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Parada no tempo, Coreia do Norte nunca esteve em paz

Druti Shah

A Coreia do Norte nasceu da Guerra Fria entre o Comunismo e o Capitalismo e dela nunca conseguiu escapar, mesmo após o fim do bloco comunista.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Coreia foi libertada de décadas de ocupação japonesa e parecia a caminho de retomar sua independência, com seus aliados do tempo da guerra, os Estados Unidos, a China, a Grã-Bretanha e a União Soviética todos apoiando este objetivo.
 

Forças soviéticas e americanas ocuparam os dois extremos do país em uma período de transição antes de eleições democráticas.

Mas à medida que a cooperação do período da guerra entre a União Soviética e os Estados Unidos se deteriorou, dois Estados bem diferentes surgiram – a República da Coreia, apoiada pelos Estados Unidos, no sul, e a República Democrática da Coreia, ao norte, com um líder, Kim Il-sung, que havia sido treinado pelo Exército Vermelho.

A Coreia do Norte foi uma ''aberração desde o nascimento'', afirma John Everard, ex-embaixador da Grã-Bretanha na Coreia do Norte. ''Foi uma criação de oficiais do Exército soviético que pareciam ter pouca ideia do que consistia a criação de um Estado.''

"Fizeram de Kim Il-sung um líder, mas quando descobriram que ele tinha pouco respeito por parte da população, construíram em torno dele um culto de personalidade stalinista que fez com que o país acabasse sendo governado por um deus-rei, assim como eram os últimos reis da Coreia (antes da ocupação japonesa)'', opina o embaixador.

Guerra da Coreia

Em 1950, a Coreia do Sul declarou independência. A Coreia do Norte, com o apoio da Coreia do Sul e da China, rapidamente invadiu o sul, provocando a Guerra da Coreia, que foi até 1953.

Os Estados Unidos intervieram, temendo que uma tomada da Coreia do Sul pelos comunistas pudesse ter implicações maiores, diz Robert Kelly, professor da Universidade Nacional de Pusan, na Coreia do Sul. ''O temor de Washington era de que, se os Estados Unidos desistissem da guerra na Coreia, houvesse um efeito dominó (com mais países adotando o comunismo) em outras partes da Ásia. Era um risco que eles não podiam correr'', afirma.

Após os combates terem chegado a um impasse, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, e depois seu sucessor, Dwight Eisenhower, usaram a ameaça nuclear publicamente como um meio de pôr fim à guerra.
 

Mas estava claro que Truman não queria que o conflito se espalhasse ou que ele levasse a uma nova guerra mundial. Em 1951, quando o general Douglas MacArthur, comandante das forças americanas no Extremo Leste asiático, publicamente pediu que a China, que apoiava a Coreia do Norte, fosse atacada, ele acabou sendo demitido por insubordinação.

Em 1953, o Acordo de Armistício coreano foi assinado. Era para ser uma medida provisória, que estabeleceu uma zona desmilitarizada, ao longo do Paralelo 38. Mas um acordo de paz permanente jamais foi assinado, e as tensões ao longo da fronteira perduram desde então.

Em seus anos iniciais, a Coreia do Norte prosperou, apoiada tanto pela China como pela União Soviética.

Mas as tensões ao longo da fronteira cresceram com a rápida industrialização da Coreia do Sul e seu crescimento econômico.

"A Coreia do Sul se tornou realmente rica na década de 70, enquanto que a Coreia do Norte permaneceu como um típico exemplo de política stalinista. O país foi bem por um tempo, mas depois começou a fraquejar'', afirma Robert Kelly.

Fim do bloco soviético

Com o fim da década de 80 e o fim da União Soviética, a perda do auxílio fornecido pelos soviéticos foi um duro golpe contra a Coreia do Norte. Além disso, quando a China reconheceu a Coreia do Sul em 1992, a Coreia do Norte se sentiu traída e cada vez mais isolada.

"Sua economia estava em queda livre desde o colapso do bloco soviético'', afirma o escritor e especialista em Coreia do Norte Paul French.
 

"A economia ia mal, a indústria foi reduzida à metade. Os mercados do bloco do Leste sumiram. A agricultura norte-coreana ruiu, e o país enfrentou fome em meados da década de 90", diz French.

O programa nuclear do país, que teve início na década de 60, segundo o ex-embaixador John Everard, se tornou cada vez mais importante.

"À medida que o ambiente internacional se voltou contra a Coreia do Norte, seus líderes começaram a encarar o programa nuclear como garantia de sua existência como um Estado independente''.

O trunfo nuclear

O ''Grande Líder'' Kim Il-sung, seguido pelo seu filho, o "Querido Líder" Kim Jong-il e agora seu neto e "Líder Supremo" Kim Jong-un contaram todos com um importante trunfo – a grande moeda de troca nuclear'', afirma French.

Mas o programa nuclear da Coreia do Norte se tornou a principal fonte de tensão com o Ocidente, e os Estados Unidos e a Coreia do Norte chegaram à beira de um conflito inúmeras vezes.

Um exemplo foi em 1994, durante o governo do presidente americano Bill Clinton, quando Pyongyang seguia violando acordos internacionais sobre inspeções de suas instalações nucleares.

Em 2002, as tensões com a Coreia do Norte ressurgiram quando o governo do país expulsou inspetores nucleares em meio a temores de que o país estava desenvolvendo, em segredo, armas nucleares.

''A Guerra da Coreia ainda não terminou por completo. As velhas inimizades permanecem, ao menos aos olhos de Pyongyang'', afirma Paul French.

"Seul seguiu adiante e se tornou uma próspera democracia. O Norte se manteve como que numa redoma desde os anos 1950, se colocando em uma narrativa histórica como vítima e apenas agora com uma capacidade nuclear que exige a atenção de todos.''

 

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