Aliado de Putin, Medvedev cogita avançar sobre fronteira com a Polônia
(Reuters) – Os ucranianos prestaram homenagem a seus entes queridos falecidos nesta sexta-feira e prometeram lutar até a vitória, enquanto a Rússia disse que suas forças estão obtendo ganhos na batalha no leste, com a guerra entrando em um segundo ano sem final à vista.
Em uma cerimônia na Praça Santa Sofia, em Kiev, o presidente Volodymyr Zelenskiy concedeu medalhas a um soldado de muletas e à mãe de um morto, e segurou as lágrimas quando uma banda tocou o hino nacional.
“Nós nos tornamos uma família. Não há mais estranhos entre nós. Os ucranianos hoje são todos companheiros. Os ucranianos abrigaram os ucranianos, abriram suas casas e corações para aqueles que foram forçados a fugir da guerra”, disse Zelenskiy em um discurso na televisão.
“Nós resistimos a todas as ameaças, bombardeios, bombas de fragmentação, mísseis de cruzeiro, drones kamikaze, apagões e frio. Somos mais fortes do que isso”, afirmou ele. “Não fomos derrotados. E vamos fazer de tudo para vencer este ano!”
Zelenskiy vai participar de uma cúpula online com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e outros líderes do Grupo dos Sete, que devem criticar a guerra, prometer mais apoio à Ucrânia e endurecer as sanções financeiras contra a Rússia.
Para os ucranianos comuns que passaram a maior parte do ano se escondendo em abrigos antiaéreos e apoiando o esforço de guerra de todas as formas possíveis, o aniversário significou reflexão.
“Eu enterrei meu filho que morreu no serviço militar. Também enterrei meu marido. Acho que está muito claro para você, estou sozinha agora e é muito, muito difícil”, disse Valentyna Krysan, de 75 anos, funcionária de uma loja em Kiev. “Desejo um bom dia de paz, e que isso nunca se repita nas nossas vidas.”
Aliados ao redor do mundo mostraram seu apoio. Paris iluminou a Torre Eiffel com as cores azul e amarela da bandeira ucraniana. Em Londres, onde a rua em frente à embaixada russa foi pintada de azul e amarelo, pessoas envoltas em bandeiras ucranianas com as mãos no coração se reuniram em vigília segurando uma faixa: “Se você defende a liberdade, defende a Ucrânia”.
“Haverá uma vida após esta guerra, porque a Ucrânia vencerá”, disse a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, em um discurso.
O chanceler alemão Olaf Scholz, em uma mensagem de vídeo, elogiou “a determinação e coragem dos ucranianos, como eles defendem sua liberdade. A Alemanha os apoia nisso – com toda a força e pelo tempo que for necessário”.
Não houve grandes eventos públicos para marcar o aniversário nesta sexta-feira na Rússia, que disparou fogos de artifício na quinta-feira para o feriado anual “Defensores da Pátria” e realizou um concerto pop na quarta-feira com a presença do presidente Vladimir Putin.
Teme-se que dezenas de milhares de civis ucranianos tenham sido mortos junto com muitos outros soldados de ambos os lados desde que Putin ordenou a invasão há um ano, dizendo que era necessário proteger a segurança da Rússia.
A Ucrânia vê a ação como uma tentativa descarada de subjugar um Estado independente. Suas forças em menor número e menos armadas repeliram a tentativa da Rússia de tomar a capital Kiev no início da guerra e depois recapturaram faixas de território ocupado. Mas Moscou ainda ocupa quase um quinto da Ucrânia, que afirma ter anexado.
Não há sinal de nenhum processo de paz. Putin diz que está lutando contra o poder combinado do Ocidente no que ele agora descreve como uma luta pela sobrevivência da Rússia. Kiev afirma que não pode haver paz até que a Rússia se retire.
Aliado de Putin, Medvedev cogita avançar sobre fronteira com a Polônia
O ex-presidente da Rússia Dmitry Medvedev disse nesta sexta-feira que a única maneira de Moscou garantir uma paz duradoura com a Ucrânia é reduzir as fronteiras com Estados hostis o máximo possível, mesmo que isso signifique avançar sobre a fronteira com a Polônia, membro da Otan
Medvedev, que agora é vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, fez os comentários em uma mensagem em sua conta no Telegram exatamente no aniversário de um ano da invassão russa à Ucrânia, no que Moscou chamou de “operação militar especial” para proteger falantes de russo e garantir a sua própria segurança.
A Ucrânia diz que está se defendendo de uma guerra de agressão de estilo colonial não provocada e prometeu retomar todo o seu próprio território pela força, incluindo a Península da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.
Medvedev, um aliado do presidente Vladimir Putin, previu nesta sexta-feira que a Rússia sairá vitoriosa e que algum tipo de acordo frouxo encerrará os combates.
“A vitória será alcançada. Todos nós queremos que aconteça o mais rápido possível. E esse dia chegará”, disse Medvedev. Ele previu que negociações difíceis com a Ucrânia e o Ocidente se seguirão, culminando em “algum tipo de acordo”.
Mas ele disse que a resolução carecerá do que chamou de “acordos fundamentais sobre fronteiras reais” e não equivale a um pacto de segurança europeu abrangente, tornando vital para a Rússia estender suas próprias fronteiras agora.
“É por isso que é tão importante atingir todos os objetivos da operação militar especial. Reduzir ao máximo as fronteiras que ameaçam nosso país, mesmo que seja a fronteira com a Polônia”, disse Medvedev.
A Polônia compartilha longas fronteiras orientais com a Ucrânia e com a Bielorrússia, aliada da Rússia, e uma fronteira de cerca de 200 km em seu canto nordeste com o enclave russo de Kaliningrado.
Qualquer invasão nas fronteiras da Polônia colocará a Rússia pela primeira vez em conflito direto com a Otan. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu em um discurso em Varsóvia esta semana defender “cada centímetro” do território da Otan caso seja atacado.