O TERRORISMO NO BRASIL, UMA REALIDADE.
Rodrigo Luiz Soares Evangelista[i]
Histórico, fatos e motivação
Desde a popularização de TV, no contexto mundial, as primeiras imagens, globais, de violência transmitidos foram as da 2ª Guerra Mundial. A evolução da transmissão de imagens por meio da TV chamou atenção de grupos radicais e a concretização desse meio de disseminação para a propagação do terror ocorreu na Alemanha no famoso Massacre de Munique, que foi um atentado terrorista ocorrido durante os Jogos Olímpicos de 1972, quando integrantes da equipe olímpica de Israel foram tomados reféns pelo grupo terrorista palestino denominado Setembro Negro.
Daquela década para a atualidade, surgiram diversos grupos terroristas ao redor do mundo, que deixaram e ainda deixam um rastro de medo. Para Larousse, terrorismo é o conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais ou regime de violência instituído por um governo.
A luz do dicionário novo Aurélio, terrorismo trata-se de um modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou impor-lhes a vontade pelo uso sistemático do terror.
O novo terror, escolas e creches
Pelas definições acima e pelos atos que vêm ocorrendo no Brasil e no mundo, particularmente nas escolas, pode-se afirmar que não só o modus operandi, mas a motivação e os autores têm mudado, criando uma nova vertente do terror.
Nas circunstâncias atuais, o assunto do terrorismo e da segurança é um tema que tomou proporções gigantescas, pois a ameaça de ataques terroristas representa uma ameaça para toda a sociedade. O terrorismo, em particular, se tornou uma das principais preocupações da política internacional, tema em eclosão hoje no Brasil, fruto das últimas péssimas notícias.
Embora a sociedade tenha consciência da importância do assunto e da problemática, as dificuldades para lidar com este problema são muitas e complexas. No Brasil, embora tenha ocorrências de atos de terror, dessa natureza, diversos trabalhos existentes não conseguem responder a essa questão em sua plenitude, pois as tentativas de criar normas para o combate ao terrorismo e prevenção, tem esbarrado em entraves que não conciliam as questões políticas, sociais e jurídicas.
Publicidade do terror e o copycat
Ao contrário do que se pensa, o problema do terrorismo nas escolas, particularmente no Brasil, não é um problema exclusivo da justiça e segurança pública, mas também enfrentado em outros domínios. Trata-se de um problema social muito importante que exige a participação ativa da sociedade civil e a participação dos organismos estatais.
Após breve arrazoado sobre o terrorismo, os lamentáveis fatos análogos ao terror não serão citados neste artigo, pois a publicidade dos atos é um fator motivador para criminoso. Além do fato motivador o efeito copycat[ii] pode levar outros atiradores ou agressores ativos a imitarem a agressão já realizada.
Motivação do novo terror e a escolha do local
Mas o que levam esses agressores ativos a realizarem tal ato? Geralmente, os agressores escolhem locais que têm o pleno conhecimento, ou seja, escolhem locais onde estudam ou já estudaram, sendo um local que esteja na memória. No local escolhido, o agressor pode, também, ter passado por problemas ou conflitos com colegas de turma, professores ou funcionários, dessa forma trazendo algum tipo de vingança.
A escolha do local, embora não seja uma regra, tem uma definição de escolha condizente, afinal não sabemos o que se passa na cabeça de um agressor ativo. Mas e o perfil do criminoso que pratica um ataque dessa natureza? Alguns estudiosos alegam que esses agressores ativos são diagnosticados com transtornos, doenças mentais, pessoas com histórico familiar terrível e que já sofreram trauma, como por exemplo o bullying.
O perfil do agressor ativo, indefinição e um fato
Embora o perfil do agressor seja indefinido, haja vista a extensa característica, uma é latente e não tem sido citada nos recentes ataques: a covardia! Sim, o agressor é covarde, pois sempre tem superioridade do efeito surpresa, o ataque é armado, seja de arma branca ou de arma de fogo, contra pessoas desarmadas, e nesse contexto deixo um questionamento: por que o agressor ativo não ataca um quartel da polícia? Um quartel do Exército? Uma estação de metrô com vários seguranças?
