
A unidade brasileira da SAAB vai fornecer tanto para a linha do Gripen em Gavião Peixoto quanto para a de Linköping, na Suécia.
Ou ainda, futuramente, para outros países na América do Sul, caso a sueca feche novos acordos na região. Inicialmente, a proposta da fábrica era atender à própria SAAB e não fornecer especificamente para a EMBRAER.
“Ter estruturas aeronáuticas de uma aeronave supersônica produzidas pela primeira vez no Brasil é um marco. O país está conseguindo reproduzir essa tecnologia”, disse ao Valor o diretor-geral da fábrica da SAAB Brasil, Fabricio Saito.
Fabrício Saito: Produção do Gripen no país representa maior programa de transferência de tecnologia da sueca SAAB
O lote que segue ainda neste mês para Gavião Peixoto contempla também a fuselagem dianteira.
São estruturas de elevada complexidade e dimensão relevante. A fuselagem traseira, que comporta o motor do caça, é montada a partir de 750 partes, tem componentes em alumínio e titânio e pesa cerca de 220 quilos — com 1,90 metro de largura por 1,20 metro de altura e 2,50 metros de profundidade.
Segundo Saito, esse é o maior processo de transferência de tecnologia com participação da gigante sueca de Defesa e é resultado da iniciativa do governo brasileiro de acreditar em um programa de desenvolvimento. “A FAB [Força Aérea Brasileira] optou por não comprar um avião de prateleira e apostou em desenvolvimento conjunto, o que permite que os engenheiros brasileiros absorvam conhecimento”, comentou.
Uma vez que o projeto requer transferência de tecnologia, os prazos de desenvolvimento e produção são mais largos. A entrega do primeiro lote nacional de partes para o primeiro Gripen feito no país acontece dez anos depois da assinatura do contrato entre FAB e SAAB. Em 2013, sob o governo Dilma Rousseff, o Brasil acertou a compra de 36 F-39 Gripen, dos quais 15 serão produzidos pela Embraer em Gavião Peixoto.
Conforme o executivo, a conclusão das primeiras peças do caça garantem a conformidade do produto. Ou seja, que ele está em linha com a qualidade que teria se produzido na Suécia. “Um dos desafios é adaptar o processo produtivo. A peça está conforme e, agora, começamos a trabalhar uma a uma com ganho de eficiência”, afirmou. Conforme a SAAB, a fábrica brasileira tem capacidade média de produção de oito fuselagens traseiras, oito fuselagens dianteiras, 14 cones de cauda, 14 pares de freios aerodinâmicos e seis pares de caixão das asas por ano.
A unidade já havia realizado algumas entregas para a Suécia, sede da companhia. Em dezembro de 2020, a unidade concluiu a produção do cone de cauda do Gripen E/F. Em março do ano seguinte, entregou para a fábrica de Linköping o primeiro par de freios aerodinâmicos e, em novembro do ano passado, despachou a primeira fuselagem dianteira do caça.