O pintor equatoriano Pavel Égüez é um artista multifacetado. Já fez murais, escreveu um livro e organizou eventos no Brasil na condição de adido cultural da embaixada equatoriana em Brasília. Em suas atividades culturais, movimentou recursos públicos e privados e repassou uma parte ou a totalidade deles aos cofres dos terroristas das Farc. Pavel também transmitia informações valiosas sobre os bastidores da diplomacia em Brasília. Pelo menos é o que dizem os e-mails apreendidos nos arquivos digitais do guerrilheiro Raúl Reyes. Em uma mensagem enviada a Reyes em 2007, o representante do grupo no Brasil, Olivério Medina, relata uma proposta que fizera a Pavel. A ideia inicial era promover uma semana cultural em Guarulhos, mas o plano foi alterado quando Medina soube de um telefonema feito pela reportagem de VEJA à Secretaria de Cultura do município. A nova estratégia, então, seria levar o secretário, o vereador petista Edmilson Souza Santos, para Quito. Na capital do Equador, ele assinaria a compra de um mural de Pavel, por intermédio do Cela, um centro de estudos latino-americanos. O contrato incluiria os custos do transporte.
“Essa experiência pode ser de grande utilidade, e de passagem nos deixa uns trocados”, escreve Medina. Em uma mensagem enviada a Pavel, copiada no e-mail para Reyes, o terrorista pede uma participação no negócio: “Com isso, receberemos uma forcinha para o que estamos precisando”. A resposta de Pavel é copiada no texto a Reyes: “Em todos os pontos estou de acordo”. No ano seguinte, Medina escreveu que Pavel concordara com a edição de um livro com fotos de suas obras. “Isso nos deixa outros recursos, pois ele não cobrará direitos autorais”. A mulher de Pavel, Dóris, também negociava com o Equador e as Farc. “Tanto ela como o artista conhecem pessoas bastante próximas e muito amigas do novo presidente e têm a chance de assumir a embaixada em Brasília”, lê-se em um e-mail de 2005. Da embaixada equatoriana em Caracas, onde trabalha há um ano e meio, Pavel negou tudo. “Deve ser erro de interpretação, pois não tenho nenhuma relação com as Farc”, disse a VEJA. Santos, de Guarulhos, diz não se lembrar de Pavel nem de ter se encontrado com as Farc.