Os avisos existiram, mas integrantes do GSI negam ter tido acesso a eles
Dimitrius Dantas
Portal o Globo
Brasília
28 Abril 2023
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Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante os ataques golpistas de 8 de janeiro, o general Gonçalves Dias alegou ter ocorrido um “apagão” no sistema de inteligência do país, que não o alertou dos riscos de invasão aos prédios públicos. Em entrevistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também citou falha dos órgãos responsáveis por esse monitoramento para justificar a falta de ação das forças federais para conter os golpistas. Documentos, vídeos e mensagens incluídos nas investigações, porém, mostram que os alertas existiram. Integrantes do GSI, entretanto, negam ter tido acesso a eles.
2 de janeiro – (6 dias antes)
Avisos nas redes sociais e grupos bolsonaristas
Após a posse de Lula, a radicalização dos acampamentos bolsonaristas em frente a quartéis do Exército aumentou. Nas redes sociais, surge o planejamento para uma grande manifestação na Esplanada dos Ministérios. O evento é apelidado de “festa da Selma”. Nas redes sociais, convocações são feitas. Essas publicações e a movimentação nos acampamentos eram monitoradas de perto pelas autoridades federais.
5 de janeiro (3 dias antes dos ataques golpista)
Ônibus com manifestantes partem para Brasília
Antes dos ataques golpistas, apoiadores de Bolsonaro começaram a desembarcar em Brasília. Ônibus de diversas regiões do país partiram desde quinta-feira, dia 5. O maior fluxo, porém, foi na sexta-feira, 6, antevéspera dos atos, quando saíram 63 veículos, com 2.538 pessoas. A movimentação era acompanhada pelas forças de segurança e também pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
6 de janeiro (2 dias antes)
Reunião de Planejamento
Integrantes das forças de segurança participam de uma reunião para planejar a atuação para a manifestação. O documento indica que era responsabilidade da Polícia Militar do Distrito Federal “impedir que os manifestantes utilizem objetos, materiais ou substâncias capazes de produzir lesão ou causar dano” e “não permitir o acesso de pessoas e veículos à Praça dos Três Poderes”. O documento indica que impedir o acesso aos prédios públicos já era uma preocupação das autoridades.
A reunião conta com a presença de integrantes da segurança do Supremo e do Congresso, mas não do GSI.
Alerta da ABIN
Dois dias antes da invasão, a ABIN emitiu um alerta para os órgãos ligados ao Sistema Brasileiro de Inteligência. O informe, obtido pelo GLOBO, dizia que havia a convocação de caravanas em diversos estados do país para que se deslocassem à capital federal. O texto revela que elas trariam “manifestantes com acesso a armas e com a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional”. O alerta foi enviado a um sistema integrado por 48 órgãos, entre eles ministérios como o da Defesa, Casa Civil e Justiça. O relatório também foi enviado a um grupo de WhatsApp formado por representantes de diferentes áreas do governo.
7 de janeiro (1 dia antes)
Alerta da Polícia Federal
Reportagem do GLOBO revelou que um dia antes da invasão golpista, no dia 7 de janeiro, a Polícia Federal enviou um documento ao ministro da Justiça, Flávio Dino, indicando que manifestantes acampados em frente ao QG do Exército em Brasília planejavam provocar “ações hostis e danos” ao “Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal”, além de “confrontar as Forças de Segurança”. O documento, assinado pelo diretor-geral da PF, Andrei Passos, aponta que os investigadores identificaram indivíduos dispostos a “tomar o poder”.
Após receber o alerta, o ministro Flávio Dino enviou um ofício ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, relatando os riscos detectados pelo setor de inteligência da PF.
Avisos nas redes
Além dos alertas dos órgãos oficiais, bolsonaristas também deixavam claro nas redes sociais que a intenção era invadir os prédios públicos. Em um dos vídeos, um dos participantes indicava inclusive que a ideia é ultrapassar as barricadas montadas pela PM-DF.
Alerta laranja na segurança do Planalto
Em depoimento à PF, integrantes do GSI afirmam que não receberam os alertas da ABIN na semana que antecedeu o cargo. Segundo Alexandre Amorim, coordenador de Avaliação de Riscos, os agentes de sua coordenadoria receberam a informação de que a manifestação teria cerca de 2 mil pessoas e, por causa disso, avaliou o risco como laranja. Segundo ele, em uma escala de 1 a 4, o risco laranja é o terceiro nível.
8 de janeiro (dia dos ataques)
Novo alerta da ABIN
Horas antes dos atos, a ABIN voltou a alertar que o grupo planejava depredar o patrimônio público e promover atos violentos nas sedes dos Três Poderes. Dentre os órgãos que receberam o alerta estava a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
O reforço na segurança após a barbárie de 8 de janeiro
Pedido de reforço
No dia 8 de janeiro havia 45 agentes do GSI à disposição, além da tropa de choque, segundo depoimentos de integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). De acordo com eles, o primeiro pedido de reforço foi feito às 11h54, antes do início das manifestações. O segundo pedido de reforços, entretanto, ocorreu apenas após o início do confronto dos manifestantes com a PM.