(RFI) A Ucrânia informou estar pronta para iniciar sua ofensiva durante a primavera europeia contra as forças russas, cujos ataques mataram pelo menos 26 pessoas na sexta-feira (28) em diversas cidades do país.
“Os preparativos estão chegando ao fim”, declarou o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, sobre o grande ataque que seu país quer lançar para reconquistar os territórios ocupados pela Rússia no leste e no sul.
“O equipamento foi prometido, preparado e parcialmente entregue. De uma forma geral, estamos prontos”, disse o ministro em uma entrevista coletiva. “Quando Deus quiser, [quando houver] o clima e a decisão dos comandantes, nós faremos [a contraofensiva]”.
Reznikov acrescentou, no entanto, que os poderosos tanques Abrams prometidos pelos Estados Unidos “não chegarão a tempo para participar desta contraofensiva”, pois sua entrega à Ucrânia só deve acontecer no final de 2023.
Algumas horas antes do anúncio, diversos ataques com mísseis de cruzeiro russos, os primeiros em grande escala desde o início de março, atingiram prédios de apartamentos, causando a morte de pelo menos 23 pessoas em Uman (centro), outras duas em Dnipro (centro-leste) e de um homem encontrado sob os escombros de sua casa na província de Kherson (sul).
“Todo ataque, todo ato perverso contra nosso país e nosso povo aproxima o Estado terrorista do fracasso e da punição”, reagiu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Telegram, exigindo uma “resposta” internacional ao “terror russo”.
“Quero ver meus filhos, vivos ou mortos”
A Rússia, por sua vez, afirmou ter bombardeado “pontos de implantação temporária das unidades de reserva das forças armadas ucranianas” com “armas de alta precisão”. “Todos os alvos designados foram atingidos”, afirmou o Ministério da Defesa da Rússia.
Em Ouman, uma cidade de 80 mil habitantes, jornalistas da AFP viram um prédio de apartamentos destruído por um míssil, equipes de resgate retirando corpos, e feridos esperando por notícias de seus entes queridos.
“Quero ver meus filhos, vivos ou mortos”, disse Dmytro, 33, morador do prédio afetado. “Eles estão sob os escombros.”
Pelo menos 23 pessoas, incluindo quatro crianças, morreram neste edifício, de acordo com o último relatório do Ministério do Interior.
Outro ataque russo, em Dnipro, uma cidade no centro-leste da Ucrânia, causou a morte de “uma jovem” e “uma criança de 3 anos”, informou o prefeito Borys Filatov, no Telegram. Ao todo, o exército ucraniano anunciou, também no Telegram, que havia derrubado “21 mísseis de cruzeiro do tipo X-101/X-555 de um total de 23, assim como dois drones”.
Ataque decisivo
As autoridades instaladas por Moscou, por sua vez, anunciaram na sexta-feira que nove pessoas morreram e 16 ficaram feridas em ataques das forças ucranianas em Donetsk, a principal cidade controlada pelos russos no leste da Ucrânia.
Durante o inverno europeu, a Rússia tentou mergulhar a Ucrânia na escuridão e na desordem, golpeando a infraestrutura de energia do país, uma estratégia que, no entanto, falhou.
A perspectiva de uma futura ofensiva do exército ucraniano, apoiado por poderosos equipamentos ocidentais, traria a guerra para uma nova fase, após mais de um ano de conflito de grande intensidade.
Há meses, a Ucrânia afirma querer lançar um ataque decisivo para reverter o curso da invasão russa e liberar os quase 20% de seu território ocupado, incluindo a península da Crimeia.
Bakhmout
Para ajudar Kiev, os países membros da Otan e seus parceiros forneceram aos ucranianos 230 tanques de combate e mais de 1,5 mil outros veículos blindados, anunciou, na quinta-feira (27), o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg.
A Ucrânia recebeu, na sexta-feira, armas Caesar, da Dinamarca, sem especificar o número. Copenhague, no entanto, havia prometido em fevereiro passado entregar 19 dessas armas de fabricação francesa. A Rússia, por sua vez, mobilizou centenas de milhares de reservistas.
Apesar do apoio na linha de frente dos paramilitares do Grupo Wagner, as forças russas encontram grandes dificuldades em Bakhmout, uma cidade do leste que tentam capturar há muitos meses, a batalha mais longa e sangrenta desta guerra.
Para Moscou, trata-se de reivindicar a vitória após tantos reveses humilhantes no ano passado. Os confrontos se tornaram mais violentos porque as forças especiais russas estão lutando na cidade, de acordo com informações do exército ucraniano.
Ajuda da China
Perto de Bakhmout, Alex, 34, está prestes a ir para uma trincheira na frente de batalha para defender a cidade. “Estamos com falta de soldados, temos muitos feridos, e também mortos (…). Às vezes, nas trincheiras, temos que nos esconder atrás de um cadáver. Não importa se é um ucraniano ou outro, é a única maneira de sobreviver”, contou ele.
Kiev explica sua estratégia de guerra de desgaste na área para limitar ao máximo as possibilidades do exército russo de continuar sua conquista de Donbass, uma grande bacia industrial na parte oriental da Ucrânia.
Na frente diplomática, o presidente Zelensky anunciou na sexta-feira que havia solicitado a ajuda da China no caso do retorno das crianças ucranianas “deportadas” pela Rússia, cujo número é oficialmente estimado por Kiev em pelo menos 20 mil.
(Com informações da AFP)