Soluções e sugestões
Não existe “receita de bolo” para mitigar ou encerrar essas agressões, haja vista a diferença de leis e motivações no mundo. No Brasil, haja vista a natureza das agressões ativas, existem algumas sugestões, particulares e empíricas deste autor, que por mais de 25 anos atua e estuda as áreas de segurança pública e de segurança privada, que podem ser realizadas para mitigar essa problemática.
Para isso, dividimos as sugestões em duas vertentes a saber, a institucional e pessoal. Pelo lado institucional destacamos três ações distintas, tais como a capacitação de funcionários, a instalação de detectores de metal e a presença dos órgãos de segurança pública nas escolas. Estas duas últimas autoexplicativas.
Fonte: clearspringfire.org
A capacitação de pessoal é fundamental nos dias de hoje nas escolas, particularmente voltado para a segurança das instalações e alunos, e nesse contexto podemos citar o curso de controlador de acesso, Tactical Emergency Casualty Care (curso de natureza norte-americana), Atendimento Pré-Hospitalar e treinamentos de emergências-pânico. Cabe destacar que as sugestões citadas no presente parágrafo independem das instituições erem privadas ou públicas e basta uma prioridade na gestão da unidade escolar.
Já na parte pessoal, em tempos atuais que uma grande maioria de crianças e jovens sem habilidades para resolução de conflitos, cabe aos pais, responsáveis ou familiares do aluno(a) imerso(a) no ambiente escolar, fazer um estudo do cenário e orienta-lo(a) a identificar as próprias dificuldades conflitantes ou de seus colegas de classe, e incentivá-lo(a) a comentar em casa para que seus responsáveis sejam participes diretos ou indiretos das soluções de conflitos da criança ou jovem imerso no ambiente escolar.
Aos adultos, no lar, é necessário informar e incentivar aos dependentes, crianças e jovens, a desencorajar quaisquer brincadeiras difamatórias que possam gerar traumas e futuras tragédias. Nesse contexto, além de desencorajar as referidas brincadeiras, faz-se necessário um outro incentivo, a atitude cooperativa de auxílio a aquela pessoa, que na escola, seja identificada como a que tem dificuldade e destoa do grupo. É uma mudança de conceito.
Não é uma conclusão
Todo artigo tem uma conclusão e é quase clichê a conclusão propondo mudanças benéficas e desprezando medidas ruins acerca de fatos que causam estranheza no contexto social. No entanto, não temos com chegar a uma conclusão frente a seriedade do assunto, pois todo ano se repete tragédias em escolas contra crianças e funcionários, a imprensa cumpre suas pauta, o tempo passa e as tragédias se repetem.
O presente artigo também não tem nenhum cunho de notoriedade e é totalmente desprendido de evidências midiática, mas pretende levar um pouco de lembrança a pais, responsáveis e gestores que se continuarmos colocando fitas de luto nas redes sociais sem nada fazer, esse ciclo infeliz tende a se repetir.
[i] Rodrigo Luiz Soares Evangelista é Coronel do Exército Brasileiro, Mestre em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania, Especialista em Segurança Privada, Instrutor credenciado em Segurança Privada pela Polícia Federal, Contraterrorismo pela Caliber3 em Israel, Curso de operações psicológicas (Exército Brasileiro)
[ii] O termo copycat foi criado pelo psicólogo Peter Langman, o qual fez ma analogia com o comportamento dos gatos que todos os filhotes de gatos imitam a mãe ao mesmo tempo, algo que aqui no Brasil seria chamado como Imitador. O termo ganhou muita fama após a divulgação do livro “The Copy Cat Effect” do escritor Loren L. Coleman.