(RFI) – O Irã alertou os europeus nesta quinta-feira (19) contra a integração da Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica, à lista de organizações terroristas, como pedido pelo Parlamento Europeu. A inclusão deve aumentar tensões entre a União Europeia (UE) e o Irã.
Teerã alertou que tal decisão teria “consequências negativas”, enquanto os assuntos de atrito com a União Europeia aumentam há vários meses no contexto do movimento de protesto no país e da guerra na Ucrânia.
Esta tensão pode atingir um novo nível se a UE concordar com as demandas da maioria dos eurodeputados que pedem para qualificar o Corpo da Guarda Revolucionária (IRGC) como uma “organização terrorista”, como os Estados Unidos fizeram, em 2019.
A decisão, de implementação complexa, cabe ao Conselho Europeu, o único com poderes para aplicar sanções. Alguns Estados-membros declararam-se a favor, enquanto outros são mais cautelosos.
Um quarto pacote de sanções contra o Irã estará no cardápio da próxima reunião de chanceleres, em 23 de janeiro.
A posição dos eurodeputados é “inadequada” e baseada em uma “abordagem emocional”, denunciou o ministro iraniano das Relações Estrangeiras, Hossein Amir Abdollahian, durante uma conversa telefônica com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Para ele, a UE daria um “tiro no próprio pé” ao colocar na lista negra o IRGC, considerado por especialistas como a força militar e de segurança mais poderosa do Irã.
“O IRGC é uma instituição oficial e soberana que desempenha um papel vital na garantia da segurança nacional do Irã e da região, especialmente na luta contra o terrorismo”, explicou o ministro.
Colocá-lo na lista de organizações terroristas “afetaria a segurança, a tranquilidade e a paz”, acrescentou o Estado Maior do Exército iraniano, afirmando que, sem o empenho dos Guardiões, “os governos europeus estariam sob o controle do Daesh”, o grupo do Estado Islâmico ativo em particular na Síria e no Iraque.
Funções da Guarda Revolucionária
Criados em 1979 após a vitória da revolução contra o poder do Xá, os Guardiões (“Sepah-é Pasdaran” em persa) possuem forças terrestres, navais e aéreas com efetivos estimados em mais de 120 mil homens.
Entre as funções atribuídas aos Guardiões estão a segurança do Golfo e do Estreito de Ormuz, por onde passam muitos petroleiros, e a gestão de programas de desenvolvimento balístico.
A resolução adotada pelo Parlamento Europeu enfatiza explicitamente que as forças Quds – que operam fora das fronteiras – e a milícia Basij, ambas afiliadas ao IRGC, devem ser colocadas na lista.
O texto pede a proibição de “qualquer atividade econômica ou financeira” com as muitas empresas controladas direta ou indiretamente pelos Guardiões.
Na emenda aprovada na quarta-feira (18), os eurodeputados culpam o IRGC pela “repressão dos manifestantes” mobilizados contra o poder desde a morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, mas também pelo “fornecimento de drones à Rússia” no quadro da guerra na Ucrânia.
Libertação de cidadãos europeus
Os países europeus também estão mobilizados para obter a libertação de seus cidadãos, incluindo vários com dupla nacionalidade, detidos no Irã.
A França disse na terça-feira (17) que estava “extremamente preocupada” com o estado de saúde de Bernard Phelan, um franco-irlandês de 64 anos, que iniciou uma greve de fome e sede.
Os 27 Estados-membros da UE denunciaram veementemente a execução, em 14 de janeiro, do iraniano-britânico Alireza Akbari, ex-funcionário do ministério da Defesa iraniano condenado à morte por espionagem para os serviços de inteligência britânicos.
Estas tensões vêm reforçar as dificuldades das negociações sobre o nuclear iraniano, que continuam em um impasse, ainda que Borrell tenha afirmado a Abdollahian sua vontade de continuar os “esforços” para chegar a um acordo, segundo o ministério de Relações Exteriores.
(Com informações da AFP)