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Nostalgia pela figura de Saddam sobrevive no Iraque

Uma década depois da invasão americana, anos de violência e a pouca confiança na atual e dividida classe política, alimentam a nostalgia de muitos iraquianos por Saddam Hussein, o homem que governava com mão de ferro e foi derrubado pelas tropas estrangeiras.

Acusar alguém de ter mantido laços com Hussein é recorrente quando se pretende manchar a reputação de um político no Iraque atual. Porém, residentes de Tikrit, cidade natal do antigo líder, expressam carinho por um homem que é lembrado pela estabilidade que impunha no país e não por ordenar a morte de milhares de pessoas.

"Lembrarei de Saddam com orgulho", disse Khaled Jamal, um vendedor de relógios em Tikrit. "Nosso país não mudou nem se desenvolveu nos últimos dez anos", acrescentou.

Além de sua frustração pelo vagaroso processo de reconstrução, muitos iraquianos – não apenas em Tikrit – sofrem com a má distribuição de serviços básicos e o alto nível de desemprego. Jamal também citou outra frustração muito comum: o aparente aumento do sectarismo desde a queda de Saddam Hussein.

"Não havia sectarismo, nem de sunitas, nem de xiitas", explicou.

"Mas agora essa é a primeira pergunta que se ouve quando você se encontra com alguém", acrescentou em alusão às perguntas sobre a província de origem de uma pessoa, ferramenta para conhecer sua lealdade religiosa.

Saddam Hussein nasceu no dia 28 de abril de 1937 no vilarejo de Al-Qja, logo ao sul de Tikrit, cidade localizada ao norte de Bagdá.

Ativista no agora proibido partido árabe socialista Baath, Hussein foi sentenciado à pena de morte em 1959 por conspirar para o crime do líder iraquiano Abdul Karim Qassem, e era uma das principais figuras do partido quando a organização tomou o controle do Iraque após o golpe militar de 1968. Apesar disso, ele chegou à presidência 11 anos depois.

Na frente doméstica, Hussein – ou Saddam, como era mais conhecido – impôs uma visão secular para o país e se apresentava como um líder árabe que faria frente ao vizinho Irã – uma teocracia muçulmana, mas não árabe -, e era brutal com seus opositores.

Hussein era considerado responsável pela morte de dezenas de milhares de curdos na campanha "Anfal" e de até 100.000 pessoas que fizeram parte da ascensão contra seu regime após a guerra do Golfo de 1991, além de outros massacres.

No âmbito internacional, lutou em uma longa, custosa e sangrenta guerra contra o Irã (1980-1988) com a vista grossa por parte das potências ocidentais e logo invadiu o Kuwait (1990) antes de ser expulso por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos. Foram impostas sobre o Iraque duras sanções econômicas e um embargo comercial.

Saddam já era um pária internacional com a invasão de 2003 e foi capturado em dezembro daquele ano, quando se escondia em uma fazenda, tendo sido enforcado em dezembro de 2006.

Porém em Tikrit, o dirigente é relembrado de uma forma muito mais benevolente, como um líder que lutou pelo Iraque e que estava na vanguarda quando o país desfrutou de uma relativa estabilidade.

Saddam prestou muita atenção em Tikrit às custas de outras cidades do sul do país, o que ao menos lhe garantiu um legado mais favorável em sua cidade de origem.

"É natural que continuemos orgulhosos dele", disse Umm Sara. "Apesar das circunstâncias que atravessava o Iraque, ele dirigiu o país sem problemas".

"Saddam nos ajudou muito, assim que é natural que o veneremos como outros o fazem com Charles de Gaulle", comentou Abu Hussein, referindo-se ao ex-presidente francês.

"Saddam tinha uma forte personalidade. A impôs dentro e fora do país".

Residentes que viveram o caos pós-2003, período em que dezenas de milhares morreram em uma guerra sectária, relembram os tempos antes da invasão quando a violência estava limitada às forças de segurança e os iraquianos podiam, em teoria, escapar de sua fúria.

E apesar de os serviços públicos serem de baixa qualidade, os residentes de Bagdá tinham eletricidade e existia um programa para alimentar os pobres em meio à penúria pelas sanções econômicas.

Na atualidade, os iraquianos dependem de geradores privados para completar o fornecimento elétrico, os empregos são escassos, a corrupção contamina tudo e muitos estão inconformados com os atuais líderes políticos.

"Estou agradecida aos atuais políticos", disse Inês, uma professora 37 anos em Tikrit.

Em referência às dificuldades que enfrentam os iraquianos e as frustrações que sentem, afirmou: "Nos fazem amar Saddam, nos fazem sentir orgulhosos de sua figura, nos provoca, nostalgia daqueles dias".

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