A Venezuela está implodindo – seis suspeitos detidos após suposto atentado

Desta vez foram os "soldados de flanela". Nicolás Maduro já denunciou pelo menos 20 tentativas de golpes de Estado ou atentado em sua vida. Nenhum até agora lhe causou dano.

Pelo contrário: o regime tira novas forças de todos os ataques – ocorridos de fato ou apenas supostos, perpetrados pelo "imperialismo internacional" ou pela "extrema direita" opositora.

Este caso mostra que a Venezuela se encontra não só numa grave crise política e econômica, mas que também chegou aso tempos de "fake news". Porque ainda não está claro se Maduro realmente foi alvo de um ataque com drone.

Bombeiros disseram à agência de notícias AP que a causa da explosão teria sido um tanque de gás num apartamento. Cada incidente como este dá a Maduro uma nova chance de promover uma caçada à oposição, ataques verbais a países vizinhos, como a Colômbia, e uma limpeza em suas fileiras e no Exército.

E cada caso desvia a atenção dos cada vez mais insustentáveis problemas da Venezuela. O episódio de sábado acontece três dias depois de Maduro anunciar uma nova política para gasolina – no meio de um apagão que deixou Caracas por horas às escuras.

Um dia depois de o governo iniciar um censo de veículos no país, com o anúncio de que só quem participar poderá ter acesso às subvenções ao combustível.

Encher o tanque na Venezuela custa menos que um centavo de euro, mas o país, rico em petróleo, precisa importar a gasolina, porque a indústria nacional já há tempos está arruinada.

Há alguns dias, o Fundo Monetário Internacional divulgou a previsão de que a inflação na Venezuela deve atingir 1 milhão por cento. O governo quer, ainda neste mês, promover uma reforma cambial para tirar cinco zeros do bolívar.

Em março já havia retirado outros três zeros. A inflação ignora os processo decisórios de uma ditadura. Além da gasolina, há várias outras coisas subvencionadas na Venezuela – energia, transporte público, alimentos, medicamentos.

Mas falta tudo, porque o país não fatura com as divisas que usa para importação. E a "revolução bolivariana" paralisou a capacidade produtiva nacional. São vários os relatos de hospitais com infraestrutura arruinada, crianças passando fome, emigrantes desesperados.

As tentativas do governo de contra-atacar não resultam apenas ineficazes – elas são ineficazes. A Venezuela está arruinada de tal forma, que pode levar décadas até que o país atinja, pelo menos, o patamar de seus vizinhos.

E, para isso, não ajudam em nada as medidas do regime para afrouxar a política monetária. Num futuro próximo, até os apoiadores do chavismo não poderão mais serem abastecidos.

Poucas coisas podem ser tão perigosas para um governo do que o fim de subvenções. Disso há exemplos em vários países da América Latina – na Venezuela, inclusive.

Nicolás Maduro sabe disso – mas praticamente não poderá evitar esse destino. Seu regime joga a Venezuela de forma certeira no abismo. Isso não é, de forma alguma, motivo para justificar um atentado.

Por trás de Maduro estão vários possíveis sucessores, que, do fim do regime, não podem esperar nada, e sim teriam muito o que temer. O momento de uma implosão se aproxima: o "socialismo do século 21", em algum momento, vai desabar sobre si mesmo.

Venezuela prende seis pessoas após suposto atentado

O governo da Venezuela informou neste domingo (05/08) que seis pessoas foram detidas após uma explosão durante uma cerimônia militar em Caracas que contava com a presença do presidente Nicolás Maduro.

O regime afirma que o episódio foi uma tentativa de assassinato contra o chefe de Estado. "Esclarecemos a situação em tempo recorde, e se trata de um atentado para me matar", disse Maduro horas depois do episódio.

Um dos seis suspeitos detidos tinha um mandato de prisão pendente por um ataque em 2017 a uma base militar, e um segundo já tinha sido preso em 2014 por participar de protestos de rua contra o governo, afirmou o Ministro do Interior, Nestor Reverol.

Os nomes não foram divulgados. A televisão estatal venezuelana mostrou no sábado à noite imagens em que o presidente interrompe um discurso e se assusta com o que parece ser uma explosão. A transmissão também mostrou centenas de soldados correndo. Pelo sete militares ficaram feridos.

Horas depois do episódio, Maduro acusou o presidente da Colômbia de estar por trás do susposto atentado. "Tentaram me assassinar no dia de hoje”, disse.

"O nome de Juan Manuel Santos está por trás deste atentado.” Ele também apontou que as investigações iniciais apontam para um complô de direita. "As primeiras investigações nos indicam que vários dos financiadores vivem nos Estados Unidos, no estado da Flórida. Espero que o presidente Donald Trump esteja disposto a combater grupos terroristas", disse.

Tanto os EUA quanto a Colômbia negaram qualquer tipo de participação. O Ministério de Relações Exteriores da Colômbia rejeitou "enfaticamente as acusações” contra Santos.

"São absurdas e sem nenhum fundamento as alegações de que o mandatário colombiano seria o responsável pelo suposto atentado”, disse o ministério em comunicado.

Já o conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, John Bolton, afirmou "que não houve absolutamente nenhuma participação do governo americano no que aconteceu".

Explosões

Duas testemunhas que estavam na área no momento do incidente disseram ter ouvido e sentido duas explosões, então viram um drone cair e atingir um prédio.

"Eu ouvi a primeira explosão, ela foi tão forte que os prédios se mexeram", disse a professora Mairum Gonzales. "Eu fui para o balcão e vi o segundo avião… ele atingiu o prédio e a fumaça começou a sair."

No sábado, porém, a agência Associated Press, citando bombeiros e outras fontes oficiais, havia apontado que a explosão provavelmente se originou em um tanque de gás do edifício. Um grupo desconhecido chamado "Movimento Nacional dos Soldados de Flanela" declarou ter sido responsável pelo episódio.

"A operação era sobrevoar com dois drones carregados com C4, e o alvo era o palco presidencial. Francoatiradores da guarda de honra derrubaram os drones", diz no Twitter o grupo, cujos membros se identificam como "militares e civis patriotas leais ao povo venezuelano".

Críticos da oposição dizem que o governo já utilizou no passado incidentes como esse como pretexto para endurecer medidas contra opositores, incluindo a prisão de alguns dos mais conhecidos líderes do país.

A Frente Ampla Venezuela Livre, uma aliança opositora, questionou o "confuso evento" em Caracas e pôs em dúvida se o ocorrido realmente foi um atentado.

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