(Reuters) – A Rússia representa uma clara ameaça militar nas imediações da Suécia, mas suas forças estão em grande parte envolvidas na guerra na Ucrânia, disse o Serviço de Inteligência e Segurança Militar Sueco (Must) nesta segunda-feira.
“A Ordem de Segurança Europeia, como a conhecemos, deixou de existir… e com isso os riscos para a segurança sueca têm aumentado também”, disse Lena Hallin, chefe do Must, em uma coletiva de imprensa.
Hallin também disse esperar que a Rússia fortaleça sua capacidade militar nas imediações da Suécia quando possível, em resposta à solicitação de adesão da Suécia e da Finlândia à aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Segundo ela, o Must julga que a Rússia quer evitar uma escalada das tensões atuais para um conflito armado com a Otan.
“Mas há uma incerteza considerável, principalmente relacionada à disposição das lideranças russas de assumir grandes riscos”, disse ela, acrescentando que o alto nível de tensão aumenta riscos de que acidentes ou erros de julgamento possam levar a conflitos.
Putin faz novas ameaças com arsenal nuclear; Ocidente acusa Moscou de abalar segurança pós-Guerra Fria
Assim que o presidente russo, Vladimir Putin, fez seu discurso à nação, em Moscou, nesta terça-feira (21), começaram as reações ocidentais ao que muitos países entenderam como ameaças à estabilidade mundial. A Ucrânia reforça a promessa de repelir os invasores, enquanto a Otan lamenta a decisão da Rússia de suspender sua participação no Tratado de não-proliferação de armas estratégicas, atitude que Washington classificou como “irresponsável”.
Considerando o anúncio como “infeliz e irresponsável”, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que os Estados Unidos sempre tomariam as medidas necessárias para sua segurança e a de seus aliados. Falando a repórteres na Embaixada dos Estados Unidos em Atenas, Blinken reforçou que os EUA permanecem abertos ao diálogo. “É claro que continuamos prontos para discutir com a Rússia a limitação de armas estratégicas a qualquer momento”, declarou.
“A crítica e a acusação dos erros ocidentais como a origem de tudo, além da depravação do ocidente, são recorrentes há mais de um ano [no discurso de Putin], não há surpresa”, destaca Jean-François Bouthors, jornalista e autor do livro “Poutine, la logique de la force” (“Putin, a Lógica da Força”, em tradução liver). “É a continuidade de sua visão”, ele destaca em entrevista à RFI. O que chama a atenção do escrito, contudo, “é o tempo que Putin passou falando aos russos para afirmar a resiliência da nação e para explicar o que o governo podia fazer por eles”, acrescenta Bouthors.
O fato de o líder russo ter falado pouco sobre a Ucrânia mostra que Putin fez um discurso de coesão nacional. “Mesmo se há descontentamento em razão de vidas perdidas e das questões econômicas, a nação russa, pelo que podemos saber, parece ser solidária ao seu chefe, porque os russos vêm ouvindo esse discurso contra o inimigo desde os anos 1950”, analisa Bouthors sobre o apoio da opinião pública a uma guerra que já dura um ano.
“No fundo, ele não tem nada para anunciar de glorioso”, analisa o jornalista sobre o fato de Moscou não ter tido nenhuma grande vitória no terreno. Para o especialista, Vladimir Putin não pode voltar atrás em seus planos, o que poderia significar o fim de seu governo. “Hoje, há diversos grupos armados que coexistem na Rússia, que Putin usa para assustar o Ocidente no front. Mas se a guerra acabar, esses grupos um dia vão acertar contas dentro da Rússia e podemos pensar em conflitos internos. Por isso Putin não pode recuar. Se ele recua, ele acaba”, conclui.
New Start
No seu discurso desta terça-feira, o presidente russo emitiu novas ameaças nucleares implícitas aos países ocidentais que apoiam a Ucrânia, abrindo as portas para uma retomada dos testes nucleares russos, se os Estados Unidos fizerem o mesmo. “Ninguém deve abrigar perigosas ilusões de que a paridade estratégia global pode ser destruída”, afirmou Putin.
“Sou obrigado a anunciar hoje que a Rússia está suspendendo sua participação no tratado de armas estratégicas”, acrescentou o presidente Vladimir Putin, justificando esta decisão pelo fato de que Moscou não pode realizar inspeções para verificar sua aplicação pelos países ocidentais.
Ao anunciar a suspensão de sua participação no tratado de não-proliferação de armas estratégicas,Moscou esclarece que não se retira formalmente do acordo. Mesmo assim, a medida atraiu imediatamente críticas da Otan e de Washington.
O New Start (Strategic Arms Reduction Treaty, em inglês) ou Tratado de Redução de Armas Estratégicas foi assinado em 2010. O documento limita em 1.550 o número de ogivas nucleares que as duas ex-superpotências da guerra fria podem implantar em mísseis balísticos, navios, submarinos ou bombardeiros.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, convidou Moscou a reconsiderar a medida. “Lamento a decisão anunciada hoje pela Rússia de suspender sua participação no Tratado New Start”, disse ele durante uma conferência de imprensa em Bruxelas. “Peço à Rússia que reconsidere sua posição”, acrescentou Stoltenberg. “Mais armas nucleares e menos controle de armas tornam o mundo mais perigoso”, ele afirmou.
O Tratado New Start é o último acordo bilateral desse tipo entre os Estados Unidos e a Rússia. Moscou já havia anunciado, no início de agosto, a suspensão das inspeções americanas planejadas em suas instalações militares, no âmbito do acordo.
“O anúncio da Rússia (…) é mais uma prova de que o país está apenas demolindo o sistema de segurança que foi construído após o fim da Guerra Fria”, acrescentou Josep Borrell, chefe de diplomacia da União Europeia.
Ucrânia promete expulsar russos
No dia em que o presidente russo defendeu sua operação militar na Ucrânia, pelo menos cinco pessoas morreram em ataques em Kherson, cidade no sul do país invadido. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou que o exército russo “mata civis sem piedade” nesta cidade reconquistada pelas forças ucranianas em novembro.
A Ucrânia “caçará e punirá” a Rússia, reagiu Andriy Iermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, nesta terça-feira, após o discurso do chefe de Estado russo à nação. “Para resumir, [os russos] estão estrategicamente em um impasse. Nossa tarefa é expulsá-los da Ucrânia e puni-los por tudo”, declarou Iermak pelo Telegram.
(Com informações da RFI e da AFP)