(AFP) Os aliados ocidentais da Ucrânia se comprometeram, nesta terça-feira (14), em Bruxelas, a manter as enormes quantidades de munição e armas que a Ucrânia precisa, enquanto os combates pela cidade de Bakhmut se intensificavam.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou nesta terça que a situação tem ficado com vez mais delicada no leste do país, onde as tropas russas avançaram nas últimas semanas.
“A situação na linha de frente, e em particular nas regiões de Donetsk e Lugansk, segue sendo extremamente difícil. É literalmente uma batalha metro por metro”, declarou o presidente ucraniano em seu discurso noturno.
Zelensky atenuou suas demandas por caças depois de conseguir de aliados promessas de tanques, defesa aérea e mísseis.
Reunidos na sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas, os aliados da Ucrânia se concentraram em garantir o fluxo de munições e blindados de que precisam para enfrentar a ofensiva russa no terreno.
O ministro ucraniano da Defesa, Oleksii Reznikov, disse que as prioridades de seu país são melhorar a defesa antiaérea, aumentar o suprimento de tanques e garantir estoques de munição.
Ao sair da reunião, o general americano Mark Milley afirmou que a Rússia já perdeu essa guerra. “A Rússia perdeu, perdeu estratégica, operacional e taticamente, e está pagando um preço alto”, declarou.
Mas, à medida que as hostilidades persistem, “a comunidade internacional continuará a apoiar a Ucrânia com o equipamento e as capacidades de que necessita”, acrescentou.
Os aliados ocidentais da Ucrânia, liderados pelos Estados Unidos, já forneceram dezenas de bilhões de dólares em armas para contribuir na defesa do país.
Agora, dias antes de um ano completo de guerra, a Otan afirma que o presidente russo, Vladimir Putin, parece estar lançando uma nova e mais ampla ofensiva no leste da Ucrânia.
“A Rússia está introduzindo novas tropas no campo de batalha. Muitas dessas tropas estão mal treinadas e mal equipadas, então a taxa de baixas tem sido realmente alta”, disse o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.
Para ele, a Ucrânia está tentando mudar os rumos do conflito para ganhar impulso. Austin espera que as forças ucranianas lancem sua própria contraofensiva na primavera.
– “Moedor de carne” –
No terreno no leste da Ucrânia, uma equipe da AFP ouviu pesados disparos de artilharia contra as linhas russas ao redor da cidade de Bakhmut, alvo de uma grande ofensiva russa. A cidade não é considerada estratégica, mas se tornou um símbolo da resistência ucraniana.
O chefe do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, admitiu que Bakhmut “não será tomada amanhã, porque há forte resistência e bombardeios. É um moedor de carne em funcionamento”.
Na segunda-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a Ucrânia está usando mais munições do que a Otan é capaz de produzir e alertou que os contratos com as indústrias de armas precisam ser fortalecidos.
Segundo a imprensa alemã, esses contratos permitiriam a entrega de 300 mil munições à Ucrânia a partir de julho.
Para os aliados europeus da Otan, o fluxo de munição para o armamento fornecido aos ucranianos tornou-se uma prioridade problemática.
Stoltenberg aponta que esta é uma guerra de desgaste e uma batalha logística.
Em particular, os ucranianos precisam com urgência de munições de 155 milímetros, das quais usam milhares diariamente.
O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, anunciou que a indústria de seu país se prepara para fortalecer uma linha de produção de munição específica para sistemas de defesa antiaérea Guepard.
“Os contratos já foram assinados com as fabricantes”, disse. De acordo com a mídia alemã, esses contratos permitiriam a entrega de 300 mil munições à Ucrânia a partir de julho.
A urgência de encontrar mecanismos para elevar a capacidade de produção de munição deixou momentaneamente fora da discussão a delicada questão dos caças pedidos pela Ucrânia.
Um alto funcionário dos EUA disse que o envio de aviões “não é algo sobre o qual estamos falando nessa mesa agora”.
De sua parte, a Eslováquia afirmou que está disposta a discutir o envio de antigos aviões MiG-29 soviéticos para ajudar a repor as perdas da Ucrânia.
Para a ministra da Defesa holandesa, Kajsa Ollongren, a discussão “tomará tempo”. A Ucrânia pediu à Holanda que cedesse jatos americanos F-16.
Na segunda-feira, Stoltenberg insistiu que “a questão dos aviões não é a questão mais urgente no momento, mas é uma discussão em andamento”.
Para o chefe da Otan, “a necessidade urgente agora é cumprir o que já foi prometido”.
Exército de Belarus treina perto da fronteira da União Europeia
A poucos quilômetros da União Europeia (UE), as forças especiais de Belarus, a única aliada da Rússia na guerra contra a Ucrânia, treinam para estar “preparadas” para qualquer surpresa.
