Os Militares na Visão de Hugo Chávez


Os Militares na Visão de Hugo Chávez

 

Prof. Fernando G. Sampaio
Professor de Pensamento Geopolítico e Estratégico

Defesanet publicou as declarações do senhor Hugo Chávez, notório golpista venezuelano, feitas no chamado "Fórum Social Mundial", em Porto Alegre, acerca do papel dos militares na América Latina.

Trata-se de grosseira agressão, pois Chávez, antigo tenente-coronel do Exército Venezuelano, não pode falar sobre o papel dos militares, por ter sido precisamente, um dos que mais notoriamente subverteu este papel, ao dirigir o golpe de estado, fracassado, de 1992.

Que visões ou lições e, ainda, que moral ou ética pode ser extraída da visão de mundo de um golpista?

Somente negativas. E é o que se observa, como comentaremos a seguir:

  1. Ninguém ameaça a Venezuela, seja na América Latina seja no mundo. Logo qual o objetivo desta declaração de Chávez? Seria para uso interno ou para externo? Ou serviria aos dois objetivos?  
  2. Parece-nos que serve aos dois objetivos. No campo interno, Chávez deseja destruir as forças armadas da Venezuela. É um caso de criatura contra o criador. No campo externo, ele deseja abalar a confiança pública no profissionalismo dos militares (em especial os do Brasil) e, assim, instilar um pensamento subversivo, no sentido de colocar militares alinhados com um projeto  populista-ditatorial, que ele chama de "bolivariano", mas que outros crismam de "maoísta".
  3. Por que Chávez se volta contra os seus antigos companheiros? Ora, não devemos esquecer que sua aventura golpista foi resultado da ação de uma minoria oportunista, que não expressava o ponto de vista dos militares venezuelanos e foi por eles combatida e derrotada. Muito pior: o recente episódio em que Chávez foi afastado do poder, em abril de 2002, resultou de um enfrentamento, precisamente com os comandos militares. Com efeito Chávez tinha ordenado aos militares que reprimissem uma manifestação, em Caracas, contra o seu governo. Os chefes militares, porém se recusaram. E argumentaram que, na última vez em que tinham efetuado tal operação, durante o "caracaço", de 1989, no governo de Carlos Andrés Pérez, o resultado foi sangrento e debilitante para o prestígio  e o papel constitucional das Forças Armadas Chávez insistiu na repressão. Os militares fincaram pé na negativa da ação. O Impasse criado levou ao pedido de demissão, sem assinatura e Chávez foi levado pelos militares para um local remoto, ficando o poder vago. Não houve,  portanto, tecnicamente, um golpe, mas um episódio semelhante  à renúncia de Jânio Quadros e, talvez, com os mesmos princípios táticos e estratégicos, ou seja, criar tal confusão que teria de ser chamado, novamente, como salvador. Foi, de fato, o que aconteceu, diante dos desmandos do senhor Pedro Carmona, um bisonho homem de negócios, que assumiu, por acaso, o poder mandatário, se notabilizando por adotar medidas ilegais, ilegais e confusas. Diante de manifestações populares e observando que Carmona era uma nulidade completa, os mesmos militares que haviam desautorado Chávez foram obrigados a  trazê-lo de volta. Mas, ao que se observa não foram perdoados, mais uma vez, pelo senhor Hugo Chávez.
     
  4. Esta é, pois, na origem, em nosso parecer, o posicionamento de Chávez. Ele deseja enfraquecer os militares as forças armadas, tirando-a de suas atribuições e colocando-a em campo como uma espécie de "exército de salvação", ao mesmo em que trataria de criar  uma milícia nacional, armada, que poderia derrotar o exército, como já o fizeram as milícias mineiras na Bolívia, outrora.   
  5. Com isto, Chávez parece preparar o caminho para uma ditadura absoluta e vitalícia, em que o poder das armas migraria dos seus detentores constitucionais ( e que estão jurados para defender uma constituição democrática), para uma massa organizada de partidários seus, que não tem compromissos nem democráticos nem com a totalidade do povo, mas sim como partido de Chávez.
     
  6. Chávez foi muito claro, ao afirmar que os militares devem estar subordinados ao máximo poder político que tem uma nação, que é a vontade popular. Ora, a vontade popular não é um princípio constitucional, mas o resultado da manipulação demagógica de um líder populista ditatorial, que não tem projeto político claro e é um fracasso administrativo e governamental e que visa apenas, sua glória  e poder pessoal, manipulando as deficiências  e ansiedades de um povo sofrido.
     
  7. Nesta manipulação, Chávez, ao lado de um projeto utópico e sem sentido ( o que pode representar, o princípio político de Símon Bolivar, líder do início do século XIX, na luta pela independência colonial, para o mundo unipolar, mas globalizado, do século XXI?), lança mão do expediente gasto do inimigo externo ( o imperialismo americano) para tentar  uma união nacional em torno de sí, colocando-se, objetivamente, acima dos poderes constitucionais, mesmo ampliados, das instituições nacionais – inclusive suas forças armadas – e da Constituição.

Isto tudo só será possível  destruindo o papel do militares, como garantidores dos princípios constitucionais, da legalidade e das liberdade públicas. E Chávez espera que seu exemplo seja seguido pelo resto do continente. Uma tal regressão é possível? É um grande tema para meditação de todos nós, que lhes deixo

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