Nota DefesaNet Oportuna análise após a assinatura de Carta de Intenções de compra de Viaturas Blindadas Guarani pelo Exército Argentino. BR-AR – Carta de intenções para o projeto de integração da produção de defesa Brasil-Argentina Argentina e Brasil assinam carta de intenções para avançar com a incorporação de 156 Viaturas de Combate “Guarani 6×6” para o Exército Argentino |
Nicholas Damasceno Ostrovski
Mestrando em ciências aeroespaciais na UNIFA
Formado em relações internacionais com
especialização em negócios internacionais
- Introdução
Após o fim da Guerra Fria e o início do século XXI, as ameaças, as guerras e a tecnologia que conhecemos, especialmente a militar, atingiram um novo nível de sofisticação que tornou a política entre os países cada vez mais voltado à defesa e segurança. Táticas de guerra híbrida, como ataques cibernéticos, desinformação, intervenções, além da ascensão de grupos armados como principal ameaça aos Estados tem trazido à tona a necessidade de uma maior integração entre eles na busca de uma cooperação para não apenas combater essas novas ameaças, mas também estarem prontos para uma possível guerra.
Guerras existem desde tempos imemoriais da Antiguidade, sendo responsáveis não só por moldar a política entre as nações, mas também pela evolução tecnológica das ferramentas utilizadas em campos de batalha. No mundo em que vivemos, onde o capital é responsável pelas trocas comerciais entre nações, a iminência de conflitos é responsável pela criação, manutenção e evolução de um nicho industrial de defesa que tem como objetivo produzir equipamentos altamente tecnológicos, sensíveis na manutenção da integridade de uma nação e que não só geram empregos como estão altamente ligados com as políticas governamentais.
Todavia, se for observado pelo processo histórico, o mundo globalizado apresenta muitas assimetrias em suas diferentes regiões. Essas assimetrias são explicitadas nos textos de Raúl Prebisch (1981), que afirma que o mundo é dividido em centro e periferia, onde o centro propaga suas técnicas, formas de consumo, instituições, ideias e ideologias, e a periferia ou o capitalismo periférico se inspira cada vez mais e tende a se desenvolver em sua forma e semelhança. Porém, esse desenvolvimento imitativo se desenvolve tardiamente em uma estrutura social que apresenta disparidades com a estrutura evoluída do centro.
De acordo com o autor, o motivo se deve pelo fato de que os centros estão longe de estimular as exportações de manufaturados da periferia por meio de certas mudanças em sua estrutura produtiva. E na medida em que não abrem as portas para a periferia, obrigam ela a continuar substituindo as importações. A substituição não responde a uma preferência doutrinária: é uma imposição da natureza centrípeta do capitalismo. Só que foi realizado dentro de compartimentos nacionais estreitos de uma periferia fragmentada, em detrimento de sua economia e do vigor do desenvolvimento. O interesse econômico dos grupos dominantes nos centros combina-se com interesses estratégicos, ideológicos e políticos que formam neles uma constelação da qual surgem obstinados fenômenos de dependência nas relações centro-periferia.
Diante dessa análise, torna-se necessário o debate acerca da formação, neste caso específico, de uma zona de livre comércio na região da América do Sul, de forma a fomentar o desenvolvimento e geração de riqueza entre as nações sul-americanas através da idealização de um mercado de defesa Sul-Americano, abordando os desafios que o Brasil, como líder regional, terá pela frente ao se deparar com um continente tão vasto, dinâmico e plural em suas culturas.
- Mercado de Defesa Sul-Americano
Medeiros Filho (2017) aponta que a análise de questões de segurança internacional de uma perspectiva regional coincidiu com a “nova onda de regionalismo” que começou em meados da década de 1980 e continuou após a Guerra Fria. Nesse período, a intensificação das relações entre os países em nível regional expôs a necessidade de arranjos de governança para gerenciar os fluxos transfronteiriços de pessoas, bens e serviços, e aponta para a necessidade de criação de blocos regionais.