Durante o treinamento, os soldados correm de um lado para o outro, envoltos em fumaça branca, e disparam armas automáticas.
Um pouco mais adiante, alguns paraquedistas praticam a aterrissagem, enquanto outros andam sobre uma corda esticada diante dos olhares de um grupo de jornalistas, entre eles uma equipe da AFP, convidados por este país onde a presença da imprensa ocidental é raramente autorizada.
Belarus, governada por Alexander Lukashenko desde 1994, está sujeita a sanções europeias e americanas pela repressão à oposição e por ter cedido o seu território às forças russas no início da sua ofensiva contra a Ucrânia, lançada a 24 de fevereiro de 2022.
O presidente bielorrusso repete incansavelmente que seu exército, formado por cerca de 70 mil soldados, não vai lutar em território ucraniano. Mas há meses cresce a preocupação de que suas forças acabem entrando no campo de batalha, no calor de uma nova ofensiva de Moscou.
Especialmente quando um número desconhecido, mas significativo, de soldados russos ainda está presente em Belarus.
A apenas quatro quilômetros da fronteira com a Polônia, membro da UE e da Otan, homens da 38ª brigada treinam sob um retrato do presidente Lukashenko em uniforme de gala.
A faixa é acompanhada por uma de suas frases mais famosas: “Hoje não há tarefa mais importante do que defender o que foi conquistado, nosso povo e nossa terra”.
“Estamos preparados para cumprir todas as tarefas, mesmo as mais difíceis”, disse à AFP Vadim Lukashevich, vice-comandante das forças especiais de Belarus, evitando cuidadosamente referir-se ao conflito na Ucrânia, a apenas 50 quilômetros de distância.
“A situação é estável”, acrescenta o oficial, “mas estamos nos preparando porque devemos estar prontos para cumprir nossa missão em condições altamente mutáveis”.
– “Se nos atacarem” –
Lukashenko nega regularmente que entrará na guerra com a Ucrânia, e tanto ele quanto seu homólogo russo, Vladimir Putin, negam a intenção de querer fundir os dois países, outro rumor recorrente.
No entanto, Lukashenko é um nostálgico da época soviética. Nos últimos meses, multiplicou discursos marciais, jurou lealdade a Moscou e acusou os ocidentais de querer derrubá-lo e preparar um ataque contra a Rússia.
Ficou para trás o tempo em que o presidente bielorrusso atuou como mediador, recebendo os líderes da França, Alemanha, Ucrânia e Rússia em Minsk, em 2015, para negociações que culminaram em um acordo de cessar-fogo no leste da Ucrânia, nunca implementado por completo.
Durante a visita de imprensa a este centro de treinamento em Brest, no oeste de Belarus, o militar Vadim Lukashevich afirmou que o seu país está apegado à “paz” e à “estabilidade”.
“Os bielorrussos são um povo pacífico”, insistiu outro militar, que não quis ser identificado. “Não atacamos ninguém, mas se nos atacarem…”
OTAN não descarta adesão de maneira separada de Suécia e Finlândia
O secretário-geral da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan), o norueguês Jens Stoltenberg, afirmou nesta terça-feira (14) que trabalha para fazer avançar os pedidos de adesão de Suécia e da Finlândia, e não descartou a possibilidade de processar as demandas de maneira separada.
“A pergunta central não é se a Finlândia e Suécia serão ratificadas ao mesmo tempo. A questão central é se sejam são ratificadas como membros plenos (da Otan) o mais rápido possível”, disse Stoltenberg antes de uma reunião ministerial da aliança.
“Tenho certeza de que os dois países serão membros plenos. E estamos trabalhando muito para que sejam ratificados o mais rápido possível”, acrescentou.
No ano passado, Finlândia e Suécia abandonaram décadas de não alinhamento militar automático com a Otan e apresentaram em maio os pedidos de adesão à aliança, uma etapa que precisa da unanimidade entre os países do bloco.
Porém, a Turquia (membro fundamental da Otan) apresentou seu veto, em particular à Suécia, porque este país concede refúgio a líderes curdos e a pessoas que Ancara suspeita que participaram da tentativa de golpe de Estado de 2016.
No mês passado, o governo turco reagiu com irritação à decisão da Suécia de permitir que manifestantes de extrema-direita organizassem um protesto diante da embaixada do país em Estocolmo, onde algumas pessoas chegaram a queimar um exemplar do Alcorão.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, no entanto, já mencionou uma diferença na atitude da Finlândia.
O governo finlandês expressou o desejo de ingressar na Otan ao lado da vizinha Suécia. Apesar da declaração, as pesquisas indicam que a maioria dos finlandeses deseja a adesão à organização mesmo que a demanda da Suécia seja relegada.
Finlândia e Suécia já estão. de fato, parcialmente integradas a algumas ações da Otan. Os ministros da Defesa dos dois países participam de reuniões da aliança militar.