A Suíça emergiu como país líder na pesquisa e desenvolvimento de drones

Luca Beti / Renata Bitar


“Este é o melhor lugar na Europa para trabalhar com robótica e tornar suas ideias uma realidade”, diz Przemyslaw Kornatowski. “Nesta área, somos realmente bons; tanto que existem empresas deixando os Estados Unidos para se juntarem a nós aqui no que chamamos de ‘Vale do Drone’”, afirma Maximilian Boosfeld.

Ambos são fundadores e chefes de startups na Suíça. Kornatowski está produzindo um drone cercado por uma gaiola protetora para transportar pequenos pacotes. Boosfeld dirige a Wingtra, empresa de 45 funcionários que em 2017 produziu um drone especializado em cartografia e topografia.

A inovação conquista o mercado

O drone da Wingtra foi desenvolvido como parte de um projeto de pesquisa no Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique (ETH Zürich). Seu sucesso se deve à combinação da decolagem vertical de um helicóptero ao vôo horizontal de um avião.

“Essas características nos ajudaram a vencer a competição”, explica Boosfeld. “Nosso drone de asa fixa cobre superfícies maiores que um drone quadricóptero, e pode tirar fotos de alta resolução por ser equipado com câmeras muito sofisticadas”.

O drone da Wingtra é usado em todo o mundo, em grandes projetos de infraestrutura ou em minas a céu aberto, para o monitoramento da construção ou escavação a partir do céu.

Já o drone de Kornatowski foi projetado no Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Lausanne (EPFL). Atualmente, sua startup Dronistics emprega sete especialistas em robótica.

“A nossa máquina pode ser recolhida e manuseada mesmo durante o vôo, sem risco de danos nas pás do rotor”, explica. A caixa de proteção em fibra de carbono permite ser aberta como um pacote. Depois da entrega – de cartas, medicamentos, material de primeiros socorros, ou ainda comida – o drone faz seu próprio caminho de volta para a base graças a um aplicativo desenvolvido por pesquisadores de Lausanne.

“Após o uso, o PackDrone pode ser dobrado e convenientemente armazenado em uma mochila ou uma gaveta”, acrescenta Przemyslaw. “Nossa ideia teve uma boa acolhida e já temos alguns clientes”.

O "PackDrone" da Dronistics voa em sua própria gaiola de segurança, evitando contato perigoso com os rotores (2017 EPFL)

Três razões para o sucesso

Esta história de sucesso não ocorreu por acaso. De fato, há uma crescente cena de startups no Vale do Drone – região entre a EPFL de Lausanne e o ETH de Zurique. Nos últimos anos, mais de 80 pequenas empresas floresceram ali, gerando 2.500 empregos.

Este desenvolvimento tem sido favorecido por vários aspectos: “A Suíça tem duas boas escolas de robótica; a melhor na Europa, se não no mundo. Uma startup deve reunir as mentes mais inteligentes para transformar uma ideia em um produto de sucesso. Isso pode acontecer neste país”, afirma Boosfeld.

“Aqui existem programas e infraestrutura para incentivar projetos inovadores e apoiar startups – sendo um deles o Innosuisse”, observa Kornatowski.

Graças a um ambiente legislativo pragmático, que dá liberdade aos pesquisadores, a Suíça é agora líder em tecnologia de drones. “O governo federal pretende manter o papel pioneiro e quer ver esse setor crescer ainda mais. Para qualquer um que atue na área, isso significa poder trabalhar com um governo de mente aberta que conhece as necessidades de pesquisa e desenvolvimento, evitando o incômodo da burocracia”, diz o CEO da Wingtra.

A palavra “drone” ainda não é usada na legislação suíça. Os dispositivos sem piloto são classificados como “modelo de aeronave”, embora possam fazer muito mais do que voar. Atualmente, o Escritório Federal de Aviação Civil está trabalhando em uma grande revisão dos regulamentos existentes.

O drone "WingtraOne" decola verticalmente como um helicóptero, e pode voar horizontalmente, como um avião (wingtra.com)

Espaço para compartilhar e administrar

Nesse meio tempo, a autoridade federal de aviação também desenvolveu um novo método para avaliar os riscos ligados ao uso de drones, chamado de “avaliação de risco de operações específicas” (SORA). Este é um processo analítico que tem sido estudado no mundo todo. O serviço também se destina a criar um registro destes equipamentos, permitindo que seus proprietários sejam localizados em caso de necessidade.

Cada usuário precisaria registrar sua máquina, que deve ser equipada com um sistema técnico que contenha a identificação do operador. Isso tornaria possível encontrar e impedir qualquer pessoa de participar de atividades ilegais como, por exemplo, violações de privacidade.

Os drones estão ocupando cada vez mais espaço no céu. Na Suíça, 22.000 destas máquinas estão sendo vendidas anualmente e existem cerca de 100.000 delas em operação.

“Há espaço suficiente para todos – pássaros, helicópteros, aviões, paraquedistas – mas precisamos encontrar uma estratégia para que coexistam”, afirma Boosfeld.

Em resposta a este desafio, a Global UTM Association, uma organização não-governamental de Lausanne, criou um sistema para gerenciar o tráfego de drones em nível nacional. O sistema é análogo à Skyguide, que gerencia todas as operações de vôos civis e militares na Suíça.

O nome dessa infraestrutura digital para controlar os drones no ar é U-Space, cuja principal tarefa será regulamentar o tráfego nos céus em áreas densamente povoadas ou perto de aeroportos. Este é um projeto pioneiro para a Europa e está sendo desenvolvido no Vale do Drone na Suíça.

Transporte de amostras de laboratório

Desde março de 2017, a unidade dos Correios de Lugano oferece o primeiro serviço do mundo de transporte independente por drones de amostras para testes laboratoriais. O quadricóptero voa a uma velocidade média de 36 quilômetros por hora (22mph) entre os hospitais públicos italianos e locais. Em caso de falha durante o vôo, um paraquedas é liberado automaticamente.

Após os primeiros ensaios em Lugano, o transporte por drones passou por dez dias de testes entre a cidade de Tiefenau e os Hospitais da Universidade de Berna, no início de junho de 2018.

Em Zurique, por outro lado, um experimento com o transporte de amostras de sangue entre a Clínica Hirslanden e o laboratório central cantonal foi interrompido após apenas um dia de operação. Moradores perto da área de pouso protestaram contra o barulho excessivo dos drones.

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