AP e REUTERS
O Irã e a Coreia do Norte impediram ontem a adoção de um inédito acordo das Nações Unidas impondo mecanismos de controle sobre o comércio mundial de armas – negócio que movimenta anualmente US$ 70 bilhões. ONGs lamentaram profundamente o fracasso dos diplomatas. Para ser aprovado, o texto precisava do apoio de todos os 193 membros da ONU.
O embaixador da Austrália, Peter Woolcott, que presidia a sessão em Nova York, suspendeu os debates quando os representantes de Teerã e Pyongyang indicaram que votariam contra a adoção do tratado. Com a "pausa" tentou-se convencer os dois países a recuar e mudar seu voto.
Defensores do tratado afirmam que ele é a mais ambiciosa tentativa de frear a proliferação de armas ilegais, que alimentam conflitos irregulares e o aumento da violência urbana em todo mundo. Um acordo poderia prever mecanismos para rastrear armamento, além de maior transparência nas transações globais.
ONGs internacionais que acompanham a votação afirmaram que, caso a falta de consenso prevaleça, eles tentarão levar o projeto de resolução à Assembleia-Geral das Nações Unidas, onde devem conseguir facilmente a maioria de dois terços necessária para aprová-lo. No entanto, diplomatas apontam que a medida terá maior peso caso seja adotada por consenso.
O clima até o começo da tarde de ontem era de forte otimismo e a expectativa era a de que o acordo histórico fosse anunciado até o fim do dia – prazo final da negociação. Rússia, China e índia, que mantinham restrições quanto à linguagem adotada, indicaram que não se oporiam ao consenso.
Lobby das armas.
O embaixador do Irã na ONU, Mohamed Khazaee, disse que o rascunho apresentado tinha brechas e era "altamente suscetível a politização e discriminação". O emissário de Teerã disse ainda que o texto ignora as "demandas legítimas" de proibir a transferência de armamento aos que cometem as agressões.
"Como podemos reduzir o sofrimento humano fazendo vista grossa às agressões que custam a vida de centenas de milhares de pessoas", disse Khazaee.
A Síria teme que um acordo desse tipo limite seus canais de suprimento de armas. O regime de Bashar Assad está envolvido em uma guerra civil que, em dois anos, já deixou mais de 70 mil mortos, segundo a ONU.
Uma das maiores ameaças ao tratado não vinha de países considerados "párias internacionais", mas de dentro dos Estados Unidos. A National Rifle Association, poderosa representante do lobby armamentista, opôs-se duramente ao tratado, mas o governo Barack Obama – comprometido em adotar dentro de casa medidas para o controle de armas – decidiu apoiar o acordo global.
A Casa Branca, porém, indicou que não comprometeria os direitos de cidadãos americanos de comprar e portar armas.