A escala regional ocupa um espaço intermediário entre as perspectivas estritamente nacionais, por um lado, e as globais, por outro. O valor da dimensão regional e a importância atribuída às ‘vizinhanças’ territoriais devem-se, em primeira instância, ao fato de, apesar da ideia de ‘fluidez territorial’, que ganhou força com o processo de globalização, os Estados serem entidades geográficas, e a contiguidade territorial ainda é altamente relevante em questões de segurança. A localização permanente dos Estados é um fator geopolítico que não pode ser subestimado. Essa característica apresenta aos estados algumas preocupações territoriais, notadamente o fato de não poderem se afastar de vizinhos indesejáveis (MEDEIROS FILHO, 2017).
No caso da América do Sul, é uma região que não possui Estados ou ilhas fragmentadas; possui certo grau de integração através de iniciativas como Mercosul, Pacto Andino, Tratado de Cooperação Amazônica e o que possui maior familiaridade com o tema de defesa, a UNASUL e o Conselho de Segurança Sul-Americano (CDS); tem influência maciça dos Estados Unidos, o que prejudica a autonomia estratégica desses países e o estabelecimento de políticas regionais autônomas sobre defesa e segurança; e é uma região que se destaca no ambiente internacional pela ausência de guerras formais clássicas nos últimos anos. Isso a torna propícia para o estabelecimento de uma comunidade de segurança (MEDEIROS FILHO, 2017). Dessa forma, acaba apresentando algumas vantagens na consolidação de um mercado de defesa regional.
Bragatti e Gonçalves (2018) argumentam que o Conselho de Defesa da Unasul, em poucos anos de existência, alcançou progresso significativo no diálogo político. A institucionalização de um processo de construção regional de cooperação em Defesa contribui para a confiança entre os Estados, favorecendo a consolidação da região como zona de paz. A construção de medidas e instrumentos de confiança e de cooperação contribuem para mudar ou, ao menos, diminuir a percepção de rivalidade, tensão, desconfianças e até mesmo a competição entre os Estados. Nesse sentido, o intergovernamentalismo da Unasul tem sido conveniente para construir a confiança entre os Estados e o desenvolvimento institucional da organização, além de favorecer a consolidação de uma zona de paz, denotando um pragmatismo entre Estados relutantes em ceder soberania na tomada de decisões sobre políticas em organismos comuns.
Matos (2016) afirma que durante muito tempo o Brasil vem buscando exercer o papel de líder regional e elevar o seu grau de cooperação com países da América do Sul nas questões relativas à defesa e segurança. Como consequência dessa intenção brasileira, ocorreu a criação, no ano de 2008, do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), cujos objetivos principais envolvem a capacidade para resolver crises regionais, promover o intercâmbio de informações e estimular a indústria de defesa na América do Sul. Com relação a este último, o CDS visa ampliar a autonomia da região quanto às fontes externas de fornecimento de equipamentos militares e de tecnologia, diante da crescente distância tecnológica que separa a América do Sul dos países mais avançados.
A América do Sul enfrenta um mercado mundial de armamentos altamente restritivo, o que cria vulnerabilidades à defesa nacional. Dessa forma, a Estratégia Nacional de Defesa (END) aponta o CDS como essencial para o aumento da escala do mercado regional, de modo a compensar os investimentos no setor e propiciar maior autonomia estratégica por meio da integração das indústrias de defesa da América do Sul (MATOS, 2016). O desenvolvimento de tecnologia bélica é essencial na Estratégia Nacional de Defesa, tanto no nível doméstico, assegurando à sua população a segurança, a confiança e o bem-estar, bem como em nível internacional, que busca assegurar sua própria existência e soberania diante das nações (ALVES et al. 2018). Porém, de acordo com Silva (2004), depende de vontade política que possa criar soluções e apoiar suas necessidades.
A decisão de contar-se com uma variada e competente indústria de defesa precisa ser precedida por uma disposição clara e inequívoca de uma sociedade consciente dos ditames da segurança nacional e dos fatores econômicos positivos em tal tipo de atividade. Para que uma indústria relacionada com o setor possa ter êxito, estudos estratégicos precisam ser preparados e detalhados com significativa antecedência, permitindo conceber, hoje, um produto que poderá ser demandado anos mais tarde. Tais estudos só serão plenamente executados com um máximo de participação de todos os setores envolvidos para que se permita chegar a produtos que possam ter sucesso não unicamente no mercado doméstico nacional, mas que também encontrem nichos mercadológicos no comércio exterior (SILVA, 2004).
