Entrevistas produzidas em forma de animações dão voz a moradores da região sobre o que vivem todos os dias sob o controle do grupo terrorista
Uma série de entrevistas com moradores da Faixa de Gaza, chamada “Whispered in Gaza” (“Sussurrado em Gaza”, em tradução livre) busca dar voz para pessoas comuns que gostariam de contar ao mundo como é a vida sob o domínio do Hamas, grupo considerado terrorista pelas nações mais importantes do mundo, incluindo Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Israel, entre outros. Curtos e em formato de animação, os filmes de cerca de dois minutos de duração cada foram produzidos pelo Center for Peace Communications (CPC), uma organização sem fins lucrativos de Nova York, e também estão sendo publicados pelo jornal The Times of Israel.
Nos clipes encontramos histórias autênticas de pessoas comuns com expectativas, aspirações e sonhos – desde administrar uma farmácia, trabalhar como jornalista ou simplesmente dançar – que são proibidos pelo Hamas. Os vídeos também mostram problemas comuns do cotidiano local que são drasticamente exacerbados e piorados pelo controle do grupo terrorista. Todos os nomes foram alterados e o CPC se valeu do formato de animação e de uma tecnologia de alteração de voz para proteger a identidade das fontes.
De acordo com o presidente do CPC, Joseph Braude, os corajosos participantes consentiram em ser entrevistados para transmitir suas ideias e experiências a um público internacional pois “eles querem que essas histórias sejam ouvidas”.
Nas animações, os residentes relatam os impactos e influências do Hamas em seus cotidianos, denunciando corrupção, ameaças, extorsões de civis, censura e violência contra críticos do grupo, repressão dos direitos das mulheres e de manifestações artísticas consideradas “anti-islâmicas”, silenciamento de jornalistas e outras ações do Hamas que impactam diretamente na qualidade de vida e perspectiva de futuro dos moradores de Gaza.
Além dos vídeos, a reportagem do The Times of Israel apresenta dados e pesquisas que corroboram com as histórias contadas. Um exemplo é o depoimento de uma mulher chamada de Mariam, dançarina profissional de dabke, estilo de dança árabe. Depois que o Hamas assumiu o controle de Gaza em 2007, eles disseram a ela para parar de dançar e estudar o Alcorão. Quando ela se recusou, eles começaram a ameaçar sua família. Infelizmente, Mariam não é a única. Os direitos das mulheres são ignorados pelo Hamas, como mostra a reportagem: em 2021, o Hamas determinou que as mulheres passariam a precisar da permissão de um tutor homem para viajar. Em 2018, o Hamas bloqueou o lançamento de um canal de televisão para mulheres e proibiu a abertura de uma escola de balé para meninas, entre outras decisões que afetaram não só toda essa parcela da população, mas também as vidas pessoais dessas mulheres. Cansada da interferência constante do Hamas, Mariam diz na entrevista que “Gaza precisa ser libertada, não da ocupação, mas daqueles entre nós. Nós já fomos libertados da ocupação, eu quero ser libertada do governo do Hamas. Assim Gaza se desenvolveria. Nós receberíamos turistas e teríamos teatros. Eu até poderia voltar a dançar”.
Outro depoimento marcante da série é o de Layla, que conta que, apesar de existirem pessoas em Gaza cansadas da guerra, assim como ela, eles não podem dizer isso pois seriam acusados de serem espiões e traidores. Ela também denuncia que o cenário da região mostrado na mídia agrava o isolamento que ela e muitos outros sentem, já que “julgando pelo que você vê na mídia, o Hamas é considerado como ‘resistência’, bombardeando alvos, impactando a cena, liderando a causa palestina. Mas muitos meios de comunicação estão trabalhando para o Hamas. Al-Jazeera, Al-Mayadeen, seu canal principal Al-Aqsa e muitos outros retratam o Hamas como heróis. (…) O Hamas entra em guerra como se Gaza fosse um estado nuclear. Eles dizem à mídia que são capazes de toda essa destruição, quando na realidade eles nem conseguem alimentar sua população”.
Outra história é a de uma mulher graduada em assistência psicológica que passou a fazer atendimentos e aconselhamentos em sua própria casa. A polícia controlada pelo Hamas exigiu que ela interrompesse sua prática para que eles pudessem saber o que se passava e “conter” as questões apresentadas nas conversas, ou seja, impedir que a população se manifestasse contra o que as autoridades do Hamas faziam. Quando ela se negou a fechar sua prática, a polícia voltou depois, cercando a casa dela, e passaram a atirar para intimidá-la, bem como a sua família e as outras pessoas. No ataque, seu sobrinho, que tinha apenas um ano de idade, foi morto. Para “manter sua sanidade”, ela encerrou seu negócio.
Segundo o cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil, André Lajst, essa iniciativa é muito importante como forma de registro das insatisfações da população de Gaza com o regime do Hamas, pois “esses tristes relatos só somam argumentos ao fato de que, com o Hamas dominando Gaza e fomentando uma cultura e ideologia pró-conflito, não conseguiremos chegar à paz na região tão cedo”.
A série “Whispered in Gaza”, que conta com mais de 20 episódios, está disponível no canal do YouTube do Center of Peace Communications e no site do jornal The Times of Israel.