A consolidação do conceito de região sul-americana e o processo de construção da Unasul têm criado configurações no tabuleiro geopolítico da região, abrindo uma disputa na resolução de questões que eram até então discutidas somente no âmbito da OEA, com potencial impacto na geopolítica hemisférica e global. No entanto, a Unasul e, em especial, o CDS parecem atravessar um momento de inflexão, com a entrada de outros atores e instituições na mediação das tensões e conflitos na região, em que a Unasul não tem tido papel principal. No âmbito da indústria de defesa, nos últimos anos, há uma profusão de acordos bilaterais entre países sul-americanos com parceiros extrarregionais, como a China e a Rússia, além do Irã, na área de equipamentos militares – exemplo disso são os acordos da Colômbia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) (BRAGATTI; GONÇALVES, 2018).
Neves e Franchi (2021) apontam alguns dados pertinentes acerca da indústria de defesa da América do Sul. Os autores, utilizando dados do SIPRI, afirmam que em 2019, Brasil (51% do total da região; 1,5% de seu PIB), Colômbia (19% de total da região, 3,2% de seu PIB) e Chile (5,2% do total de região e 1,8% de seu PIB) foram os três países com maiores orçamento de defesa na América do Sul. Ao mesmo tempo, a região defronta-se também com a insuficiência e a obsolescência de equipamentos militares e com a concomitante necessidade de reposição e atualização, além do crescente descompasso no que diz respeito às novas tecnologias de defesa. Isso levou alguns países na América do Sul, como Venezuela, Chile, Peru e Brasil a, ao longo da última década, elevarem os gastos em aquisições e investimentos em projetos militares, o que fomentou especulações, que se mostraram infundadas, em torno de uma eventual corrida armamentista na região (COSTA VAZ, 2017).
Mesmo não tendo essa configuração de uma “corrida”, Chile, Peru, Colômbia, Venezuela e Brasil seguem investindo na melhoria de suas capacidades militares, com um orçamento de defesa estável ou levemente mais alto a cada ano. Durante o período de 2014-2015, Argentina, Colômbia, Guiana e Uruguai e Paraguai aumentaram suas despesas com defesa. O orçamento de defesa não é completamente dedicado ao investimento em equipamentos, adestramento e financiamento de operações. Parte também é comprometida com a folha de pagamento de pessoal. A proporção média dos investimentos cai quando o orçamento total diminui – isso porque a despesa de pessoal passa a requerer maior porção do orçamento, já que o número do efetivo, salvo ação direta do governo, não diminui. A esse quadro, se soma uma gestão deficitária dos recursos para limitar os investimentos em defesa (NEVES; FRANCHI. 2021).
Lapo e Bickel (2021) afirmam que em 2021, os militares sul-americanos permaneceram focados em ameaças à segurança doméstica, com ambições de projeção de poder muitas vezes limitadas por desafios significativos de disponibilidade de equipamentos e déficits de financiamento. O crime organizado continua a alimentar grandemente a violência e a instabilidade na região, condicionando os gastos de defesa com a segurança interna. O Brasil é o único país da área com esforços substanciais de aquisição e modernização em andamento, e que está expandindo a cooperação industrial de defesa internacional apesar de suas próprias restrições orçamentárias.
A maioria das nações conta com o apoio dos Estados Unidos para uma ampla gama de atividades relacionadas à defesa, como aquisição de equipamentos, treinamento de pessoal, cooperação em segurança e combate ao crime transnacional. A região também depende das exportações de equipamentos de países europeus. No entanto, a crescente presença da China na esfera de defesa e segurança desafia a influência dos EUA na região. Com relação à atuação em terra, as nações sul-americanas normalmente se concentram em operações internas e transfronteiriças de combate a narcóticos e contra insurgência, além de auxiliarem em missões de peacekeeping da ONU. No setor naval, as marinhas sul-americanas se concentram no combate ao tráfico transnacional de drogas, pirataria e pesca ilegal, e se concentram na preservação da soberania offshore. O Brasil mantém a marinha mais capacitada da região, enquanto a Colômbia tem a maior em número de navios, com o maior número de navios de patrulha e combatentes costeiros (LAPO; BICKEL, 2021).
No setor aéreo, embora vários países tenham requisitos para novos caças, apenas o Brasil possui um programa sob contrato. O programa F-X2, com a empresa sueca Saab, prevê a entrega de mais de 30 caças Gripen E/F até 2024. O acordo envolve investimentos significativos na indústria local; A Saab inaugurou uma fábrica de aero estruturas no Brasil e a Embraer vai montar 15 aeronaves. Argentina e Colômbia ainda estão selecionando um substituto para sua frota cada vez mais obsoleta de A-4 Skyhawks e Kfirs, respectivamente. A Argentina recentemente alocou US$ 664 milhões para adquirir um novo caça e foi supostamente ligada ao JF-17 Thunder de fabricação paquistanesa-chinesa. (LAPO; BICKEL, 2021).
Por último, o setor espacial tem tido alguns pequenos avanços. Em 2021, o governo chileno assinou um contrato de 10 anos com a empresa americana SpaceX para lançar 10 novos satélites, oito dos quais serão construídos localmente. Essa constelação de satélites de uso duplo, denominada Sistema Nacional de Satélites, substituirá o FASat Charlie, o primeiro sistema de observação da Terra de alta resolução do Chile, que em 2017 ficou inoperante por uma colisão com detritos espaciais. Em abril do mesmo ano, como parte do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais, a Agência Espacial Brasileira e a Força Aérea Brasileira assinaram um acordo com a Virgin Orbit para iniciar os primeiros lançamentos orbitais do país no Centro Espacial de Alcântara. Este negócio oferece ao Brasil a oportunidade de entrar no mercado regional de lançamentos espaciais comerciais atualmente dominado pela Guiana Francesa. (LAPO; BICKEL, 2021). Somado a isso, a SpaceX, em maio de 2022, lança dois satélites brasileiros de sensoriamento remoto.
- Desafios do Brasil na sua indústria de defesa
Apesar desses avanços, há quem diga que a cooperação em defesa dos países da América do Sul nunca teve muita relevância. Desde sua fundação, argumenta Fuccille (2019), existe uma enorme heterogeneidade de pontos de vista para a região tida como a mais desmilitarizada do mundo, que evidencia as dificuldades para a consolidação do CDS e seu aprofundamento (dada a atual baixa institucionalização) lança dúvidas acerca de sua eficácia e efetividade e explicita a polissemia que marca os conceitos de segurança e defesa na região, além das disparidades e assimetrias nos campos social, econômico e militar que caracterizam os países membros.
Fuccille (2019) afirma que com a END, criada em 2008, o Brasil buscou respaldar e estimular sua atuação na área de defesa tanto na esfera nacional, quanto na regional. Somado a isso, a END colocava como uma questão estratégica estimular um maior vínculo entre defesa e desenvolvimento nacional. Neste sentido, além de buscar promover uma força militar capaz de dissuadir agressões bélicas estrangeiras, um dos principais objetivos da END era revigorar a indústria de materiais de defesa.
A END iniciou uma operacionalização das políticas nacionais e regionais do Brasil na área de defesa ao incorporar a cooperação regional como uma parte relevante da estratégia nacional brasileira de desenvolvimento. Contudo, tal incorporação objetivava sustentar e expandir os interesses dos agentes econômicos nacionais rumo ao restante da América do Sul, sem levar em conta os impactos que este movimento podia ter na construção de um espaço regional com instituições mais estáveis e menos dependentes das oscilações domésticas do Brasil. Durante o governo Lula, na operacionalização em direção à revitalização da Base Industrial de Defesa (BID), a END projetou uma atuação similar para o Brasil na área de defesa ao identificar como uma das principais dificuldades da estrutura de defesa do país as deficiências nos programas de financiamento para as empresas nacionais fornecedoras de produtos de defesa, prejudicando-as nos mercados interno e externo (Fuccille, 2019).
No governo de Dilma Rousseff, Fuccille (2019) afirma que tanto a END quanto o CDS buscaram alargar a articulação sul-americana e incorporar a região na discussão interna em torno dos planos de desenvolvimento nacional do Brasil. A ampliação desse diálogo que incorporou novos atores em torno de uma tentativa de revitalização mais ampla da indústria de defesa da região, ficou difícil estimular, no âmbito regional, um setor estratégico se pautando fundamentalmente em financiamentos brasileiros para empresas brasileiras, muitas delas atingidas centralmente pela “Operação Lava-Jato”. Vários altos oficiais e oficiais-generais viam com muita reserva empreendimentos como o CDS, classificando-o como uma extravagância que não encontrava correspondência na realidade.
Com o governo Temer, todas as iniciativas feitas pelo Brasil na implementação de um Mercado de Defesa Sul-Americano como o apoio do BNDES a grandes corporações nacionais com interesses em expandir seus negócios no subcontinente, a inclusão do setor de defesa em planos como Brasil Maior, o PAC 2, o Inova Aerodefesa e a certificação EED (Empresa Estratégica de Defesa) acabaram sendo abandonadas (FUCCILLE, 2019).
De acordo com o Military Balance de 2021, a falta de crescimento significativo e sustentado nos gastos com defesa e os baixos níveis de financiamento alocados para investimentos (aquisições, pesquisa e desenvolvimento) entre os principais atores regionais restringem o desenvolvimento de capacidades na América Latina. Os grandes gastadores como Brasil, Colômbia, Argentina e Chile destinam entre 2% e 10% dos gastos anuais em defesa ao investimento, o que é baixo para os padrões internacionais. De acordo com dados do SIPRI de 2021, nenhum gasto de qualquer país da América do Sul chega a 4% do PIB.
South America | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | 2021 | |
Argentina | 1 | 0,76 | 0,78 | 0,84 | 0,88 | 0,85 | 0,81 | 0,86 | 0,75 | 0,71 | 0,73 | 0,57 |
Bolivia | 2 | 1,68 | 1,85 | 1,84 | 1,90 | 1,76 | 1,53 | 1,54 | 1,50 | 1,45 | 1,32 | 1,54 |
Brazil | 1,41 | 1,38 | 1,33 | 1,33 | 1,37 | 1,35 | 1,41 | 1,47 | 1,38 | 1,36 | 1,19 | |
Chile | 3 | 2,25 | 2,05 | 1,99 | 1,96 | 1,90 | 1,92 | 1,94 | 1,86 | 1,86 | 2,09 | 1,96 |
Colombia | 4 | 3,08 | 3,16 | 3,27 | 3,11 | 3,11 | 3,07 | 3,21 | 3,06 | 3,14 | 3,50 | 3,40 |
Ecuador | 5 | 3,10 | 2,95 | 2,88 | 2,74 | 2,62 | 2,51 | 2,36 | 2,35 | 2,18 | 2,53 | 2,46 |
Paraguay | 6 | 0,85 | 0,96 | 0,96 | 0,99 | 1,07 | 0,95 | 0,89 | 0,96 | 0,97 | 1,02 | 0,97 |
Peru | 7 | 1,38 | 1,48 | 1,64 | 1,59 | 1,73 | 1,30 | 1,25 | 1,17 | 1,19 | 1,35 | 1,12 |
Uruguay | 1,72 | 1,80 | 1,82 | 1,81 | 1,82 | 1,87 | 1,96 | 2,13 | 2,06 | 2,18 | 2,26 | |
Venezuela | ‖8 | 1,13 | 1,34 | 1,67 | 1,16 | 0,94 | 0,45 | 2,23 | 0,15 | 0,18 | … | … |
Fonte: SIPRI (2021)
O Brasil tem se empenhado em desenvolver suas capacidades de fabricação de defesa, com sucessivas estratégias de defesa lançadas desde 2008 delineando ciclos de investimento que progrediriam de compras de prateleira para a execução de programas que aumentariam as capacidades domésticas e permitiriam substituições de importações. Isso depende não apenas de alocações específicas de investimento, mas também do crescimento do orçamento de defesa em geral. Para isso, uma atualização de julho de 2020 da Estratégia Nacional de Defesa, enviada ao Congresso Nacional para aprovação, incluía a aspiração de o Brasil investir 2% do PIB em defesa. No entanto, os desafios econômicos entre 2014 e 2017 reduziram a velocidade e a escala da modernização militar do Brasil e, embora importantes desenvolvimentos tenham ocorrido em 2020, ainda não está claro se o Brasil será capaz de atender à aspiração de 2%, principalmente devido ao impacto econômico da pandemia de coronavírus (MILITARY BALANCE, 2021).
Os resultados do intercambio intrasetorial da BID brasileira com os países sul-americanos são influenciados pela concentração das exportações brasileiras no mercado argentino e devem ser observados com essa restrição. Além disso, as importações brasileiras estão pulverizadas por todos os países sul-americanos, com uma participação total inferior a 3%. O intercâmbio intrasetorial do Brasil com os países sul-americanos tem tido um declínio e agora não se evidencia aproximações dos produtores da BID brasileira com os demais produtores localizados nos países sul-americanos (GUIMARAES, 2019).
No início dos anos 2000, alguns estudos mostravam o aumento no índice de intercâmbio intra-industrial entre o Brasil e os países da América Latina explicado por conta dos programas governamentais de integração entre países e afinidades culturais que a aproximação territorial proporciona. No entanto, esse resultado não se verifica durante os anos 2000 quando se analisa as trocas da BID brasileira com seus parceiros na América do Sul. De fato, para a maioria dos mercados de equipamentos e suprimentos militares da BID brasileira e a sul-americana, as relações intrasetoriais estão distantes da unidade, demonstrando a existência de pouco intercâmbio do tipo intrasetorial nos mercados de equipamentos militares mais densos em conteúdo tecnológico (GUIMARAES, 2019).
Em termos de empreendimentos conjuntos de defesa militar, a segurança e harmonia social da região parece não se estabelecer, portanto, em bases continentais. Vale dizer, os países da região sul-americana estão mais para cada qual cuidar de si, em detrimento de um projeto conjunto de segurança, harmonia e equilíbrio social em escala continental envolvendo a suas BIDs (GUIMARAES, 2019).
- Considerações Finais
O que pode ser visto até aqui são pequenos avanços na indústria de defesa nacional e na integração para a cooperação militar entre os países sul-americanos. A criação de um mercado de defesa sul-americano vai muito além da simples formulação de acordos e envolve uma gama diversificada de fatores internos e externos. A América do Sul, apesar de ser um continente com pouca incidência de conflitos catastróficos, tem demonstrado instabilidades políticas e econômicas que dificultam em um concreto avanço no desenvolvimento não só de mercado, mas também de tecnologia de ponta.
É possível enxergar no estudo a visão de diferentes autores acerca da construção do Conselho de Defesa Sul-Americano. Alguns defendem a importância do órgão na construção do diálogo e da cooperação dos países do continente de forma a diminuir possíveis tensões e conflitos, além de ser uma iniciativa regional com o propósito de diminuir a dependência externa. Outros afirmam que mesmo com essa iniciativa, os países têm suas diferentes visões de mundo no que concerne à defesa e isso se torna um impeditivo na formulação de um tratado e na concepção de um mercado sólido. Além disso, vale destacar os constantes problemas de falta de orçamento para abarcar as demandas que esses diferentes países possuem, sendo muitas vezes mais vantajoso a aquisição de produtos e serviços que vêm de fora do continente.
Junto disso, pode ser considerado um desafio ao mercado de defesa sul-americano a busca da autonomia frente às pressões de grandes atores internacionais que já têm suas indústrias estabelecidas com produtos de alto valor agregado e que influenciam nas guerras contemporâneas ao redor do mundo. Um mercado de defesa sul-americano se mostra necessário não só para o fomento do desenvolvimento econômico, do emprego e da inovação tecnológica, mas também pela busca da maior simetria de poder global e da soberania regional, em que os países podem usufruir do comércio entre si sem se preocupar com uma disputa de poder entre países vizinhos e de forma a aprofundar suas relações diplomáticas e que as possíveis adversidades sejam rapidamente resolvidas sem o perigo de conflito.
- Referências
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BRAGATTI, Milton Carlos; GONÇALVES, Rubén Miranda. Cooperação na área de defesa na Unasul: um balanço do conselho de defesa sul-americano (cds) e seus limites atuais. Revista de Relaciones Internacionales, Estrategia y Seguridad, Bogotá, v. 13, n. 2, p. 73-95, mar. 2018.
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FUCCILLE, Alexandre. O crepúsculo da cooperação em defesa na América do Sul: muito a perder, nada a ganhar. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ABRI), 7., 2019, Belo Horizonte. Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa.
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NEVES, Angela Nogueira; FRANCHI, Tássio. Orçamento em Defesa e capacidades estratégicas: dissimilaridades entre os países da américa do sul. Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais, Brasília, v. 10, n. 20, p. 175-197, dez. 2021.
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